Mesmo antes de chegar ao mercado norte-americano, a maior oferta de carne bovina do Brasil pressiona valores da carne australiana e muda o comportamento dos compradores nos Estados Unidos; Veja os impactos
A simples expectativa de um forte aumento da oferta de carne bovina brasileira nos Estados Unidos a partir de 2026 já começa a provocar efeitos concretos no mercado internacional. Segundo análise publicada pelo Beef Central, da Austrália, os preços da carne magra utilizada na indústria — especialmente o chamado 90CL, usado em hambúrgueres e carne moída — entram em trajetória de queda após um longo período de altas histórica. De forma resumida: Expectativa de “tsunami” de carne bovina do Brasil nos EUA em 2026 já muda mercado global.
De acordo com o jornalista Jon Condon, autor da análise, os preços da carne australiana exportada para os EUA recuaram cerca de A$ 1 por quilo em poucas semanas, após atingirem níveis recordes no fim de novembro. O movimento marca uma correção relevante em um mercado que vinha em forte valorização desde o fim de 2023.
“O mercado bateu no maior preço da história, acima de A$ 13 por quilo, e rapidamente recuou para a casa de A$ 11 no mercado spot”, destaca o texto.
Preços em queda após recordes históricos
Segundo dados da Meat & Livestock Australia (MLA), os preços do 90CL importado pelos EUA subiram cerca de 72% em dois anos, saindo de aproximadamente A$ 7,60/kg no início de 2024 para mais de A$ 13/kg em novembro de 2025. No entanto, a tendência se inverteu nas últimas semanas, sinalizando mudança no equilíbrio entre oferta e demanda.
Para operadores do mercado ouvidos pelo Beef Central, a recente queda não é pontual, mas sim reflexo de mudanças estruturais no cenário global da carne bovina.
Três fatores explicam a correção dos preços da carne bovina
Traders e analistas apontam três fatores principais por trás da pressão negativa sobre os preços internacionais:
- Valorização do dólar australiano, que reduz a competitividade da carne do país;
- Grande volume de carne importada estocada nos EUA, aguardando a virada do ano e o ajuste das tarifas;
- O fator decisivo: o Brasil.
“O Brasil é, disparado, o elemento mais importante nessa equação”, resume um dos operadores citados pelo Beef Central.
Carne bovina do Brasil volta ao jogo com mais força nos EUA
A análise lembra que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou recentemente uma tarifa adicional de 50% sobre a carne bovina brasileira, o que devolveu competitividade ao produto do Brasil frente a outros fornecedores.
Com isso, a partir de janeiro, a carne brasileira entra no mercado americano nas mesmas condições tarifárias da australiana, ao menos até o esgotamento da cota anual. Mesmo após o fim da cota, quando passa a incidir uma tarifa de 26,4%, o Brasil segue competitivo.
“Na prática, o mercado sabe que grandes volumes de carne brasileira estão a caminho dos Estados Unidos”, explica um trader experiente ouvido pela reportagem. “Isso muda completamente a dinâmica de oferta e demanda.”
Compradores mais cautelosos e mercado travado
Segundo fontes do setor, os compradores americanos adotaram uma postura defensiva, evitando fechar contratos agora e aguardando preços mais baixos nos próximos meses.
“Há muitos clientes literalmente sentados sobre as mãos, esperando a entrada da carne brasileira”, afirmou um operador ao Beef Central. “Eles sabem que a oferta vai aumentar.”
Esse comportamento também é reforçado por:
- Abates elevados nos EUA em semanas recentes;
- Preços mais fracos do gado confinado americano;
- Incertezas em relação à demanda em 2026.
Onde a carne bovina do Brasil ganha — e onde a Austrália ainda se sustenta
A análise destaca que o Brasil é extremamente competitivo no segmento de carne magra e commodity, usada em hambúrgueres, carne moída, jerky, fajitas e sanduíches industriais.
“É muito difícil competir com o Brasil nesse tipo de produto. Eles entregam volume, preço e padronização”, afirma um dos especialistas citados.
Por outro lado, a Austrália ainda mantém vantagem nos cortes de maior valor agregado, como carnes grain-fed e produtos premium, nicho que segue relevante para grandes redes como McDonald’s, Costco e Burger King, que priorizam qualidade, shelf life e padrões ambientais .
Impacto global e alerta para o mercado
Apesar da pressão nos EUA, traders afirmam que outros mercados, como Japão e Coreia do Sul, ainda não demonstram retração nas compras de carne australiana. No entanto, o avanço gradual do Brasil nesses destinos é visto como inevitável no médio prazo.
“Seria ingenuidade achar que esse cenário não vai evoluir. O Brasil avançou muito em qualidade, logística e processamento nos últimos 10 a 15 anos”, alerta um operador ouvido pelo Beef Central.
Em resumo
Mesmo antes de desembarcar com força nos Estados Unidos, a carne bovina brasileira já influencia o mercado global, derrubando preços e alterando o comportamento dos compradores. O chamado “tsunami” de oferta esperado para 2026 começa, na prática, a se materializar agora — primeiro na expectativa, depois nos números.
O movimento reforça o papel central do Brasil no comércio mundial de carne bovina e acende um alerta para concorrentes e produtores sobre o novo equilíbrio do mercado internacional.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.