Depreciação vira alerta no campo e ameaça patrimônio do pecuarista

Custo invisível, a depreciação cresce de forma silenciosa e pode comprometer resultados de longo prazo nas fazendas, apontam especialistas

A depreciação — conceito muitas vezes ignorado no dia a dia da bovinocultura — tem consumido silenciosamente parte expressiva do patrimônio dos pecuaristas brasileiros. Embora não apareça em notas fiscais nem esteja explícita nos desembolsos mensais da fazenda, trata-se de um custo real, que reduz a riqueza do produtor ano após ano e interfere diretamente na capacidade de investimento do negócio.

Segundo o zootecnista Gustavo Sartorello, entrevistado na série A Conta do Boi, do programa Giro do Boi, muitos pecuaristas não percebem que bens essenciais da operação — como tratores, máquinas, galpões, currais e cercas — perdem valor diariamente, independentemente de estarem sendo pagos ou não. Ignorar esse processo pode causar distorções graves na análise financeira da fazenda e levar à falsa impressão de lucro.

A depreciação como inimiga silenciosa do patrimônio

O especialista destaca que todo ativo agrícola está sujeito à perda de valor ao longo do tempo. Quando isso não é registrado ou considerado no planejamento financeiro, o produtor pode acreditar que seu patrimônio está intacto — quando, na prática, está diminuindo ano após ano.

Um exemplo citado por Sartorello ilustra o problema com clareza:

  • Um trator de R$ 200 mil pode desvalorizar R$ 10 mil em apenas um ano.
  • Se o produtor não contabilizar essa perda, em dez anos terá deixado de registrar praticamente metade do valor que investiu no equipamento.

Como resume o zootecnista, “o patrimônio desaparece silenciosamente”, corroendo a base financeira da atividade pecuária.

Financiamento não elimina a depreciação — e pode ampliar o prejuízo

Outro erro comum apontado por Sartorello é acreditar que, ao financiar um bem, a depreciação deixa de ser um problema. O especialista reforça que a forma de pagamento não altera o fato de que o ativo perde valor, todos os dias, desde o momento em que entra na fazenda.

O risco, explica ele, é o produtor terminar de pagar o financiamento e descobrir que o patrimônio que imaginava possuir já não tem mais o valor correspondente no mercado. Dessa forma, o pecuarista enfrenta simultaneamente:

  • As parcelas do financiamento;
  • A perda de valor do bem;
  • A deterioração do patrimônio real da fazenda.

Isso significa que um mau planejamento pode levar a fazenda a consumir seu próprio patrimônio sem que o gestor perceba, comprometendo investimentos futuros e a sustentabilidade econômica do negócio.

Por que a depreciação deve integrar a gestão financeira da fazenda?

A depreciação não é apenas uma obrigação contábil: é um indicador de gestão. De acordo com Sartorello, não considerar esse custo distorce o resultado final da fazenda e pode levar o pecuarista a tomar decisões baseadas em números irreais.

Ele afirma que custos aparentemente pequenos, como um impacto adicional de R$ 30 por arroba, quando ignorados, podem comprometer toda a margem de lucro da operação.

Por isso, a depreciação precisa entrar no cálculo que compara desempenho x desembolso, permitindo uma avaliação realista da eficiência produtiva e financeira.

Em outras palavras: sem registrar a perda de valor dos bens, a fazenda pode parecer saudável no papel — mas estar perdendo riqueza no mundo real.

Um chamado à profissionalização da gestão pecuária

A mensagem central de Sartorello é clara: o pecuarista precisa enxergar a depreciação como parte do negócio, e não como um conceito abstrato ou desnecessário.

À medida que a pecuária brasileira se torna mais tecnificada e competitiva, a gestão de custos deixa de ser diferencial e passa a ser condição de sobrevivência. A capacidade de prever perdas, repor ativos e planejar investimentos depende de uma contabilidade sólida — e, sobretudo, realista.

Assim, considerar a depreciação é mais que uma recomendação: é uma forma de proteger a saúde financeira da fazenda, manter o patrimônio e preparar o negócio para os desafios de longo prazo.

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