Genotipagem transforma rebanho bovino e faz bezerro valer ouro na Irlanda

Rebanho leiteiro no Condado de Westmeath evolui com o uso estratégico de dados genômicos, inseminação artificial e tecnologia de precisão; modelo pode inspirar pecuária brasileira

A genotipagem, uma tecnologia que permite analisar o DNA dos animais para identificar características genéticas com alta precisão, vem transformando a pecuária leiteira e de corte na Irlanda. Um exemplo notável dessa revolução é a fazenda gerida em parceria pelos produtores Christopher Cahill e Tony McCormack, localizada em Delvin, no Condado de Westmeath. Com uma estratégia baseada em ciência, inovação e manejo eficiente, o rebanho saltou de 110 para mais de 240 vacas mestiças em apenas três anos.

Formado em Ciências Agrárias pela University College Dublin e com mestrado em Agricultura Sustentável, Christopher Cahill tem aplicado sua experiência prática e acadêmica para transformar os resultados do rebanho, mostrando como a tecnologia genômica pode ser decisiva para o sucesso no campo.

Os números comprovam a eficiência do sistema:

  • O Índice Econômico de Reprodução (EBI) do rebanho evoluiu de € 112 (R$ 714) em 2021 para € 237 (R$ 1.519) em 2025, refletindo ganhos genéticos e reprodutivos significativos;
  • O intervalo médio entre partos é de 368 dias e a taxa de partos em seis semanas atingiu 81% na primavera de 2025;
  • Em 2024, o leite apresentou 4,83% de gordura (top 2% da cooperativa Lakeland) e 3,75% de proteína (top 4%);
  • A média de tempo para processamento de amostras de DNA em 2025 caiu para 3,5 dias no laboratório e pouco mais de duas semanas para devolução dos resultados.

Desde que aderiu ao Programa Nacional de Genotipagem (NGP), Christopher afirma que o conhecimento genético aprofundado tem sido um diferencial:

“Achei que isso me daria informações mais detalhadas sobre cada vaca e maiores níveis de precisão e confiabilidade para tomar decisões de reprodução.”

Na prática, a genotipagem já ajudou a evitar erros de identificação de filhotes, como no caso de duas bezerras pretas confundidas no parto — o teste de DNA apontou as verdadeiras mães, corrigindo o equívoco.

Além disso, dados genômicos são combinados com registros de produção de leite para orientar o uso de sêmen sexado e convencional, inseminação artificial e manejo de touros de corte. A estratégia permitiu:

  • Produzir novilhas de reposição mais eficientes a partir das vacas com maior valor genético;
  • Vender bezerros de corte precoces e com alta procura, aproveitando a janela mais valiosa do mercado.

O uso do NGP também traz vantagens no Programa de Bem-Estar da Carne Bovina Leiteira (DBWS), que oferece € 20 (R$ 128) por bezerro elegível, até o limite de 50 animais, totalizando € 1.000 — o que equivale a cerca de R$ 6.410.

Mesmo que o custo da genotipagem varie de € 18 a € 30 (entre R$ 115 e R$ 192, em média), o programa cobre integralmente o teste dos touros ainda não genotipados. Além disso, a confirmação da paternidade via DNA ajuda os produtores a cumprir os requisitos de rastreabilidade com mais facilidade e menos burocracia.

Outro ganho está no aumento do valor de mercado dos bezerros: dados como filiação genética e o Valor Comercial da Carne Bovina (CBV) são apresentados aos compradores, agregando confiança e potencial de retorno.

Em 2025, a fazenda também investiu em coleiras de detecção de cio da Censortech, abandonando os protocolos de sincronização hormonal e priorizando os ciclos naturais de reprodução. A prática se mostrou ainda mais eficaz ao ser combinada com sêmen sexado.

“Você está acelerando seu ganho genético, mas também está melhorando o bezerro de corte que vai para o criador de gado de corte, o que é ótimo”, afirma Christopher.

O modelo de agricultura compartilhada adotado por Christopher e Tony é sustentado por uma gestão moderna, mentalidade inovadora e foco em desempenho sustentável. A genotipagem tem papel central nesse progresso, permitindo decisões assertivas, ganhos reprodutivos, maior valor de mercado e rastreabilidade.

“Recomendo fortemente que qualquer pessoa se inscreva, seja na área de laticínios ou de corte, seja qual for o seu ramo. As informações que a genotipagem fornece são inestimáveis”, conclui Christopher.

À medida que mais produtores ao redor do mundo adotam a genotipagem, o caso do Condado de Westmeath se consolida como um exemplo prático de como tecnologia, ciência e boa gestão podem construir um rebanho mais produtivo, lucrativo e alinhado com as exigências do futuro.

Com informações de Agriland.ie, traduzido e adaptado pela equipe Compre Rural.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM