Fazenda seleciona gado senepol devido a alta taxa de prenhez

A precocidade da raça fez família deixar de lado a criação de gado comercial e optar pela genética

Bela e Jasmin brincam e correm como crianças no pátio gramado da Fazenda Barra do Bom Jesus, em Rifaina, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Apesar de ter menos de três anos, as duas vacas sem chifres, cor vermelho-terra e uma docilidade que pede carinho, são doadoras campeãs de genética senepol, raça bovina que cresce exponencialmente no Brasil desde sua introdução, em 2000.

As duas vacas nasceram na fazenda do empresário e agora pecuarista Artur Monassi e foram premiadas entre as melhores da raça em avaliação nacional no ano passado.

Desde pequeno, enquanto acompanhava o trabalho do pai, Artur sonhava ter uma propriedade para criar gado. Aos 55 anos, dono de oito revendas de máquinas agrícolas da Case e de duas indústrias de equipamentos para cana, ele comemora a realização do sonho em grande estilo.

Na fazenda de 200 hectares, encravada num vale próximo à represa de Rifaina, Artur iniciou, há quatro anos, o projeto de melhoramento genético de senepol, raça valorizada no cruzamento industrial para produção de carne de qualidade e que encontrou no clima tropical do Brasil terreno fértil para seu desenvolvimento.

“Eu uni o útil ao agradável. Já tinha um rancho de veraneio na represa e decidi comprar uma fazenda na mesma região para realizar o sonho de criar gado, aproveitando também o fato de meu genro ser da quarta geração de uma família de pecuaristas”, diz.

Rafael Ribeiro segura um bezerro senepol. Fotos: Ricardo Benichio
Fotos: Ricardo Benichio

O genro, Rafael Ribeiro Trajano Telles, formado em agronomia, é quem administra a fazenda e cuida das vendas de touros, doadoras, sêmen e embriões. A filha do empresário, Jessica Monassi, cuida da comunicação e marketing e o filho Artur Eduardo Terra Monassi ajuda na parte comercial.

Rafael conta que inicialmente eles compraram sete touros senepol para fazer cruzamento industrial com 280 vacas nelore. “Quando a gente viu a precocidade do senepol e a alta taxa de prenhez das vacas, decidimos que não iríamos criar gado comercial, já que a área é pequena, e sim criar genética.”

O que chamou a atenção dos Monassi para o senepol, raça criada em 1954, na Ilha de Saint Croix, no Caribe, pelo cruzamento de bovinos n’dama, do Senegal, com os ingleses red poll, além da precocidade e da fertilidade, foram o alto rendimento de carcaça, a maciez da carne, a docilidade no manejo, o caráter mocho (sem chifre e sem pelo), a resistência ao calor e a maior tolerância a parasitas. “A raça sempre demonstrou adaptação ao clima, se tornando uma alternativa excelente para a reprodução das vacas nelore no pasto”, afirma Rafael.

A resistência do senepol ao calor tropical e sua característica taurina permitem a reprodução a pasto, ou seja, um touro da raça pode cobrir naturalmente até 50 vacas zebuínas no pasto. A heterose, fenômeno pelo qual os filhos resultantes de cruzamentos industriais de raças diferentes têm melhor desempenho que os pais, é mais acentuada nesse cruzamento, segundo Rafael. A taxa de prenhez das vacas cobertas no pasto é de até 85%, em comparação aos 60% obtidos com a inseminação artificial. Um touro senepol pode gerar na vida toda cerca de 250 bezerros. Doadoras como Bela e Jasmim conseguem produzir de 20 a 30 bezerros por ano graças à extração do material genético para formação em laboratório de embriões, que são implantados em vacas de aluguel, gerando crias de sangue puro.

Diante de tantas vantagens, o agrônomo diz que o desafio dos criatórios que produzem genética senepol no país é convencer o pecuarista a investir num touro registrado e certificado para cobrir suas vacas no pasto. “Muitos ainda são retrógrados e preferem comprar bois baratos de ponta de boiada, sem registro algum e sem comprovação de que vão ser bons reprodutores ou de que irão produzir carne de qualidade. No Brasil, 95% dos animais abatidos ainda não são certificados.”

O sogro acrescenta que é por isso que o país, embora seja grande produtor, só exporta carne “chinelada”, sem qualidade, perdendo mercado para Estados Unidos, Argentina e Austrália. “Queremos ajudar a transformar a característica da carne do Brasil, oferecendo ao mercado interno e externo um produto de alta qualidade. O plano é fazer pecuária extensiva a pasto, produzindo carne gourmet em grande volume.”

No criatório Senepol da Barra, o processo de seleção é rigoroso, segundo Artur e Rafael. Os animais sem qualidade genética, ou seja, aqueles que não seguem os padrões físicos da raça ou não têm bom desempenho em reprodução, precocidade, ganho de peso, qualidade de carne e conversão alimentar, são descartados. “Mandamos para abate cerca de metade dos animais criados na fazenda, preservando como doadores de genética apenas os melhores”, afirma Rafael.

Artur diz que a prova de que seu negócio está no caminho certo para ser sustentável é que a venda de animais criados na fazenda já empatou com os R$ 3 milhões que ele investiu na compra de doadoras de elite e na infraestrutura. O próximo e ousado passo do pecuarista, que está fazendo curso intensivo de gestão de agronegócios em Uberaba com o genro e o filho, é criar, em 2018, um confinamento com abate técnico na fazenda para fazer in loco as avaliações de ganho de peso, aproveitamento de carcaça e eficiência alimentar. Hoje, as avaliações são feitas em centrais de genética como a CRV Lagoa, de Sertãozinho (SP), ou em universidades como a Federal de Uberlândia (MG).

Por Texto: Eliane Silva

Fotos: Ricardo Benichio

Edição: Sebastião Nascimento/globo Rural

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