Sem interessados na planta de Pirenópolis (GO), venda exigida pelo Cade deve ocorrer via leilão no primeiro semestre de 2026, encerrando um dos processos mais longos e complexos do setor de carnes no Brasil, acordo entre Minerva–Marfrig
Quase três anos depois de anunciado, o acordo bilionário entre Minerva Foods e Marfrig ainda não teve seu capítulo final concluído. Avaliada em R$ 7,5 bilhões, a operação que envolveu a venda de mais de uma dezena de frigoríficos segue pendente de um último desfecho regulatório e agora tem prazo estendido até 2026. O motivo é a dificuldade de encontrar interessados em uma unidade localizada em Pirenópolis, em Goiás, cuja alienação foi determinada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como condição para aprovação da transação .
Anunciada em agosto de 2023, a negociação previa inicialmente a transferência de 16 plantas industriais da Marfrig (hoje MBRF) para a Minerva, incluindo unidades no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. No entanto, restrições impostas por órgãos reguladores reduziram o alcance do acordo.
No Brasil, o Cade exigiu desinvestimentos, enquanto no Uruguai a autoridade concorrencial local vetou a venda de três frigoríficos, o que fez com que a Minerva incorporasse, ao final, 12 unidades .
No caso específico de Goiás, o Cade entendeu que a manutenção da planta de Pirenópolis pela Minerva poderia gerar concentração excessiva no mercado de abate e desossa de bovinos no estado. Segundo estimativas do próprio tribunal, caso a unidade fosse mantida, Minerva e JBS concentrariam até 77% das compras de gado para abate em Goiás, um percentual considerado elevado sob a ótica concorrencial.
Embora esteja desativado há anos, o frigorífico de Pirenópolis possui um ativo estratégico relevante: a autorização do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Esse selo é fundamental para a comercialização interestadual e, principalmente, para futuras habilitações de exportação. Em um país onde boa parte dos abates ocorre em plantas com inspeção apenas estadual, um SIF ativo torna a unidade potencialmente atrativa para grupos com foco em mercados externos — ainda que sejam necessários investimentos para a retomada das operações .
Para viabilizar o chamado remédio concorrencial, o Cade estabeleceu um prazo de 24 meses para que a Minerva encontrasse um comprador para a planta goiana. Como não houve interessados no primeiro ano, o órgão autorizou a contratação de uma consultoria independente, responsável por definir um valor mínimo de referência para a realização de um leilão, previsto agora para ocorrer até o fim do primeiro semestre de 2026.
Mesmo assim, o próprio Cade reconhece que o cenário pode não mudar. Caso o leilão também não desperte interesse do mercado, a Minerva poderá permanecer com o ativo, sem que isso represente descumprimento da decisão. O conselheiro-relator do caso, Carlos Jacques, indicou que, nesse contexto, o tribunal não deve reabrir a discussão sobre a operação.
Enquanto isso, Goiás segue como um dos polos mais estratégicos da pecuária nacional, reunindo oferta robusta de bois terminados, logística favorável e presença das grandes processadoras de carne do país. No desenho final da operação, a Minerva permanecerá com duas plantas no estado, localizadas nos municípios de Mineiros e Palmeiras, consolidando sua atuação regional enquanto aguarda o encerramento definitivo de um dos negócios mais emblemáticos do setor de proteínas nos últimos anos.
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