Gado evita área contaminada com plantas daninhas em 72% do tempo, diz estudo dos EUA

Pesquisa realizada no Missouri revela que a presença de invasoras – plantas daninhas – altera o comportamento de pastejo dos bovinos, reduz o aproveitamento da forragem e gera perdas produtivas que vão muito além da queda na taxa de lotação

A ideia de que o boi “come o que tem” no pasto não se sustenta diante de dados científicos. Um estudo conduzido no Estado do Missouri, nos Estados Unidos, mostrou que bovinos fazem escolhas claras no momento do pastejo e evitam áreas infestadas por plantas daninhas, mesmo quando não existe nenhuma barreira física separando o pasto limpo do contaminado. Ao longo de quatro meses de observação, os animais permaneceram 72% do tempo nas áreas livres de invasoras, deixando parte significativa da forragem disponível sem consumo .

O resultado chama atenção porque revela um impacto silencioso das plantas daninhas sobre a eficiência produtiva das pastagens. Não se trata apenas de competição por água, luz e nutrientes, mas de mudanças diretas no comportamento animal, que acabam reduzindo o aproveitamento real da área e acelerando processos de degradação do solo e da pastagem.

Preferência observada após o controle das invasoras

De acordo com o estudo, a preferência do gado pelo pasto limpo ficou mais evidente a partir do segundo mês após a aplicação do herbicida, período em que o controle das plantas daninhas começou a ser efetivo. Mesmo espécies de baixo porte e consideradas de fácil controle foram suficientes para alterar de forma significativa os hábitos de pastejo dos animais .

Segundo o engenheiro agrônomo Neivaldo Tunes Caceres, autor de estudos sobre manejo de plantas daninhas em pastagens, o bovino busca naturalmente a forragem de melhor acesso. “Eles pastejam a área limpa até a exaustão, enquanto a infestada tende a ficar intocada”, explica. Esse comportamento leva a dois problemas clássicos e indesejáveis: superpastejo nas áreas limpas e subpastejo nas áreas contaminadas, combinação que acelera a degradação da pastagem e perpetua a presença das invasoras.

Perda de área produtiva pode chegar a 35%

O levantamento também detalha como diferentes tipos de plantas daninhas afetam o uso da pastagem. Invasoras com espinhos reduzem o aproveitamento do capim em um raio de até 1,5 metro ao redor da planta, enquanto aquelas sem espinhos impactam cerca de 1 metro ao seu redor. Na prática, isso significa perda direta de área útil.

Em números, o efeito é expressivo:

  • 500 plantas invasoras sem espinhos por hectare podem resultar em até 15% da área não aproveitada;
  • Em pastos infestados por plantas espinhosas, a perda pode chegar a 35% da área produtiva .

A comparação feita pelos pesquisadores é direta: nenhum agricultor aceitaria plantar uma lavoura sabendo que deixará de colher até um terço da produção. No entanto, na pecuária, essas perdas muitas vezes passam despercebidas.

Ferimentos, deslocamento e impacto no solo

Além da redução no consumo de forragem, as plantas daninhas provocam outros prejuízos menos visíveis. Espécies espinhosas podem causar ferimentos em barbelas, tetos, órgãos genitais e na pele dos animais, afetando inclusive a qualidade do couro. Já plantas arbustivas e arbóreas interferem no comportamento social do gado, que evita áreas onde perde o contato visual com o restante do lote, desperdiçando ainda mais pasto disponível.

Outro efeito colateral é o deslocamento repetitivo dos animais por caminhos alternativos, formando trilhas, compactando o solo e reduzindo a infiltração de água. Em situações mais graves, esse processo pode evoluir para erosões e até formação de voçorocas, comprometendo a sustentabilidade da área ao longo do tempo .

Queda de produtividade começa cedo

Os dados reforçam que o tempo de convivência entre forrageiras e plantas daninhas é determinante para o tamanho do prejuízo. Em pastagens recém-formadas de Brachiaria brizantha, estudos indicaram queda de até 48% na produtividade em apenas 120 dias de competição quando comparadas a áreas livres de invasoras .

Por isso, especialistas defendem que o controle seja precoce e contínuo, tratando as plantas daninhas com a mesma seriedade que uma praga agrícola.

Manejo adequado faz diferença no resultado

Entre as estratégias mais eficientes, o estudo aponta o controle químico aliado ao manejo cultural, que inclui uso de sementes de qualidade, escolha correta da forrageira, ajuste da carga animal, pastejo rotativo, adubação e calagem. Métodos como queima e roçadas isoladas, além de ambientalmente questionáveis, tendem a apresentar baixo rendimento e efeito limitado, podendo até fortalecer o sistema radicular das invasoras .

O recado final é claro: conviver com plantas daninhas não é apenas uma questão estética ou de manejo secundário, mas um fator que compromete diretamente a produtividade, o bem-estar animal e a rentabilidade da pecuária. O estudo norte-americano deixa evidente que, quando tem opção, o boi escolhe pasto limpo — e essa escolha custa caro quando ignorada pelo produtor.

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