Rebanhos que adotam calendário reprodutivo conseguem aumentar em até 35% a produtividade por matriz ao ano, transformando eficiência reprodutiva em lucro sustentável
Na pecuária de corte, a reprodução é um dos principais determinantes da rentabilidade. Estudos da Embrapa demonstram que 60% a 65% dos custos totais da atividade estão diretamente relacionados à eficiência reprodutiva. Isso significa que cada decisão durante a estação de monta pode definir se uma propriedade terá resultado positivo ou prejuízo ao final do ciclo.
No Brasil, ainda é comum que cerca de 80% dos bezerros sejam produzidos sem calendário reprodutivo definido, o que compromete o planejamento, reduz a uniformidade dos lotes e diminui o aproveitamento estratégico das pastagens.
Vantagens da concentração da reprodução
Concentrar os acasalamentos entre novembro e fevereiro – período que coincide com o início das chuvas – traz benefícios zootécnicos e econômicos:
- Previsibilidade de partos e desmamas, permitindo melhor organização da fazenda.
- Maior disponibilidade de forragem para vacas em lactação, favorecendo tanto a produção de leite como o retorno da ciclicidade reprodutiva.
- Menor risco sanitário: bezerros nascidos no período seco apresentam até 30% menos casos de pneumonia neonatal e parasitas externos.
- Maior controle zootécnico: enquanto rebanhos sem calendário registram intervalos de até 20 meses entre partos, os que concentram a reprodução reduzem para 14–15 meses, o que representa 30% a 35% mais produtividade por matriz ao ano.
Estratégias de Reprodução
Monta natural: baixo custo e ampla utilização
A monta natural responde por cerca de 85% das coberturas nos rebanhos brasileiros. Seu sucesso está associado à simplicidade, baixo custo e necessidade reduzida de infraestrutura. Porém, a eficiência depende de práticas mínimas de manejo:
- Exame andrológico dos touros é essencial, já que aproximadamente 20% dos reprodutores apresentam algum grau de infertilidade.
- Em condições adequadas de manejo, as taxas de prenhez variam de 65% a 80%.
A limitação está no menor controle genético, motivo pelo qual muitos produtores utilizam a monta natural como repasse após inseminações artificiais.
Inseminação artificial com observação de cio: genética superior, mas manejo intensivo
A inseminação artificial convencional permite introdução de genética superior sem a necessidade de manter touros de alto valor na propriedade.
- Custo do sêmen: R$ 20 a R$ 80 por dose.
- Infraestrutura mínima: botijão de armazenamento (R$ 4.000 a R$ 6.000) e aplicadores.
O grande desafio é a detecção do cio, que deve ser realizada ao menos duas vezes ao dia. Em sistemas extensivos, a limitação de mão de obra reduz a eficiência, resultando em taxas de prenhez entre 40% e 55%. Assim, a técnica é indicada para propriedades com maior controle de manejo e interesse em introduzir genética de forma gradual.
Inseminação artificial em tempo fixo (IATF): padronização e antecipação dos partos
A IATF é hoje uma das biotecnologias mais aplicadas na pecuária nacional, utilizada em mais de 14 milhões de matrizes por ano.
- Custo por fêmea: R$ 50 a R$ 120, variando conforme protocolo e sêmen.
- Taxas de prenhez médias: 50% a 65%, podendo chegar a 70% em rebanhos bem manejados.
Principais vantagens:
- Dispensa a observação de cio, graças à sincronização hormonal da ovulação.
- Uniformidade dos lotes, com maior número de bezerros nascidos logo no início da estação.
- Impacto econômico direto: ao sincronizar 100 vacas, é possível obter de 55 a 65 prenhezes no primeiro mês, resultando em partos antecipados e bezerros até 25 kg mais pesados à desmama, o que equivale a R$ 750 adicionais por cabeça.

Transferência de embriões (TE) e produção in vitro (PIV): biotecnologia para elite genética
Voltadas à multiplicação rápida de animais superiores, a TE e a PIV são ferramentas estratégicas em programas de carne premium e seleção de reprodutores.
- Custo médio da TE: R$ 250 a R$ 350 por transferência, com taxas de prenhez de 40% a 50%.
- Custo da PIV: R$ 500 a R$ 800 por prenhez, com taxas de 35% a 45%.
- Retorno potencial: uma vaca doadora pode gerar de 20 a 30 prenhezes por ano, contra apenas uma em sistemas convencionais.
Apesar do custo elevado, o ganho genético e o impacto sobre a qualidade da carne justificam o uso em sistemas de alta especialização.
Impacto econômico de um calendário reprodutivo
O planejamento reprodutivo tem efeito direto sobre a rentabilidade da fazenda. Segundo dados da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP):
- Cada 30 dias de atraso no parto reduzem em 15 kg o peso do bezerro à desmama, equivalendo a uma perda de R$ 450 por animal (considerando a arroba a R$ 300 em 2025).
- Bezerros oriundos de IATF podem apresentar até 25 kg adicionais ao desmame em comparação à monta natural, o que representa R$ 750 de ganho extra por cabeça.
Conclusão
Não existe técnica universalmente superior. A escolha deve considerar os objetivos, a estrutura e o nível de intensificação da fazenda:
- Sistemas extensivos: predominância da monta natural.
- Fazendas em intensificação: IA e, principalmente, IATF como ferramentas-chave.
- Programas de elite genética: TE e PIV como instrumentos indispensáveis.
O modelo híbrido – início da estação com IATF em vacas em melhores condições corporais e repasse com touros em monta natural – tem se consolidado como a estratégia mais eficiente, equilibrando custo, taxa de prenhez e ganho genético.
Em resumo, a reprodução não deve ser tratada apenas como rotina de manejo, mas como uma decisão estratégica de negócio, capaz de transformar o desempenho reprodutivo em lucro sustentável para a pecuária de corte.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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