Movimento da paralisação com a greve dos caminhoneiros marcado para 4 de dezembro reúne reivindicações estruturais e tenta se desvincular de bandeiras partidárias; jurista que apoia Bolsonaro endossa greve, mas caminhoneiros afirmam que pauta é trabalhista
Caminhoneiros de diversas regiões do Brasil se articulam para uma paralisação nacional – greve dos caminhoneiros – nesta quinta-feira (4/12), com o apoio declarado de representantes da categoria e do desembargador aposentado Sebastião Coelho. Apesar da presença de figuras associadas ao bolsonarismo, os organizadores enfatizam que a mobilização tem foco em reivindicações trabalhistas e estruturais, e não em causas políticas ou ideológicas.
A convocação foi oficializada em vídeo nas redes sociais por Chicão Caminhoneiro, da União Brasileira dos Caminhoneiros, ao lado de Sebastião Coelho, que prometeu suporte jurídico à ação. Eles afirmaram que irão protocolar uma ação para legalizar a paralisação, garantindo que o movimento esteja dentro da legalidade e protegido de possíveis retaliações.
“Estaremos protocolando o movimento para trazermos a legalidade jurídica dessa ação que vamos iniciar a partir do dia 4 de dezembro. Teremos todo o suporte jurídico necessário para o ato e dentro da legalidade que a lei estabelece”, afirmou Chicão.
Sebastião Coelho, que na última semana também havia defendido uma paralisação pela anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, reforçou que estará ao lado dos caminhoneiros durante todo o processo. Segundo ele, a iniciativa “será um processo vitorioso para toda a categoria, diante da pauta que será apresentada”.
Pauta do movimento: reivindicações da categoria
A paralisação dos caminhoneiros não gira em torno de temas políticos, segundo os próprios organizadores e entidades da classe. O objetivo é chamar atenção para problemas estruturais que afetam diretamente os profissionais do setor, como:
- Estabilidade contratual para caminhoneiros autônomos;
- Cumprimento efetivo da legislação vigente que rege o transporte de cargas;
- Reestruturação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas;
- Aposentadoria especial após 25 anos de contribuição, desde que comprovados por documentos fiscais ou registros formais.
Essas demandas foram reforçadas por Daniel Souza, caminhoneiro e influenciador digital com quase 100 mil seguidores no TikTok, que destacou a precariedade da profissão no Brasil. “A realidade dos caminhoneiros está precária: baixa remuneração, leis impossíveis de cumprir por falta de estrutura e insegurança nas estradas. O respeito com a nossa classe acabou”, declarou.
Greve dos caminhoneiros: Apoio e divergências no setor
Entidades regionais reforçam que há grande adesão à mobilização, mas o movimento ainda não é unânime. O presidente da Associação Catarinense dos Transportadores Rodoviários de Cargas (ACTRC), Janderson Maçaneiro, conhecido como “Patrola”, acredita que o movimento “tem força porque há muito descontentamento” entre os trabalhadores.
Por outro lado, algumas lideranças da Baixada Santista não apoiam a paralisação. Marcelo Paz, presidente da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos do Porto de Santos (CCAPS), afirma que não houve assembleia nem votação entre os trabalhadores para uma paralisação oficial. “Para se ter uma movimentação dessas, precisa haver diálogo, assembleia e votação”, declarou.
Histórico e paralelos com 2018
A greve dos caminhoneiros de 2018 é uma referência recorrente nas falas dos organizadores atuais. Naquela ocasião, o país ficou 10 dias paralisado em função da alta no preço do diesel, resultando em desabastecimento de combustíveis e alimentos. O governo Michel Temer cedeu a parte das demandas, encerrando o movimento.
A nova mobilização, no entanto, tenta evitar associação direta com motivações partidárias. O envolvimento do desembargador Sebastião Coelho, um declarado apoiador de Bolsonaro, trouxe dúvidas sobre a real neutralidade da pauta, mas os principais nomes do movimento reforçam que não se trata de uma greve bolsonarista, e sim de um ato em defesa da dignidade da categoria.
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