Gado Sindi, raça resistente ao calor, é reconhecido como um dos mais puros do país

Certificação reconhece origem e qualidade do gado Sindi da Embrapa, reforçando a importância genética da raça para o Semiárido brasileiro

Um dos rebanhos mais adaptados às condições extremas do Semiárido brasileiro acaba de conquistar o reconhecimento oficial por sua pureza genética. Após quase dois anos de trabalho, a Embrapa Semiárido (PE) obteve o registro de Pureza de Origem (PO) para seu rebanho da raça Sindi, concedido pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Essa certificação representa a segunda e última etapa no processo de validação da qualidade genética dos 91 animais da unidade, entre machos e fêmeas, e abre novas possibilidades para sua utilização em programas de conservação e melhoramento genético voltados à pecuária da região.

O registro chancela a origem dos animais e permite que a Embrapa amplie a oferta de material genético certificado — como sêmen, embriões e exemplares vivos — para pecuaristas que buscam animais mais adaptados ao clima quente e seco do Semiárido. A conquista é fruto de uma articulação técnica com a Associação Brasileira dos Criadores de Sindi (ABCSindi), que auxiliou a Embrapa nos trâmites exigidos pela ABCZ.

“O rebanho da Embrapa Semiárido é hoje um dos mais puros do Brasil. Com o registro, poderemos socializar esse material por meio da venda de sêmen, embriões e animais vivos, todos com documentação e certificação genética”, declara o pesquisador Rafael Dantas, responsável pelo Núcleo de Conservação da Raça Sindi.

Gado Sindi, raça resistente ao calor, é reconhecido como um dos mais puros do país
Fotos: Fernanda Birolo

Para o conselheiro da ABCZ José Kléber Calou Filho, é fundamental esse trabalho que a Embrapa, a ABCZ e a ABCSindi fizeram para oferecer à pecuária um rebanho com a genética tipicamente Sindi. “Ganha não só o Semiárido mas ganha toda a pecuária nacional”, destaca.

Gado Sindi, raça resistente ao calor, é reconhecido como um dos mais puros do país
Fotos: Fernanda Birolo

Calou ressalta que vai ser de grande interesse para os produtores de Sindi incluir no seu rebanho a genética que está recebendo esse registro. “É um material rico nessa genética zebuína, que vem fortalecer a cadeia do Sindi no Brasil, uma das raças que mais está crescendo no cenário da pecuária nacional”, afirma.

Rigor técnico para a certificação

O processo de registro seguiu todos os trâmites exigidos pela ABCZ. Dada a complexidade da escrituração inicial do rebanho, foi firmado um termo de cooperação técnica entre a Embrapa e a ABCSindi, que atuou como articuladora entre a Empresa e a ABCZ.

“A ABCSindi foi fundamental para demonstrar à ABCZ que os animais da Embrapa tinham potencial para serem registrados. Foi essa articulação que viabilizou o reconhecimento oficial do nosso rebanho como PO”, explica Dantas.

Para que um animal da raça Sindi seja oficialmente reconhecido como Puro de Origem (PO) pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), é necessário cumprir uma série de exigências técnicas e documentais. Os animais registrados nesta etapa seguiram dois trâmites diferentes: oito seguiram o rito normal e outros 29 foram de resgate. Os demais animais que compõem o rebanho já haviam sido registrados em 2015.

Foto: Marcelino Ribeiro

No rito normal, o primeiro passo é a comunicação formal da cobertura, ou seja, o registro de que determinada fêmea foi colocada em reprodução com um touro PO. Após o nascimento do bezerro, deve-se realizar a comunicação de nascimento, informando os dados completos dos pais, peso ao nascer, sexo e outras características básicas do animal. Em seguida, um técnico credenciado realiza uma inspeção para avaliar se o animal apresenta características compatíveis com a raça Sindi. Caso aprovado, o animal é marcado, recebe um registro provisório e, posteriormente, o definitivo.

Além disso, é obrigatória a realização de exames de DNA para confirmar a filiação do bezerro com pai e mãe puros. Mesmo que toda a documentação esteja correta, o animal só será registrado se apresentar as características raciais exigidas, sem deformidades ou desvios.

Já o processo de resgate foi feito com os animais que estavam sem os pais e mães identificados. Rafael Dantas conta que foi preciso um trabalho complexo: coletar o DNA dos animais e fazer o cruzamento em laboratório para identificar o pai e a mãe. Desse modo, foi possível resgatar os animais que não seguiram o rito normal. “Essa foi a etapa final, agora o rebanho é todo registrado como PO e, daqui para a frente, todos seguem o rito normal”, explica Dantas.

O cumprimento rigoroso de todas essas etapas, incluindo prazos e exigências formais da ABCZ, é essencial para validar o registro como PO. Esse processo garante a pureza genética, a identidade racial e a adaptabilidade dos animais, atributos fundamentais para a conservação e o melhoramento da raça Sindi, especialmente em regiões como o Semiárido.

Gado Sindi, raça resistente ao calor, é reconhecido como um dos mais puros do país
Foto: Marcelino Ribeiro

Rusticidade e desempenho do Gado Sindi

Originária do Paquistão, a raça Sindi é reconhecida por sua rusticidade, resistência ao calor e capacidade de produzir carne e leite mesmo em condições adversas. De pequeno porte e com menor exigência nutricional, o gado é ideal para regiões com escassez de alimento e água, como o Semiárido brasileiro.

“Esse animal consegue converter alimentos de baixo valor nutricional em carne e leite, e pasteja em áreas onde outras raças não conseguem se alimentar. Sua rusticidade é estratégica para os cenários de mudanças climáticas”, ressalta Rafael Dantas.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba, Mário Borba, é também criador de Sindi há mais de 20 anos, com um rebanho de cerca de 150 matrizes.  “Eu estou satisfeito com isso, é um gado que se adapta bem a todo o clima. E se ele se mantém bem no Semiárido, imagina no Sul, no Sudeste. Então eu digo que é um gado universal, um gado de origem milenar, e que tem toda uma caracterização racial,que a gente tem que preservar”.

Borba reforça que o registro e a preservação do rebanho da Embrapa “tem um ganho muito positivo, levando em consideração que é uma raça milenar, uma raça que vem dos desertos do norte da Índia, e do Paquistão, e que tem uma característica muito grande com a questão semiárida, com a questão Nordeste, pelo seu tamanho, pelo seu porte, pela sua rusticidade, pela sua fertilidade, de ganho de peso também, de desenvolvimento de carcaça. O Sindi é um gado completo”, completa Borba.

Além da conservação da raça, os animais do núcleo da Embrapa também são utilizados em experimentos científicos nas áreas de nutrição, sanidade e produção de forragem. Há ainda estudos em andamento sobre cruzamentos com outras raças para melhorar a produtividade e resistência dos rebanhos locais.

Gado Sindi, raça resistente ao calor, é reconhecido como um dos mais puros do país
Foto: Fernanda Birolo

História do rebanho

O rebanho que compõe o Núcleo de Conservação da Raça Sindi da Embrapa Semiárido é constituído por descendentes diretos da importação de animais do Paquistão para o Brasil ocorrida em 1952. A empreitada foi liderada pelo pesquisador Felisberto Camargo, então diretor do Instituto Agronômico do Norte – IAN (atual Embrapa Amazônia Oriental), no estado do Pará .

Em 1996, parte desses rebanho foi transferida para a Embrapa Semiárido, passando a ser criada no Campo Experimental da Caatinga. Desde então, vem sido mantido como um rebanho fechado, sem cruzamento com outras linhagens, o que garante a conservação da sua pureza racial.

Banco genético para o futuro

A conservação do gado Sindi é uma das estratégias da Embrapa para garantir a segurança genética de raças adaptadas ao clima semiárido. Além de manter um rebanho em campo, a Empresa trabalha com material genético dos animais armazenado em um banco de germoplasma na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF).

“Estamos garantindo que as gerações futuras tenham acesso a uma genética adaptada às novas realidades de produção, especialmente frente aos desafios do clima. Esse é o papel do núcleo de conservação: preservar e compartilhar”, conclui o pesquisador.

Foto: Marcelino Ribeiro

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