Frigorífico em Mato Grosso do Sul suspendeu atividades, não paga fornecedores e acumula dívidas superiores a R$ 120 milhões. Setor do agro vive explosão de recuperações judiciais no Brasil
O alerta está aceso no campo. O Frigorífico Balbinos Agroindustrial, sediado em Sidrolândia (MS), entrou em profunda crise financeira e pediu oficialmente Recuperação Judicial junto à Vara Regional de Falências e Recuperações de Campo Grande. O pedido foi protocolado em 31 de outubro de 2025, poucos dias após a empresa conceder férias coletivas (desde 10/10) e interromper o contato com fornecedores e produtores.
Os pecuaristas afirmam que a empresa interrompeu suas atividades sob o argumento de férias coletivas, o que, segundo eles, é uma estratégia para adiar a quitação de notas fiscais vencidas em meados de outubro. Para garantir o ressarcimento, os pecuaristas solicitaram à Justiça o bloqueio de ativos, a penhora de bens e o arresto do gado.
Informações apuradas junto a fontes do setor indicam que o montante devido pelo frigorífico a pecuaristas que realizaram a entrega de gado para abate pode variar entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões. Esses valores, ainda não oficialmente confirmados pela empresa, refletem a dimensão do passivo junto a produtores rurais e reforçam a gravidade da crise de liquidez enfrentada pela companhia.
Segundo o documento judicial, a Balbinos declarou endividamento total de R$ 120,8 milhões, sendo R$ 32,5 milhões em dívidas de curto prazo e R$ 130 milhões a longo prazo. O frigorífico, que emprega cerca de 350 colaboradores diretos e 250 indiretos, afirmou enfrentar crise de caixa, com atividades suspensas e impossibilidade de comprar gado para abate.
Entre os principais credores estão:
- Banco Daycoval – R$ 22,4 milhões
- Banco Sofisa – R$ 13,9 milhões
- Banco do Brasil – R$ 4,8 milhões
- Fundo Unique FIDC – R$ 3,5 milhões
A empresa argumenta que o desequilíbrio financeiro foi causado por investimentos superiores a R$ 50 milhões em modernização da planta, juros altos, volatilidade cambial e redução na oferta de bovinos prontos para abate no Estado. A direção também cita a mudança no perfil produtivo do Mato Grosso do Sul, com o avanço de usinas de etanol de milho, florestas de eucalipto e citrus sobre áreas de pecuária, elevando o custo da arroba.
Além disso, produtores já acionaram a Justiça alegando calote em entregas de gado — os débitos somam mais de R$ 2 milhões, segundo reportagem do Campo Grande News. 
O que é recuperação judicial?
A recuperação judicial é um instrumento previsto na Lei nº 11.101/2005, que permite que empresas em crise financeira suspendam temporariamente suas dívidas e executem um plano de reestruturação, com o objetivo de evitar a falência e preservar empregos e a produção.
De acordo com o pedido da Balbinos, o frigorífico solicitou a suspensão de todas as ações e execuções por 180 dias, período conhecido como “stay period” — tempo em que credores não podem cobrar judicialmente, executar garantias, protestar duplicatas ou apreender bens da empresa.
Durante esse prazo, a empresa deve apresentar um plano de recuperação com prazos, descontos e formas de pagamento para cada grupo de credores (bancos, fornecedores, trabalhadores, fisco, etc.). O plano precisa ser aprovado em assembleia de credores. Caso não seja, a consequência é direta: a falência.
Explosão de RJs no setor acende alerta nacional
A situação da Balbinos não é isolada. O agronegócio brasileiro vive uma onda de pedidos de recuperação judicial sem precedentes. Segundo levantamento da Serasa Experian, o número de empresas do agro que recorreram à Justiça para renegociar dívidas cresceu mais de 300% em 2024, impulsionado por juros altos, retração no preço das commodities, seca e inadimplência crescente.
Somente em 2025, grandes grupos de proteína animal, cooperativas e tradings agrícolas já ingressaram com pedidos semelhantes. A escalada preocupa bancos, fundos de investimento e fornecedores de insumos, que agora endurecem prazos e exigem garantias reais antes de liberar crédito ao setor.
Especialistas alertam que o aumento das recuperações pode desequilibrar cadeias produtivas inteiras, especialmente em regiões onde um frigorífico ou cerealista concentra grande parte das compras de produtores locais. Quando uma empresa desse porte trava pagamentos, o efeito dominó atinge pecuaristas, transportadores, prestadores de serviço e até o comércio da cidade.
Produtores que mantêm contratos, entregas recentes ou créditos com o Frigorífico Balbinos devem redobrar a atenção e buscar orientação jurídica imediata. Durante o período de recuperação, pagamentos podem ser suspensos, reprogramados ou sofrer descontos, conforme decisão judicial.
Enquanto tenta se reorganizar, o frigorífico alega que quer manter empregos e preservar a cadeia produtiva, mas o cenário exige cautela redobrada. A recomendação é clara: nenhuma nova entrega de gado deve ser feita sem garantias contratuais firmes e registro formal de crédito.
Apesar da paralisação, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carnes e Aves (Sindaves) comunicou aos funcionários que o frigorífico tem previsão de retomar as operações no dia 6 de novembro. Até o momento, a direção do Balbinos Agroindustrial não se pronunciou sobre as acusações.
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