
A infecção, causada por bactérias do gênero Clostridium, exige atenção imediata dos produtores
Com evolução rápida e sintomas alarmantes, a gangrena gasosa representa um sério risco à saúde do rebanho bovino. A infecção, causada por bactérias do gênero Clostridium, exige atenção imediata dos produtores. A doença provoca destruição muscular severa, e quando não identificada a tempo, pode levar o animal à morte em menos de dois dias.
O médico veterinário Flávio Pereira Veloso, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), alerta que o agente infeccioso pode estar presente no próprio organismo do animal, no solo e em ambientes rurais de clima quente e úmido – condições ideais para sua proliferação. A bactéria sobrevive na forma de esporos altamente resistentes, capazes de permanecer por longos períodos no ambiente, aguardando uma oportunidade para invadir o organismo por meio de lesões.
Como a infecção se instala no corpo do animal?
O ponto de partida da gangrena gasosa é uma porta de entrada: cortes, feridas abertas, traumas ou até mesmo procedimentos como vacinações mal executadas com instrumentos contaminados. Em situações como partos complicados, pequenos ferimentos na área genital também podem se tornar vias de acesso para as bactérias.
Dentro do organismo, os clostrídios encontram um ambiente propício para germinar e se multiplicar rapidamente. A destruição do tecido muscular ocorre por meio da liberação de toxinas que comprometem gravemente os sistemas cardíaco e respiratório do animal.
Sinais clínicos: como identificar a doença
A manifestação inicial da gangrena gasosa envolve inchaço no local afetado, vermelhidão, dor intensa e aumento de temperatura. Febre, apatia e recusa alimentar são comuns. Com a progressão da infecção, o tecido entra em necrose, adquirindo coloração escura e liberando um odor característico, semelhante ao de carne podre. A presença de gases no tecido morto gera uma sensação tátil de estalos, parecida com plástico-bolha – fenômeno conhecido como crepitação gasosa.
Nos estágios mais avançados, o animal pode sofrer colapsos respiratórios e cardíacos. A velocidade da evolução é impressionante: em muitos casos, a morte ocorre entre 24 e 48 horas após os primeiros sintomas.

Existe tratamento? Sim, mas o tempo é essencial
A chance de reversão do quadro depende diretamente da rapidez do diagnóstico. Antibióticos específicos são eficazes, mas devem ser administrados sob orientação veterinária. A recomendação é clara: ao notar qualquer sinal suspeito, o produtor deve buscar imediatamente ajuda profissional e evitar intervenções por conta própria.
Prevenção: o melhor caminho para proteger o rebanho
Como os clostrídios precisam de uma brecha para invadir o organismo, as boas práticas sanitárias são fundamentais:
- Esterilização de materiais: seringas, agulhas e instrumentos cirúrgicos devem estar sempre limpos. Agulhas descartáveis são ideais, mas se a reutilização for inevitável, a higienização com solução de água sanitária diluída é uma opção – desde que aprovada por um veterinário para evitar interações com medicamentos.
- Vacinação preventiva: há vacinas disponíveis que podem ser aplicadas a partir dos quatro meses de idade. A imunização anual é recomendada.
- Descarte correto de carcaças: animais mortos devem ser enterrados adequadamente para reduzir a carga bacteriana no ambiente, inclusive de outras espécies como o Clostridium botulinum, que causa o botulismo.
- Evitar instrumentos que causam feridas: varas com ponta de ferro e esporas afiadas devem ser evitadas, pois podem gerar lesões facilitadoras da infecção – não só em bovinos, mas também em equinos.
- Cuidados com feridas: ao identificar cortes, é importante remover resíduos de terra ou matéria orgânica, lavar com água e sabão e aplicar produtos antissépticos ou cicatrizantes, como o Lepecid.
Impactos econômicos e preocupação sanitária
Apesar de não ser uma doença contagiosa de animal para animal, a gangrena gasosa representa prejuízos consideráveis para o produtor rural. A rápida evolução e alta letalidade comprometem a rentabilidade da propriedade, já que o animal infectado muitas vezes não tem chance de recuperação. Como ainda não é uma enfermidade de notificação obrigatória, faltam estatísticas oficiais que dimensionem sua real incidência nos rebanhos brasileiros.
A vigilância constante, somada a práticas preventivas bem estabelecidas, continua sendo a melhor estratégia para evitar que essa infecção grave comprometa a produtividade e a saúde do rebanho.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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