O frango lidera com folga o ranking global, impulsionado pela eficiência e preço. Carne suína se recupera de crises sanitárias, bovina mantém seu valor agregado, e uma categoria surpreende pelo crescimento.
A mesa do consumidor global é um espelho complexo da economia, da cultura e, acima de tudo, da eficiência produtiva do agronegócio. Embora no Brasil o churrasco bovino seja uma paixão nacional, o ranking mundial de consumo de carnes revela um cenário bem diferente. Quando a pergunta é “qual a carne mais consumida no mundo?”, a resposta é direta: é a carne de frango.
O mercado global de proteína animal é uma disputa acirrada, definida por fatores como preço ao consumidor, ciclo de produção, barreiras religiosas e capacidade de conversão alimentar. O Compre Rural analisou os dados consolidados de organizações como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para traçar o panorama definitivo. Esqueça a ideia de que o bife domina. O mundo, hoje, prefere asas e peito.
O Top 5 da Proteína Animal Global
É importante notar que “pescado” (peixes e frutos do mar) é frequentemente categorizado à parte da pecuária (bovinos, suínos, aves), mas, em termos de consumo de proteína animal, é um gigante que não pode ser ignorado. Por isso, nosso ranking o inclui, explicando sua posição.
1. Carne de Frango (Aves)
A medalha de ouro vai, de longe, para a carne de frango (incluindo outras aves, como peru, mas dominada pelo frango). Nas últimas décadas, ela escalou posições e se consolidou como a proteína animal mais consumida no planeta.
Por que lidera?
- Eficiência e Custo: A avicultura industrial possui o ciclo de produção mais curto (cerca de 40 dias para o frango de corte) e a melhor taxa de conversão alimentar, ou seja, menos quilos de ração para produzir um quilo de carne. Isso se traduz no menor preço na gôndola.
- Aceitação Universal: Diferente das carnes suína (restrita pelo Islamismo e Judaísmo) e bovina (restrita pelo Hinduísmo), a carne de frango é amplamente aceita em quase todas as culturas e religiões.
- Versatilidade e Saúde: É percebida como uma opção mais leve e saudável por muitos consumidores.
- O Papel do Brasil: O Brasil disputa a liderança mundial na produção e é, há anos, o maior exportador global de carne de frango, abastecendo mercados exigentes como Ásia e Oriente Médio.
2. Carne Suína
Historicamente, a carne suína foi a número um, muito por causa do consumo massivo na China, que consome metade de toda a carne de porco do mundo. No entanto, o setor sofreu um golpe duríssimo nos últimos anos com os surtos de Peste Suína Africana (PSA), que dizimaram parte do rebanho asiático.
Cenário Atual:
- Recuperação: A produção chinesa vem se recuperando, e o consumo global está retomando sua força.
- Eficiência: A suinocultura também é extremamente eficiente, com um ciclo de produção rápido e boa conversão alimentar, embora um pouco atrás do frango.
- Barreiras Culturais: Seu consumo é concentrado na Ásia (especialmente China e Vietnã) e na Europa.
- O Papel do Brasil: O Brasil se beneficia por ser livre da PSA, o que lhe confere um status sanitário privilegiado. É o quarto maior produtor e exportador mundial, ganhando espaço nos mercados asiáticos.
3. Carne Bovina
Se não é a mais consumida em volume, a carne bovina é, sem dúvida, a que movimenta mais valor e prestígio. O “rei do churrasco” ocupa o terceiro lugar no pódio de consumo.
Desafios e Forças:
- Custo de Produção: É a carne mais cara de se produzir. O ciclo é longo (dois a três anos para o abate) e a conversão alimentar é menos eficiente (mais quilos de pasto/ração por quilo de carne).
- Valor e Status: É associada a refeições de maior valor agregado, cortes nobres e celebrações.
- Desafios de Imagem: A pecuária bovina enfrenta a maior pressão de grupos ambientais devido às emissões de gases de efeito estufa (GEE) e ao uso da terra para pastagens.
- O Papel do Brasil: O Brasil é o dono do maior rebanho comercial do mundo e o líder absoluto nas exportações de carne bovina. O desafio do setor no país é avançar na rastreabilidade e nas práticas de pecuária sustentável (como a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, ILPF) para garantir acesso a mercados premium.
4. Carne Ovina e Caprina
Com um volume global bem menor que as três primeiras, a carne de ovinos (cordeiro, carneiro) e caprinos (cabra, cabrito) ocupa o quarto lugar.
Consumo Focado:
- Cultural: É a base da alimentação em muitas regiões do Oriente Médio, Norte da África, Ásia Central e partes da Oceania (Nova Zelândia e Austrália são grandes produtores).
- Produção Extensiva: Muitas vezes é criada em sistemas extensivos, adaptados a climas áridos onde outras culturas não prosperam.
- O Papel do Brasil: No Brasil, é um mercado de nicho. A caprinocultura é vital para a subsistência no semiárido nordestino, enquanto a ovinocultura de corte ganha espaço no Sul e Sudeste, focada em cortes de maior valor.
5. Pescado (Aquicultura e Pesca)
Aqui o ranking se torna complexo. Se “carne” for definida estritamente como pecuária terrestre, o ranking pararia no número 4. No entanto, se incluirmos todas as proteínas animais, o pescado (peixes, crustáceos, moluscos) é um concorrente formidável.
A FAO aponta que a aquicultura (criação de peixes) é o setor de produção de alimentos que mais cresce no mundo.
Por que cresce tanto?
- Saúde: O consumo é impulsionado pela percepção de ser saudável (rico em ômega-3 e proteínas magras).
- Boom da Aquicultura: A pesca extrativa atingiu seu limite em muitos oceanos; o crescimento agora vem da “pecuária aquática”, como a criação de tilápias, salmão e camarão.
- Volume: O consumo per capita de pescado já supera o de carne bovina em nível global há alguns anos.
- O Papel do Brasil: O Brasil tem potencial aquícola gigantesco, com vastos recursos de água doce. A produção de tilápia, em particular, cresce exponencialmente, colocando o país como futuro gigante também nesta área.
O que Define o Pódio? Preço, Sanidade e Sustentabilidade
Analisando o Top 5, ficam claras as tendências que definem quem alimenta o mundo:
- O Preço Manda: O fator decisivo para o consumidor médio global é o preço. A eficiência imbatível da avicultura a coloca no topo.
- Sanidade é Risco: O mercado global é volátil a crises sanitárias. A Peste Suína Africana redesenhou o mapa da carne suína, e focos de Gripe Aviária são uma ameaça constante à avicultura. O Brasil se destaca por sua robusta defesa sanitária.
- A Pressão da Sustentabilidade: A pauta ESG (Ambiental, Social e Governança) deixou de ser discurso e se tornou uma exigência de mercado, especialmente para a carne bovina. O consumidor quer saber a origem do produto.
Para o agronegócio brasileiro, como um dos únicos países capazes de produzir todas essas proteínas em larga escala, o cenário é de oportunidade. O desafio não é apenas produzir mais, mas produzir com mais eficiência, rastreabilidade e menor impacto ambiental.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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