Dia Mundial das Zoonoses: conscientize-se!

O dia 6 de Julho é o Dia Mundial do combate à Zoonoses, marco que faz referência à data que o cientista francês Louis Pasteur aplicou a primeira vacina contra raiva.

Quando se pensa em zoonoses o medo é geral. Especialmente quando se pensa que se pode perder animais ou colocar sua família em risco. Brucelose e Tuberculose são as doenças que mais assustam, pois implica no sacrifício dos animais. O dia 6 de Julho é o Dia Mundial do combate à Zoonoses, um marco que faz referência à data que o cientista francês Louis Pasteur aplicou a primeira vacina contra raiva, conhecida como antirrábica, em um garoto de 9 anos que havia sido mordido por um cão infectado pelo vírus.

De fato, a saúde humana e animal estão indissoluvelmente ligadas. Nós humanos dependemos dos animais para a companhia, produção de alimentos e para desenvolver pesquisas e etc. Por isso o motivo desse dia ser importante, principalmente para aqueles que lidam com os animais diretamente. Basicamente, zoonoses são as doenças transmitidas pelos animais a nós humanos e precisamos de atenção neste assunto. 

Segundo a professora da Universidade de Lavras (UFLA) e médica veterinária Dra. Elaine Dorneles: “Quando se pensa em zoonose, é comum inicialmente pensar na raiva, por ser a doença de maior letalidade que se conhece. No entanto, existem inúmeras outras doenças zoonóticas igualmente importantes não só pela letalidade, mas em números de indivíduos acometidos e prejuízos causados à sociedade e à saúde pública. Nesse cenário temos a Brucelose , a Tuberculose, a Febre do Nilo, a Hantavirose e a Leptospirose, por exemplo.”

Brucelose ainda é um fantasma?

Elaine relata que: “Entre essas doenças, a que mais me dedico pesquisando o aspecto zoonótico é a Brucelose. O que encontramos em pesquisas recentes, é que a Brucelose é uma zoonose que acomete um grande número de pessoas, principalmente aqueles que têm o contato com os animais no dia a dia como retireiros, fazendeiros e técnicos como os veterinários. Assim, a doença pode ser considerada sim um fantasma, por atingir um grande quantidade de pessoas, mas é notada e sentida como uma doença de menor relevância pela população em geral. Isso acontece pelo baixo acesso ao diagnóstico, pela baixa taxa de suspeita clínica pelos médicos – uma vez que os sinais clínicos são pouco específicos e considerando que no Brasil, não temos a Brucella Melitensis – espécie que causa sinais clínicos mais severos – do que a Brucella abortus – espécie mais circulante aqui no país.”

Aumento da incidência de zoonoses

Algumas ações humanas podem aumentar o número de casos na população e “As que elevam a incidência de doenças zoonóticas estão relacionadas com o contato íntimo e direto com os animais, e em muitos casos, animais silvestres. O aumento do ecoturismo, a facilidade de viagens internacionais, o desmatamento, a maior interferência do homem em ambientes naturais, a criação de animais silvestres como pet e a produção intensiva dos animais de produção são alguns exemplos. Tudo isso favorece o surgimento de novos patógenos. Quando se trabalha com ações de biosseguridade, a gente consegue diminuir o efeito dessas ações, não cessar, mas diminuir. Quando a gente trabalha com, por exemplo, telagem, granjas, distanciamento de regiões silvestres, tudo isso diminui as chances do encontro dos animais domésticos com potenciais patógenos.” – explica Elaine.

Prejuízos à produção animal

Quando se pensa em prejuízos do ponto de vista da produção animal e em quais doenças podem levar ao sacrifícios dos animais, algumas dúvidas e medos podem surgir. A professora ressalta que: “Nós temos hoje especialmente a Brucelose e a Tuberculose bovina que são doenças zoonóticas que quando diagnosticadas vão implicar no sacrifício deste animal. As regras vão variar de estado para estado no Brasil, mas de maneira geral o Programa Nacional de Controle de Brucelose e Tuberculose, estabelece que o animal positivo para essas doenças precisa ser eutanasiado/abatido. No Brasil como um todo, não se tem muitas regras de compensação dos prejuízos aos produtores. Até existem algumas iniciativas de fundos que arcam com o prejuízo, mas ainda é incipiente. Então, o melhor a se fazer é melhorar a sanidade dos rebanhos no que diz respeito a essas doenças. Vale ressaltar que os animais que estão transitando com fins de reprodução, que vão para leilão, exposição, feiras precisam ser testados e testar negativo. Ainda, é importante que o produtor ao adquirir novos animais faça o teste.”

A vacinação é um caminho?

“Entre as zoonoses que podem ser evitadas com a vacinação, nós temos a Brucelose e a Leptospirose, como exemplo. Elas têm vacinas disponíveis no mercado e são eficientes. A vacinação contra Brucelose para os produtores tanto de leite quanto de carne é obrigatória. Para a Leptospirose a vacinação não é obrigatória, mas é recomendada. Para raiva também, nos estados em que ela é endêmica recomenda-se a vacinação a partir dos 4 meses com reforço anual. Então são essas as zoonoses que nós conseguimos evitar com a vacinação e infelizmente para Tuberculose não há vacinação para bovinos, mas para humanos sim.” – explica a professora. 

Manejo de novos animais

Comprei novos animais e agora? Para evitar que casos de zoonoses se espalhem no rebanho, Elaine afirma que “É importante sempre fazer os testes antes da aquisição de qualquer animal e de preferência que esses testes sejam feitos na origem, ou seja, lá na propriedade onde você pretende adquirir os animais. Depois, é importante que você refaça o teste quando os animais chegam a sua propriedade. Por que deveríamos fazer isso? Porque todas as doenças têm o que chamamos de período de incubação – que é o tempo entre o animal ter contato com o agente e ele desenvolver a doença. Então, se testar apenas uma vez pode ser que naquele dia o animal esteja no período de incubação e assim, não seja diagnosticado. O ideal é testar na origem quando compra e testar no destino na fazenda, quando ele estiver em quarentena. Sendo assim, é importante que a fazenda tenha um local separado (piquete, baia) para que possa testar antes de misturá-lo com outros animais. 

E se a gente encontrar um animal suspeito pra alguma dessas doenças, o que precisamos fazer? Primeiro passo é tomar cuidado com a manipulação desse animal. Animais suspeitos de raiva, por exemplo, precisamos tomar cuidado principalmente com a saliva e para qualquer outro animal tem que se ter cuidado e evitar contato com fluídos corporais, sangue, fezes, restos placentários, tudo isso é fonte de contaminação para os humanos. Assim, o ideal é se proteger usando equipamentos de proteção individual (luvas, máscaras, avental, roupa de manga comprida e botas) e claro, procurar ajuda de profissionais especialistas que te auxiliará na confirmação desse diagnóstico e te instruirá.”

As doenças aqui apresentadas são graves e por essa razão estão sob legislação no país. Logo, o mais inteligente é aquele que estuda e se previne para não viver assombrado com a possibilidade de alguma delas surgir no rebanho e implicar na perda de algum animal ou pior, no contágio do consumidor ou de alguém na fazenda. Há vacinas, há exames, há excelentes técnicos que podem te ajudar.

Fonte: MilkPoint

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM