
Endividamento no agronegócio se agrava com juros elevados, queda das commodities e alta dos insumos; Pedidos de recuperação judicial por produtores rurais crescem 45%
O agronegócio brasileiro, responsável por quase 30% do PIB nacional, enfrenta uma escalada preocupante de pedidos de recuperação judicial. No primeiro semestre de 2025, produtores rurais protocolaram 700 solicitações, contra 320 no mesmo período do ano anterior, o que representa um salto de 45%, segundo reportagem do Poder360.
De acordo com o advogado Euclides Ribeiro Silva, especialista em recuperação judicial do setor, que falou ao Poder360, o principal fator desse aumento é o custo elevado do crédito, em um cenário de juros que chegam a 25% ao ano. “Com juros a 25% ao ano não tem quem produza. Nenhuma atividade consegue arcar com taxas tão elevadas. A recuperação judicial tornou-se a única saída para muitos”, afirmou.
Contexto: crescimento acelerado do endividamento no agro
O ano de 2024 já havia registrado o maior número de recuperações judiciais da década, com 2.273 casos, alta de 61,8% em relação ao ano anterior. No agronegócio, o avanço foi ainda mais expressivo: 138% de aumento, passando de 534 para 1.272 pedidos.
A pressão sobre o campo ocorre em meio a um cenário marcado por:
- queda nos preços das commodities agrícolas – a saca de soja, por exemplo, que em 2022 chegou a R$ 200, foi cotada em R$ 92 em 2025, segundo o advogado Eduardo Berbigier, em entrevista ao Poder360;
- alta do dólar, que encarece insumos importados e pressiona os custos de produção;
- eventos climáticos adversos, que comprometem a produtividade em várias regiões do país.

Especialistas apontam fragilidades estruturais
Embora fatores como clima e volatilidade de preços contribuam para o quadro, especialistas ressaltaram ao Poder360 que o cerne da crise está na ausência de uma política de crédito adequada para o campo. “Com a avalanche de pedidos, cai a narrativa de que são maus pagadores. O problema é estrutural e reflete a falta de suporte financeiro ao setor”, pontuou Ribeiro Silva.
Berbigier acrescentou ao Poder360 que a situação gera um abalo de crédito junto a fornecedores e bancos, uma vez que a inadimplência no campo cresce e aumenta o risco sistêmico. “Não temos fundos de investimentos suficientes para financiar o setor, que depende de cinco bancos”, destacou. Ele também revelou que, dos R$ 12 bilhões em pedidos de recuperação judicial registrados em 2025, cerca de R$ 3 bilhões são do agronegócio.
Riscos adicionais: tributação e barreiras externas
A crise pode se aprofundar diante de novos desafios:
- proposta de taxação de 5% sobre as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), hoje isentas e fundamentais para financiar o setor;
- tarifaço imposto pelos Estados Unidos, que impacta diretamente as exportações. Dos US$ 40 bilhões afetados, US$ 12 bilhões recaem sobre o agronegócio brasileiro.

Recuperação judicial por produtores rurais: Impacto no PIB e risco sistêmico
De acordo com o Cepea/Esalq-USP, em parceria com a CNA, o agronegócio deve representar 29,4% do PIB em 2025, contra 23,5% no ano anterior. Apesar desse peso econômico, os especialistas alertaram ao Poder360 para o risco de colapso se a política de juros não for revista.
“Sem redução da Selic, hoje em 15% ao ano, estamos acabando com a capacidade de produção do país. O risco é sistêmico”, concluiu Ribeiro Silva ao Poder360.
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