Exportação de gado vivo dispara e Brasil pode embarcar 1,5 milhão de cabeças em 2025

Mercado aquecido, valorização da arroba e nova rota para a pecuária, o setor vive expansão histórica na exportação de gado vivo; Protocolos e empresas garantem bem-estar em toda operação

A exportação de gado vivo — como é conhecida a venda de bovinos vivos para outros países — voltou a ganhar força no agronegócio brasileiro. Impulsionada por uma demanda internacional crescente, especialmente de países muçulmanos, a atividade registrou crescimento de 84% em volume e quase 70% em receita em 2024, consolidando-se como uma das vias mais relevantes para a rentabilidade do produtor rural.

De janeiro a abril de 2025, o Brasil embarcou 118,2 mil toneladas de gado vivo, gerando uma receita de US$ 286,55 milhões, segundo dados oficiais. No mesmo período do ano anterior, o volume havia sido de 57,3 mil toneladas, com faturamento de US$ 125,86 milhões. A estimativa da Scot Consultoria é que esse volume corresponda a 300,6 mil cabeças de bovinos, mais que o dobro das 145,5 mil cabeças enviadas entre janeiro e abril de 2024.

Com o ritmo atual de embarques, a expectativa é que o Brasil encerre 2025 com o envio de 1,5 milhão de cabeças vivas, o que colocaria o ano entre os maiores volumes da história da exportação de bovinos vivos no país. Segundo Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, o movimento aquece a cadeia produtiva, melhora os preços ao produtor e reforça a imagem da pecuária brasileira no exterior. “Os preços médios neste ano giram em torno de R$ 360 por arroba, ante os R$ 300 registrados em 2024”, afirma o consultor.

Destinos e exigências

Os principais destinos permanecem no Oriente Médio e Norte da África, regiões onde há preferência pelo abate local conforme preceitos halal, o que exige que o animal chegue vivo ao destino. Além disso, países como a Turquia também passaram a importar bovinos vivos com foco em melhoramento genético, o que fortalece a imagem da pecuária nacional em mercados de alto padrão.

Segundo o pecuarista Maurício Velloso, presidente da Associação Nacional da Pecuária de Corte (Assocon), a prática da exportação de gado vivo não é nova no Brasil. “Desde o século XVIII somos exportadores de animais vivos. Hoje, sob nova e significativa demanda internacional, ampliamos a atividade. Ainda que sob fogo obtuso, a atividade avança e prospera”, defende.

Ele reforça que a operação é cercada por rigorosos protocolos de bem-estar animal, controle sanitário e logística especializada, garantindo que os bovinos cheguem ao destino em melhores condições de saúde e peso do que na partida.

“A viagem marítima, onde os animais viajam estabulados sob controle rigoroso, proporciona ganho de peso significativo, demonstrando cabalmente o bem-estar a bordo”, explica Velloso.

Benefícios econômicos e estratégicos na exportação de gado vivo

Além do impacto direto nas receitas do setor, a exportação de gado em pé tem funcionado como válvula de escape para a produção interna, aliviando a pressão de oferta no mercado nacional. Isso tem contribuído para a valorização do boi gordo em estados como o Pará, onde os preços historicamente eram inferiores aos praticados em outras regiões.

Outro ponto estratégico da exportação de animais vivos é o melhoramento genético. O envio de reprodutores com alto valor genético, ainda que mais caro e complexo, tem atraído países em busca de modernizar seus rebanhos. A estimativa é que esse segmento represente R$ 300 milhões em movimentações comerciais apenas com fins reprodutivos.

Debate e desafios

Apesar do crescimento e da relevância econômica, a prática enfrenta críticas, principalmente de organizações de defesa animal, e já foi tema de disputas judiciais. A Justiça Federal autorizou recentemente a continuidade das exportações, entendendo que a regulamentação da atividade cabe ao Poder Legislativo, não ao Judiciário.

Mesmo com a alta, grandes empresas têm reavaliado sua atuação no segmento, citando questões como volatilidade, alto custo logístico e desafios regulatórios. Ainda assim, enquanto houver demanda internacional consistente e margens atrativas, o comércio de gado em pé continuará sendo uma ferramenta estratégica para a pecuária nacional.

O Brasil caminha para um recorde histórico na exportação de bovinos vivos em 2025, reafirmando sua capacidade de atender às exigências de bem-estar, sanidade e logística imposta pelos mercados mais exigentes. Enquanto isso, o setor segue sob o olhar atento da sociedade, da legislação e da concorrência global, reforçando a necessidade de equilibrar eficiência, ética e inovação no campo.

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