EUA confirmam 1º caso humano de parasita que devora tecidos vivos e ameaça a pecuária

O 1º caso de infecção humana por larvas da “bicheira-do-Novo Mundo” – New World Screwworm – reacende alerta sanitário e pressiona ainda mais o mercado de carne norte-americano com ameaça a pecuária nos EUA

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos confirmou, em agosto de 2025, o primeiro caso humano em território norte-americano de infecção causada pela mosca parasita Cochliomyia hominivorax, conhecida como New World Screwworm ou “bicheira-do-Novo Mundo”. A doença, que atinge principalmente animais de sangue quente, é considerada uma das mais graves ameaças à pecuária do continente e agora chega também ao noticiário da saúde pública.

O paciente infectado havia retornado de uma viagem a El Salvador e foi diagnosticado em Maryland, após investigação conduzida pelo Departamento de Saúde local em parceria com o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças).

Segundo o porta-voz Andrew G. Nixon, a confirmação ocorreu em 4 de agosto. Apesar do registro, as autoridades reforçam que o risco para a saúde pública é considerado baixo.

“O risco para a saúde pública dos Estados Unidos é muito baixo”, afirmou Andrew G. Nixon à agência Reuters.

Ainda assim, a notificação causou desconforto dentro do setor pecuário. Autoridades estaduais relataram falta de transparência do CDC na comunicação. A veterinária Beth Thompson, de Dakota do Sul, foi categórica:

“Descobrimos [o caso de Maryland] por outras vias e depois tivemos que ir ao CDC para que nos dissessem o que estava acontecendo. Eles não foram transparentes”, declarou.

Como agem as larvas da “New World Screwworm

O New World Screwworm – “bicheira-do-Novo Mundo” – é uma mosca parasita que deposita ovos em feridas abertas. As larvas eclodem rapidamente e começam a perfurar e consumir a carne viva do hospedeiro, causando dores intensas, infecções graves e podendo levar à morte se não houver tratamento.
Nos animais, a infestação é devastadora: uma vaca não tratada pode morrer em até duas semanas.

O alerta já havia sido dado por pecuaristas texanos, preocupados com a capacidade de resposta dos EUA diante de um possível surto.

“Se esperarmos, perderemos”, disse Stephen Diebel, vice-presidente da Associação de Criadores de Gado do Texas e do Sudoeste, durante audiência legislativa em Austin.

Impacto direto na pecuária nos EUA

O avanço do parasita pelo México desde 2023 já vinha preocupando os Estados Unidos. Em novembro de 2024, como medida preventiva, o país suspendeu a importação de gado do México, principal fornecedor de animais para engorda. A decisão impactou produtores dos dois lados da fronteira e aumentou a dependência norte-americana da carne importada.

Somado a isso, o governo Trump decretou em 2025 uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira, o que encareceu ainda mais o produto no mercado norte-americano.

New World Screwworm

Crise no abastecimento e preços recordes

O cenário já é descrito por especialistas como uma “tempestade perfeita” para o mercado de carne. Com seca prolongada, bloqueios sanitários e tarifas, a carne bovina nos EUA alcançou em agosto a marca inédita de R$ 150/kg, o maior valor já registrado.

“A produção foi reduzida devido ao menor abate e ao registro de animais com peso inferior”, reconheceu o USDA em relatório oficial.

Riscos econômicos e sanitários

Segundo cálculos do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), um surto em grande escala poderia custar até US$ 1,8 bilhão apenas no Texas, principal estado produtor de gado.

Para conter o avanço da praga, o governo norte-americano anunciou investimentos na produção de moscas estéreis, técnica utilizada no passado para erradicar o parasita. Mas especialistas alertam que a capacidade atual cobre apenas uma fração da necessidade.

“Nas décadas passadas, eram liberadas 600 milhões de moscas estéreis por semana. Hoje, temos apenas 20% dessa capacidade”, alertou o comissário de Agricultura do Texas, Sid Miller.

Com isso, o primeiro caso humano de parasita que devora tecidos – bicheira-do-Novo Mundo – nos EUA não apenas acende um alerta sanitário, mas também reforça o temor de que o parasita se estabeleça no rebanho norte-americano. Em um cenário já marcado por seca, tarifas e bloqueios sanitários, a presença dessa praga pode intensificar a crise da carne nos Estados Unidos, com reflexos diretos para consumidores e produtores em todo o mundo.

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