Tratamento parasitário em bovinos sempre será um desafio, qual o melhor: Remédios convencionais, homeopáticos ou fitoterápicos?
Uma pesquisa realizada pela Embrapa e concluída recentemente comprovou a eficácia dos remédios convencionais em relação aos medicamentos homeopáticos e fitoterápicos para bovinos de corte.
Após dois anos de experimentos conduzidos em Campo Grande (MS), pesquisadores da Embrapa concluíram a avaliação do uso da medicina homeopática, fitoterápica e alopática (convencional) no controle de parasitas em bovinos de corte.
Carrapatos Rhipicephalus (Boophilus) microplus, moscas-dos-chifres (Haematobia irritans), nematódeos e bernes eram os alvos dos especialistas. O ganho de peso dos animais também foi aferido pelos médicos-veterinários João Batista Catto e Ivo Bianchin.
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As 180 novilhas da raça Brangus, com idade entre sete e nove meses de idade, foram distribuídas em lotes tratados e não tratados com três repetições espaciais de 12 animais, em uma área total de 60 hectares. O uso dos produtos respeitou as recomendações dos fabricantes e, em dois ciclos experimentais de, aproximadamente, dez meses, os pesquisadores fizeram, a cada 28 dias, pesagem, coleta de fezes, contagem de carrapatos, bernes e moscas.
Parasitologista, Catto explica que para os nematódeos, o número de ovos por grama de fezes (OPG), diminuiu com a idade dos animais em todos os lotes, resultado da aquisição de imunidade. Nos dois anos de estudo, as novilhas tratadas com antihelmíntico convencional apresentaram OPG significativamente mais baixo que as não tratadas ou que receberam os demais tratamentos. Entretanto, não houve diferença entre as médias de OPG dos animais não tratados com os em homeopatia ou fitoterapia.
Para os carrapatos, no primeiro ciclo, os bovinos em controle alopático estavam, consideravelmente, menos parasitados que os outros. No segundo ano, permaneceram assim. Os pesquisadores contam que em dezembro, no primeiro ano, houve um pico de infestação por larvas de carrapato que provocou miíases (infecção de pele) em 25% das novilhas sem tratamentos e com protocolos homeopáticos, 19,4% naquelas com protocolo à base de plantas e 2,8% nas com alopatia.
Em relação à mosca-dos-chifres, não houve diferença relevante na infestação entre os lotes não tratados e tratados. Os resultados indicam que após o tratamento pour on com óleo da planta nim o efeito repelente não durou mais que 16 horas. Já a duração ficou entre sete e dez dias com acaricida convencional. Nos dois períodos testados as infestações médias foram baixas, com picos em novembro e dezembro no primeiro ciclo, e no mês de novembro no segundo.
Ganho de peso
Os estudos também evidenciaram que as novilhas tratadas com os medicamentos alternativos distintos não tiveram diferença no ganho de peso com as não tratadas. A diferença apresentou-se entre os animais tratados estrategicamente com alopatia (antihelmíntico e acaricidas) e os demais protocolos. Na média dos dois anos, o grupo com os antiparasitários convencionais teve ganho de peso vivo de 22 a 30 kg a mais que os não tratados ou tratados fitoterapica ou homeopaticamente.
Resistência
A procura pela medicina alternativa surge pela resistência aos antiparasitários convencionais utilizados erroneamente e a sazonalidade das parasitoses. Os pesquisadores João Catto e Ivo Bianchin esclarecem que o uso equivocado das estratégias de controle alopáticas leva o tratamento a ineficácia. “O mau uso tem resultado na falência dos produtos e a principal causa está em se usar o produto em épocas e categorias animais inapropriadas. Por exemplo, no controle dos helmintos de bovinos, se os animais estão bem nutridos não há necessidade de tratamento acima dos 20 meses de idade. Além disso, deve-se concentrar o tratamento no período seco do ano”, ressalta o parasitologista Ivo Bianchin.
A comercialização sem prescrição de um médico-veterinário é outro fator que reforça a tese. “Estudos mostram que a tomada de decisão dos produtores sobre quando e qual produto antiparasitário a ser utilizado decorre da opinião do vizinho, indicação dos atendentes das casas de comércio e, claro, preço do produto”, complementa Catto.
Produtor rural por 35 anos, Arno Seemann ratifica o hábito e afirma que a falta de conhecimento é outra responsável pelo erro.
“O produtor tem que entender que não somos mais criadores de gado, somos produtores de carne e a carne precisa ter qualidade e isso passa pela sanidade animal e pelo conhecimento”. Seemann disponibilizou as novilhas para as pesquisas da Embrapa por acreditar que os resultados beneficiariam o segmento.