Escore de cocho: Técnica conhecida, mas pouco utilizada

Assim como o Escore de Condição Corporal (ECC), ou qualquer outro, ele adota a medição através de um grau de variação.

O Escore de Cocho é uma ferramenta bem difundida no meio técnico, porém muito utilizada na pecuária de corte e pouco adotada na pecuária de leite.

Quando falamos que o escore de cocho é pouco utilizado na pecuária de leite, dizemos isso pois o que acompanhamos no campo são propriedades onde os funcionários não conhecem tal protocolo, ou que em sua maioria utilizam de tal procedimento de forma incompleta/inadequada.

É muito comum chegar em fazendas onde os funcionários dizem “a gente ajusta o trato de acordo com a sobra” ou “tem dia que elas comem mais mesmo”, o fato de se observar a variação de alimento no cocho já é o início de um trabalho. Porém, o que falta nestes casos são as avaliações que causam essas variações e os problemas que podem vir a causar.

Alguns pontos devem ser observados quando falamos em variações de consumo ou ingestão de alimentos:

  •  Qualidade dos alimentos fornecidos na dieta, é importante que sejam alimentos dentro dos padrões.
  •  Quantidade fornecida, ou seja, balanceamento dessa dieta de acordo com a exigência dos animais do lote. Aqui levamos em conta, quantidade de nutrientes, número de tratos, etc.
  • Homogeneidade do lote, fator que muitas das vezes não é levado em conta dentro de uma propriedade.
  •  Interpretação das variações de consumo e suas implicações praticas.

As fazendas, como dito anteriormente, fazem ajuste na quantidade fornecida sem avaliar ou interpretar o que está causando essa variação. Dessa forma, é muito comum que animais neste tipo de sistema apresentem o que chamamos de consumo cíclico, ou seja, alta ingestão hoje e baixa ingestão amanhã e assim sucessivamente. Mas então o que causa tal comportamento?

Uma possível causa é adoção de dietas com alta capacidade de elevação da produção de ácidos no rumem, os ácidos graxos voláteis (AGV´s). Sendo assim, deve-se evitar alta ingestão dessas dietas, pois a mesma pode causar queda excessiva de pH ruminal, além de danos ao ambiente ruminal, caracterizando uma acidose subclínica, na maioria dos casos (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003).

Os animais, utilizam de mecanismos de redução de consumo como forma de “regularizar” os níveis de pH no rumem, ou seja, a redução no consumo hoje leva ao que chamamos de “bem-estar”, e dessa forma o animal tende a voltar a consumir grande quantidade da dieta novamente, o que acaba gerando uma nova queda excessiva do pH, caracterizando o consumo cíclico.

Quando falamos da parte econômica, essa avaliação se torna ainda mais importante já que sabemos que a nutrição é fator importante, para não usar a palavra determinante, na produção de leite. Porém, este assunto será abordado com mais detalhe na próxima publicação.

Mas então, como realizar a leitura das sobras no cocho? Qual medida adotar de acordo com a nota dada na avaliação? Vamos avaliar cada nota e como devemos proceder, lembrando que a uma hora antes de realizar o novo trato é a melhor hora para se fazer a leitura de cocho:

  • Escore 0: Sem alimento;
  • Escore 1: Alimento espalhado, maior parte do aparente (menos que 5% da quantia fornecida);
  • Escore 2: Fina camada e uniforme no fundo do cocho (5 a 10% da quantia fornecida);
  • Escore 3: Média camada no fundo do cocho (cerca de 25% da quantia fornecida);
  • Escore 4: Grossa camada no fundo do choco (cerca de 50% da quantia fornecida);
  • Escore 5: Alimento intacto.

OBS.: Os níveis das camadas, deve levar em conta o tipo de alimento fornecido, tamanho das partículas desse alimento, principalmente no que diz respeito ao volumoso utilizado.

Definimos como fazer a leitura, mas agora precisamos definir o que é preciso fazer com essas informações. O que tem se observado entre os técnicos é que o Escore 2 é considerado o ideal. Em situações onde são encontrados os escores 0 e 1, recomenda-se aumento na quantidade de alimento fornecido no cocho pois caracteriza que os animais estão passando por um processo de “sub” ingestão de nutrientes. Esse tipo de escore quando corrigido, possibilita aos animais expressarem seu potencial genético.

Figura 1 – Vacas após a ordenha sendo alimentadas com dieta total. Foto Divulgação.
Figura 2 – Sobras encontradas no cocho antes do trato da manhã. Foto Thiago Pereira

Quando encontramos escores 3 e 4, conforme Figura 3, é sinal de que a dieta fornecida está “super” estimada para o lote, ou seja, a quantidade é maior do que aquela necessária. Outro fator a ser observado nesses casos, assim como no escore 5, é algum problema clínico que o animal possa apresentar que o esteja levando a tal comportamento. Animais com acidose subclínica, claudicação ou até mesmo no CIO tendem a reduzir o consumo.

Figura 3 – Dieta superestimada para o lote. Foto: Thiago Pereira
Figura 4 – Baixa qualidade da dieta fornecida aos animais. Foto: Thiago Pereira
Figura 5 – Dieta foi fornecida de forma heterogênea. Foto: Thiago Pereira

É preciso deixar claro que estamos trabalhando com um parâmetro subjetivo, ou seja, o treinamento de quem fará a leitura do cocho é de suma importância já que ele quem irá definir os pontos a serem observados e avaliados. Uma recomendação é que seja feito por quem realiza o trato, pois ele está em contato direto com os animais e acompanhamento dos tratos.

Quando bem utilizado, o escore de cocho se torna ferramenta eficaz e eficiente para ajudar no manejo nutricional e sanitário da propriedade, além de evitar perdas econômicas com sobras excessivas.

De forma pratica, são listados abaixo, algumas sugestões para manejo do cocho:

  1. Adequar o tamanho do lote, respeitando o tamanho de cocho disponível.
  2. Quando for realizar o ajuste da dieta, fazer o aumento de forma gradativa.
  3. Reajuste de formulação deve ser feito de forma gradativa e sempre ser atualizado no banco de registros.
  4. Verificar periodicamente o teor de MS da dieta.
  5. Verificar a granulometria dos alimentos, já que o tamanho da partícula tem influência direta no pH ruminal.
  6. Espalhar a dieta fornecida por todo o cocho, e no mesmo horário.
  7. Lembrar que o clima tem influência sobre o consumo de alimentos.
  8. Verificar e estabelecer rotina de limpeza dos bebedouros, disponibilizando água de qualidade aos animais.
  9. Os cochos devem ser limpos diariamente, sobras deixadas por muito tempo são portas para as toxinas.

Em resumo, quando realizamos a leitura do cocho de forma correta e rotineira, estamos reduzindo os problemas de acidose e aqueles relacionados a ela, além disso aumentamos a eficiência e reduzimos os custos de produção.

Não perca a próxima matéria onde iremos abordar, dentro desse tema, a influência econômica e ainda um pouco mais sobre nutrição e seu resultado no escore de cocho dentro das propriedades leiteiras.

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