Investimento bilionário da ACP Bioenergia reforça o avanço da agricultura irrigada no Baixio de Irecê e consolida o Oeste da Bahia como nova fronteira do agronegócio nacional.
O Oeste da Bahia vem se consolidando como uma das fronteiras agrícolas mais promissoras do Brasil — e não por acaso. Em um cenário marcado por ampliação de infraestrutura hídrica, concessões irrigadas e políticas de incentivo, a região está atraindo investimentos de grandes grupos do agronegócio. O chamado “Baixio de Irecê”, que engloba os municípios de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia, aparece cada vez mais como um polo estratégico para produção irrigada de grãos e fibras.
Nos últimos anos, iniciativas públicas e privadas têm se somado ao que era considerado um semiárido com vocação agrícola mas limitado por infraestrutura. Projetos públicos de irrigação — sob gestão da Codevasf e parcerias com o governo federal — começam a sair do papel, liberando áreas antes adormecidas. Com água disponível, solos aptos, incentivos fiscais e concessões estruturadas por regime de uso real ou concessão privada, o Oeste Baiano ganha apelo não apenas para agricultores locais, mas para investidores de peso do setor.
É neste contexto que surge o anúncio de um novo investimento de grande escala: o grupo ACP Bioenergia aposta pesado nesta fronteira, com plano de irrigar e cultivar grãos e algodão em área irrigada de largo porte, inserindo-se diretamente na nova dinâmica de crescimento do agronegócio baiano.

O investimento da ACP Bioenergia no Baixio de Irecê
O grupo ACP Bioenergia, sediado em Ribeirão Preto (SP), anunciou um investimento de R$ 1,1 bilhão para implantar um grande projeto agrícola no Baixio de Irecê, entre os municípios de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia. O empreendimento marca a chegada da companhia a uma das regiões mais promissoras do agronegócio brasileiro, com foco na produção irrigada de soja, milho e algodão. A previsão é que as operações comecem em outubro de 2026, consolidando a expansão da empresa em uma nova fronteira agrícola.
A área inicial do projeto terá cerca de 15 mil hectares totalmente irrigados, integrando o maior perímetro de irrigação da América Latina. O plano da ACP é aproveitar as condições climáticas e geográficas da região — altitude, luminosidade, calor e disponibilidade de água — para alcançar altos níveis de produtividade, estimados em 100 sacas de soja, 200 de milho e 380 arrobas de algodão por hectare. O sistema de irrigação integral é visto pela empresa como um diferencial para garantir estabilidade e previsibilidade de resultados em meio às incertezas climáticas. 
Liderada pelo administrador Alexandre Candido, de 47 anos, a ACP Bioenergia é reconhecida por sua atuação no cultivo de grãos e cana-de-açúcar em mais de 220 mil hectares arrendados em contratos de longo prazo, que variam de 15 a 30 anos. Em 2024, a empresa registrou receita líquida de R$ 731 milhões e EBITDA de R$ 512 milhões, disputando mercado com grandes nomes do setor, como Bom Futuro, SLC Agrícola, Amaggi e Scheffer. O novo investimento na Bahia representa um passo estratégico para diversificar riscos e consolidar o modelo de produção irrigada em larga escala.
A iniciativa faz parte de uma parceria com a empresa Germina Baixio, responsável pela concessão de parte das etapas do projeto de irrigação. Além de ampliar a base produtiva da ACP, o investimento deve impulsionar a geração de empregos e movimentar a economia regional, reforçando o papel do Baixio de Irecê como polo emergente da agricultura irrigada nacional.
Quem é a ACP Bioenergia
A ACP Bioenergia é uma empresa agrícola com perfil diversificado — tradicionalmente atuante no setor sucroalcooleiro, mas que vem expandindo sua presença em produção de grãos e irrigação. (acpbioenergia.com.br)
Alguns pontos de sua trajetória:
- A empresa atua há mais de 35 anos, com origem no cultivo de cana-de-açúcar em Teodoro Sampaio (SP).
- Possui múltiplos polos produtivos em diferentes estados (São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Minas Gerais).
- Expansão recente inclui atuação em produção de grãos — soja, milho, irrigação — em novos polos.
- Segundo relatório recente, a empresa apresentou receita líquida de cerca de R$ 731 milhões (em 2024), crescimento de 10 % em relação ao ano anterior, e EBITDA elevado (dados conforme anúncio).
- É participante ativa de financiamentos/investimentos via mercado de capitais, combinando bancos tradicionais, CRAs / títulos do agronegócio, e estruturas financeiras modernas.
Com essa base consolidada, a decisão de ingressar no Baixio de Irecê pode ser vista como parte da estratégia de diversificação climática, de risco (hídrico/climático), de agregação de escala irrigada — com ganhos em previsibilidade, produtividade e possibilidade de tornar-se referência em agricultura irrigada de grande porte.

O Baixio de Irecê: infraestrutura, contexto e primeiros resultados
Localizado entre os municípios de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia, o Baixio de Irecê é considerado o maior perímetro irrigado da América Latina. O projeto, sob gestão da Codevasf e parceria com a iniciativa privada, abrange 105 mil hectares, dos quais 48 mil são irrigáveis, e vem transformando o semiárido baiano em uma potência agrícola. As etapas 3 a 9 do projeto foram concedidas à iniciativa privada por meio de leilão do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), garantindo recursos de longo prazo e estabilidade para novos empreendimentos como o da ACP Bioenergia. 
Nos últimos anos, o Governo Federal destinou mais de R$ 555 milhões para ampliar e modernizar a infraestrutura hídrica local, incluindo canais de irrigação, estações de bombeamento e sistemas de energia. Esse esforço público tem impulsionado a chegada de grandes grupos empresariais, estimulando a produção de grãos, frutas e fibras em uma região antes limitada pelas condições climáticas. A presença da irrigação, somada à altitude e luminosidade favoráveis, coloca o Baixio de Irecê entre as novas fronteiras mais promissoras da agricultura irrigada no país.
Os resultados já começam a aparecer. Segundo a Codevasf, o Valor Bruto da Produção (VBP) do projeto saltou de R$ 400 mil em 2022 para R$ 9,4 milhões em 2023, com a área irrigada quase dobrando — de 2 mil para 4 mil hectares. A diversificação também avança: culturas como feijão, abóbora, mamona e banana vêm se somando ao portfólio local, ampliando o impacto econômico e social.
Esses indicadores sugerem que o Baixio de Irecê já deixou de ser “apenas projeto futurista” e começa a gerar resultados reais — ainda em escala modesta quando comparada à projeção plena, mas com crescimento acelerado. Com essa evolução, o Baixio de Irecê consolida sua posição como o novo Eldorado da produção agropecuária brasileira, atraindo investidores e mudando o cenário produtivo do semiárido.
Desafios e perspectivas
Esse tipo de investimento de alto porte — irrigado, moderno, em área de fronteira agrícola semiárida — tem potencial elevado, mas também enfrenta desafios:
- Custo elevado de implantação de infraestrutura de irrigação (canalização, estações de bombeamento, pressurização, energia, manutenção). Mesmo com incentivos fiscais ou regimes especiais, o CapEx inicial é alto.
- Logística de escoamento da produção (rodovias, transporte, armazenamento frigorífico ou agroindústria) precisará acompanhar o crescimento da produção irrigada para evitar gargalos.
- Gestão hídrica e sustentabilidade ambiental (uso da água do São Francisco, manejo de solo, drenagem, uso eficiente de energia) exigem governança técnica e compromisso de longo prazo — tanto pela empresa quanto pelo ente público/regulador.
- Recursos humanos locais e capacitação técnica para operar em sistema de irrigação moderno, manutenção de pivôs, monitoramento, colheita mecanizada ou semimecanizada etc.
- Riscos regulatórios, variações de preço internacional de commodities (soja, algodão, milho), custo de crédito e financiamento para operação contínua.
Por outro lado, se bem executado, o projeto da ACP Bioenergia no Baixio de Irecê pode servir de modelo para outros investidores do agro que olhem para o semiárido irrigado como caminho de segurança contra variações climáticas, com ganhos de produtividade e escalabilidade.
Perspectiva de longo prazo é de tornar o Oeste da Bahia efetivamente uma “Nova Eldorado” da produção agropecuária irrigada — com geração de empregos, fortalecimento de cadeias agrícolas locais, valorização das terras produtivas e impacto socioeconômico relevante na região.
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