Estresse térmico impacta produção de leite no outono no RS

Segundo o levantamento, março foi marcado por uma intensa onda de calor, com temperaturas médias diárias acima de 30°C em várias regiões do Estado.

A produção leiteira no Rio Grande do Sul enfrentou impactos significativos durante o outono de 2025 devido às condições climáticas adversas em março. É o que revela o Comunicado Agrometeorológico Especial nº 87 – Biometeorologia Aplicada à Bovinocultura de Leite no Outono/2025, publicado pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi).

O estudo utilizou o Índice de Temperatura e Umidade (ITU) para avaliar o conforto térmico dos bovinos leiteiros e estimar as perdas na produtividade associadas ao estresse térmico, entre março e maio deste ano.

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Segundo o levantamento, março foi marcado por uma intensa onda de calor, com temperaturas médias diárias acima de 30°C em várias regiões do Estado. A pesquisadora e médica veterinária Adriana Tarouco, uma das autoras do estudo e integrante do DDPA/Seapi, destaca que “essa combinação de calor e umidade acionou mecanismos fisiológicos de termorregulação nas vacas, desviando energia da produção de leite para a manutenção da temperatura corporal”.

O ITU médio em março ficou em 71,6 — valor que já indica estresse térmico leve — e ultrapassou o limite crítico (ITU > 84) em quase um quinto dos municípios analisados, mesmo que por poucas horas. Nas cidades de Uruguaiana e Maçambará, o estresse térmico severo se manteve por mais de 13% do tempo. No total, 76% dos 25 municípios monitorados apresentaram situações críticas de calor, nesse mês

Queda de até 24% na produção

As estimativas do comunicado apontam que, em março, a produção diária de leite pode ter caído até 24% nas vacas de maior rendimento, especialmente nas regiões mais atingidas pela onda de calor. Em contrapartida, o município de Vacaria, na Serra do Nordeste, não apresentou perdas em maio, refletindo temperaturas mais amenas e condições de umidade favoráveis.

Já com a chegada de massas de ar frio em abril e maio o cenário melhorou, as temperaturas oscilaram entre 15°C e 25°C, e a umidade relativa variou entre 64% e 91%. Os bovinos permaneceram, em média, 89,5% do tempo em conforto térmico em abril e 92% em maio, segundo o ITU. “Essas condições climáticas foram mais compatíveis com o bem-estar dos animais, permitindo recuperação gradual da produtividade leiteira”, analisa Adriana.

Chuvas irregulares

A umidade relativa do ar teve os menores índices em março, com destaque para Santiago, que registrou mínima de 19%. Os valores máximos, por outro lado, mantiveram-se entre 95% e 100% na maioria das localidades ao longo da estação.

As precipitações também variaram significativamente no período. Em março e abril, os volumes ficaram abaixo da média histórica em boa parte do estado. Já em maio, algumas regiões, como a Central e a Fronteira Oeste, tiveram acumulados elevados – em Itaqui, por exemplo, os registros chegaram a 400 mm.

Estratégias contra o estresse térmico

Diante dos efeitos do clima, o comunicado recomenda a adoção de práticas de manejo que priorizem o bem-estar térmico dos rebanhos. Entre as principais orientações estão: implantação de sombreamento e ventilação nas instalações, oferta constante de água de qualidade e ajuste nutricional adequado ao período. “Monitorar o clima e o comportamento dos animais é essencial para tomar decisões em tempo hábil e evitar perdas maiores”, ressalta a médica veterinária Adriana Tarouco.

A análise biometeorológica do outono de 2025 reforça a necessidade de adaptação contínua da pecuária leiteira frente aos eventos extremos. Ferramentas como o ITU, aliadas à gestão climática na propriedade, tornam-se fundamentais para preservar a produtividade e a saúde dos animais.

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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