Estão “gabiruzando” o Nelore brasileiro e o prejuízo já está aparecendo, alerta especialista

Empobrecimento de carcaça, perda de funcionalidade e registros equivocados acendem sinal de alerta na base da pecuária de corte; Essa junção de fatores reforça a ideia de que estão “gabiruzando” o Nelore brasileiro e o prejuízo já está aparecendo

A pecuária brasileira, reconhecida mundialmente como uma das maiores e mais eficientes produtoras de carne bovina, vive um momento de atenção e preocupação dentro da própria base genética do seu principal pilar: o Nelore. Em viagens técnicas recentes pelo interior de Goiás, Paulo Leonel, jurado consagrado, técnico respeitado e referência histórica na seleção da raça, fez um alerta direto ao mercado: o Nelore brasileiro está perdendo carne, estrutura e funcionalidade, reflexo de um processo de seleção que, segundo ele, se afastou do padrão ideal de um gado verdadeiramente voltado ao corte.

Com décadas de atuação na pecuária zebuína, Paulo Leonel construiu sua trajetória como formador de critérios técnicos, especialmente nos julgamentos oficiais, onde ajudou a consolidar parâmetros que influenciaram gerações de criadores e técnicos. Seu olhar sempre esteve voltado para o Nelore funcional, equilibrado, produtivo e adaptado às condições brasileiras — e não apenas para um padrão estético vazio. Agora, ele alerta que os efeitos de escolhas equivocadas já estão aparecendo a campo e começam a gerar prejuízos econômicos e produtivos ao produtor rural.

Segundo o especialista, o problema é resultado de uma combinação perigosa de registros genealógicos equivocados, acasalamentos mal conduzidos e discursos técnicos que tentam justificar defeitos evidentes. O impacto surge exatamente onde o futuro do rebanho é construído: nas matrizes e na bezerrada.

Empobrecimento visível da carcaça do Nelore preocupa técnicos e produtores

Para Paulo Leonel, basta uma avaliação criteriosa no campo para perceber que algo está errado com parte do Nelore atual. Dorso pobre, contrafilé sem expressão, dianteiro fraco, paletas vazias e peças miúdas tornaram-se características cada vez mais frequentes em animais que deveriam sustentar a produção de carne no país.

“O empobrecimento de carcaça está claro. As mãos estão ficando curtas, o dorso sem carne, a paleta pobre. O gado que era Nelore de corte, cara limpa, está virando um branco comum, muito ruim”, alerta.

Além da perda de musculatura, surgem problemas estruturais graves: animais barrigudos, miúdos, com desequilíbrio corporal, selamento excessivo e perda de harmonia, sinais inequívocos de que a seleção falhou exatamente onde não poderia falhar — na base produtiva da pecuária de corte.

Registro errôneo na origem agrava o problema

Um dos pontos mais sensíveis destacados por Paulo Leonel é o papel do registro genealógico, que deveria atuar como filtro técnico de qualidade, mas que, segundo ele, vem permitindo a entrada de animais longe do padrão ideal da raça.

“Isso vem da base do registro errôneo que está sendo feito. A entidade precisa se atentar ao padrão e voltar a registrar o ideal”, afirma.

Quando animais com falhas estruturais e baixa expressão de carne são registrados e passam a ser utilizados como reprodutores ou matrizes, o efeito é cumulativo. O rebanho como um todo perde eficiência, comprometendo ganho de peso, rendimento de carcaça, precocidade e, no fim da cadeia, a rentabilidade do sistema produtivo.

O mito do “bezerro que arruma com o tempo”

Outro ponto duramente criticado pelo especialista é um discurso cada vez mais difundido no mercado: o de que bezerros podem nascer desproporcionais — com traseira mais alta, dorso irregular e estrutura desequilibrada — e que isso se corrige com a idade. Para Paulo Leonel, essa narrativa serve apenas para encobrir erros graves de seleção e acasalamento.

“Isso é para esconder defeito e falta de conhecimento. O bezerro nasce pronto. Ele só cresce, só desenvolve”, enfatiza.

Ele compara essa justificativa a um absurdo biológico e reforça que a estrutura correta deve estar presente desde o nascimento, com dorso plano, aprumos corretos, equilíbrio corporal e boa expressão de carne.

Bezerro bem feito nasce bem feito

Ao observar vacas paridas com suas crias ao pé, Paulo Leonel reforça um conceito clássico da pecuária funcional, muitas vezes esquecido: bezerro bom nasce pronto. “O dorso da bezerrada é plano, o aprumo é perfeito, a garupa correta. Não tem outra coisa para acontecer com ele além de crescer”, afirma.

Esse tipo de animal representa exatamente o que a pecuária de corte precisa: eficiência desde cedo, melhor conversão alimentar, menor tempo de engorda e maior retorno econômico ao produtor.

“Falsos profetas” e prejuízo à pecuária

O alerta vai além da crítica técnica. Segundo Paulo Leonel, há hoje no mercado uma proliferação de discursos teóricos desconectados da realidade do campo, propagados por pessoas que influenciam decisões de seleção e acasalamento, mas que acabam provocando prejuízos expressivos à pecuária brasileira.

“Tem muito falso profeta ensinando errado e dando muito prejuízo à pecuária. Não é pouco, não”, reforça.

O risco, segundo ele, é comprometer décadas de evolução genética do Nelore brasileiro, raça que sustenta a maior parte da carne produzida no país e que sempre foi reconhecida por sua rusticidade, musculatura, funcionalidade e adaptação ao ambiente tropical.

Alerta ao mercado: voltar ao Nelore funcional

A mensagem final do especialista é clara e direta: é preciso resgatar o Nelore de corte funcional, aquele que alia padrão racial, carne, estrutura, fertilidade e eficiência produtiva. Isso passa por registros mais criteriosos, seleção responsável e menos tolerância a justificativas técnicas que não se sustentam na prática.

“Quem cria gado Nelore precisa se atentar a isso. Olhar o animal, olhar a bezerrada, olhar a vaca parida. É ali que se constrói o boi de corte”, conclui.

O alerta está feito. E, segundo Paulo Leonel, o prejuízo de ignorá-lo já começou a aparecer a campo.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM