Helicoverpa armigera: saiba tudo sobre essa praga, como identificar, danos causados, ciclo de vida e culturas que são afetadas pela praga.
A produção agrícola é um dos setores indispensáveis para a vida humana. Porém, com todo grande empreendimento vêm grandes desafios, e a lagarta Helicoverpa armigera é prova disso. Afinal, ela é uma das pragas agrícolas de maior importância nas lavouras.
A espécie já causou prejuízos de R$ 1,5 bilhão somente na Bahia, na safra de 2013. Para evitar mais acontecimentos com esse, medidas de manejo foram intensificadas para manter a praga sob controle.
Neste artigo, saiba tudo sobre identificação, manejo da lagarta helicoverpa e seis formas de controle. Aproveite a leitura!
Histórico da H. armigera no Brasil
A Helicoverpa armigera é uma espécie de mariposa, muito conhecida pelas lagartas que atacam a cultura do algodão. Foi identificada no Brasil em 2013, e antes era considerada uma praga quarentenária.
Isso significa que a praga não têm origem no Brasil mas foi aqui introduzida, causando um desequilíbrio da ordem natural.
Assim sendo, essas pragas podem causar sérios prejuízos econômicos em áreas de produção agrícola, causando ameaça à economia. Segundo pesquisadores, a H. armigera foi introduzida no Brasil em 2008 e, aos poucos, alastrou-se pelas regiões produtoras.
Antes, havia dificuldade na identificação da Helicoverpa armigera. Muitas vezes, ela era confundida com outras lagartas, como a lagarta-da-maçã-do-algodoeiro e a lagarta-da-espiga-do-milho, que já existiam no país.
Ainda, é pequena a diferença entre helicoverpa zea e armigera, o que confunde muito quem produz. Vinda da Oceania, a Helicoverpa armigera se adapta mais facilmente à soja e ao algodão. Por outro lado, a Helicoverpa zea vem do México e causa mais danos ao milho.
Ao longo do tempo, investiu-se em conhecer as características da H. armigera para controlá-la adequadamente, com desenvolvimento de tecnologias adequadas para seu genoma e ciclo de vida.
Ciclo de vida da lagarta helicoverpa spp.
O ciclo de vida da Helicoverpa armigera é composto pelas fases de ovo, lagarta, pupa e adulto. Você pode observar essas etapas a seguir.
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Na fase de ovo, há um período de incubação de cerca de 3 dias. O ovo apresenta coloração branco-amarelado após a deposição, e se torna marrom próximo à eclosão da larva.
Após a eclosão dos ovos, é chegado o estágio larval da H. armigera. Ele apresenta seis sub-estágios. As lagartas de primeiro e segundo sub-estágio são pouco móveis na planta e apresentam coloração variando de branco-amarelada a marrom-avermelhada.
Elas alimentam-se de partes mais tenras das plantas e podem produzir um tipo de teia, ou até mesmo um pequeno casulo. Com o crescimento das lagartas, as colorações mudam, variando de amarelo a verde, apresentando listras de coloração marrom nas laterais.
É nesse momento de seu ciclo de vida que a praga se torna mais agressiva à cultura. Em seguida, é alcançada a fase de pupa, com duração entre 10 e 14 dias. Nele, a praga apresenta coloração marrom e está em processo de transformação de larva para adulto.
Já adulta, na forma de mariposa, a fêmea tem coloração amarelada e sobrevive em média 12 dias. O macho apresenta cor acinzentada e vive cerca de 9 dias. As mariposas podem ovipositar ovos nas folhas da cultura, dando continuidade ao ciclo de vida da praga.
Culturas de interesse e os danos da Helicoverpa armigera
Uma característica da helicoverpa é ser polífaga. Isso significa que ela pode se beneficiar de muitos hospedeiros, estando presente em uma ampla variedade de espécies de plantas. No Brasil, alguns hospedeiros da lagarta são:
- algodão;
- soja;
- milho;
- feijão;
- sorgo;
- milheto;
- trigo;
- crotalária;
- girassol e outras.
Os danos que essa lagarta causa às principais culturas de interesse econômico a tornam um alvo importante do manejo de pragas.
Danos causados pela Helicoverpa armigera
É na fase larval que a Helicoverpa armigera na soja e no algodão causa perdas nas culturas. Nela, as lagartas se alimentam de folhas e hastes, causando danos irrecuperáveis às plantas.
Se a fase mais ativa coincide com o período reprodutivo da cultura, os botões florais, frutos, maçãs, espigas e inflorescências podem ser muito afetados.
As perdas podem ultrapassar 80% em lavouras de feijão e 60% em algodão. Os danos se caracterizam por deformações em folhas e frutos, favorecendo a entrada de doenças para o interior dos tecidos das plantas e a queda precoce de partes das plantas.
A Helicoverpa armigera é uma praga difícil de controlar e seus danos são irreversíveis. Por isso, o manejo deve ser feito quando as lagartas estão presentes na área de cultivo, mas antes de apresentarem densidade populacional acima do nível de dano econômico.
Uma tática importante no manejo desta lagarta é a adoção do Manejo Integrado de Pragas. A adoção de diferentes estratégias de controle pode reduzir a população da lagarta na área de cultivo, mantendo a sua densidade populacional reduzida.
Manejo Integrado de Pragas da Helicoverpa armigera
Medidas de manejo isoladas não são eficientes para manter a população da praga abaixo dos níveis de dano econômico a longo prazo. Por isso, o que se sabe nesses dez anos de pesquisas para controlar a H. armigera é que o Manejo Integrado de Pragas é essencial.
Com ele, é possível aplicar práticas adequadas para o contexto específico de cada área.
O MIP utiliza diversas técnicas, sem depender unicamente do controle químico. Com a integração de práticas, todas são potencializadas e protegem a eficiência dos inseticidas.
Um dos princípios do MIP é a amostragem da praga. Essa etapa tem o objetivo de determinar qual tipo de manejo utilizar e quando é o momento mais adequado, para reduzir os danos da lagarta na lavoura.
Da mesma forma, o monitoramento e a identificação são práticas essenciais para determinar o momento correto de aplicar medidas de controle mais incisivas. Assim, é possível identificar o nível de equilíbrio e de controle, que indicam quando você deve agir.
6 técnicas de manejo integrado eficientes contra a helicoverpa
Se você identificou ou desconfia da presença dessa lagarta na sua lavoura, usar técnicas de manejo o quanto antes é essencial. Fique de olho nas principais formas de controle dessa praga agrícola.
1. Controle cultural
Como a H. armigera é polífaga, o controle cultural é uma opção para diminuir a população da praga. A prática consiste em manter a área livre de qualquer planta hospedeira por determinado período. Assim, os espécimes presentes não têm chances de se desenvolver.
Por isso, no período de entressafra, é importante deixar a lavoura sem a presença de plantas de que a H. armigera possa se beneficiar. Isso inclui plantas tigueras da própria cultura recém colhida, daninhas e restos culturais.
Além disso, pode-se utilizar o calendário de plantio curto, em combinação com cultivares de ciclo reduzido. Isso diminui o período de cultivo e possibilita que a lavoura tenha uma janela de inatividade.
Dessa maneira, não se reduz a produção, mas é possível evitar ter plantas em vários estágios de desenvolvimento. Eles servem de fonte de alimento para a lagarta.
2. Controle genético
Outra estratégia de manejo para a lagarta H. armigera é o uso de cultivares resistentes. Uma tecnologia bastante utilizada são plantas com tecnologia Bt, variedades geneticamente modificadas com o gene de uma bactéria que é tóxica para alguns insetos.
As pragas, no entanto, também têm a capacidade de se adaptar a essa tecnologia, que passa a não apresentar a eficiência esperada depois de algumas safras. Felizmente, as áreas de refúgio são alternativas para preservar a qualidade das cultivares resistentes.
Nessa estratégia, parte da área cultivada é semeada com plantas não resistentes, de maneira a evitar a seleção de pragas e manter a eficiência do controle genético. Por isso, a tecnologia Bt e as áreas de refúgio são sempre complementares no manejo.
3. Identificação, amostragem e monitoramento
Conhecer o ciclo de vida dessa lagarta ajuda a entender em que fase ela ataca a cultura e como é possível identificá-la. Além disso, o conhecimento das fases do ciclo de vida é importante para a amostragem da H. armigera para a realização do manejo.
Para identificar a H. armigera, a primeira característica que pode ser observada é a presença de pontuações escuras no quarto e/ou quinto segmento da lagarta. Eles formam um semicírculo e apresentam aspecto mais endurecido.
Por terem colorações diversas ao longo das diferentes fases de seu desenvolvimento, avaliar a disposição das pontuações é a melhor maneira de diferenciá-la das outras espécies. Além disso, verifique as listras nas laterais do tórax, no abdômen e na cabeça.
Caso você ainda tenha dúvidas sobre a identificação da lagarta H. armigera, não deixe de procurar um laboratório que identifique a espécie que você encontrou na sua lavoura.
A amostragem é feita a partir da contagem dos adultos de H. armigera, por meio de armadilhas luminosas ou com feromônios. A captura e a contagem das mariposas permite prever o potencial de ovos e de lagartas de H. armigera na sua lavoura em um prazo curto.
Tudo isso oferece mais agilidade no manejo. Também é necessário monitorar as plantas durante todo o ciclo do cultivo. Verifique se há presença de lagartas, por meio do pano de batida, ou dos danos que ela causa nas folhas e caules.
4. Controle biológico
Esse tipo de manejo consiste em inserir na área um agente de controle biológico que funcione como inimigo natural da praga. Entre os insetos benéficos, podemos encontrar os parasitóides e predadores da lagarta.
Existem também vírus, bactérias, fungos e nematoides capazes de diminuir a população das lagartas. Contra a helicoverpa, a vespa Trichogramma spp. apresenta bons resultados. Há ainda inseticidas biológicos à base de Trichogramma pretiosum.
Outro exemplo de produtos biológicos eficientes contra a H. armigera são aqueles à base da bactéria Bacillus thuringiensis. Elas são capazes de quebrar o ciclo da lagarta.
Como a tecnologia Bt está presente em sementes de cultivares resistentes, o uso das duas técnicas de forma conjunta não é ideal. Isso serve para evitar a pressão de seleção à resistência, que aumenta quando são usados dois produtos com a mesma ação.
Também vale lembrar da existência de inseticidas à base de patógenos virais, como os compostos pelo vírus Nucleopolyhedrovirus. Ele age após ser ingerido pela lagarta, quando ela se alimenta da cultura.
O produto causa redução da alimentação e locomoção da lagarta, até a morte. Este processo dura entre 3 e 7 dias, com efeito mais rápido em lagartas mais jovens. O interessante é que as lagartas contribuem para dispersar o vírus no ambiente.
5. Controle químico
A principal forma de controle da Helicoverpa armigera é o uso de inseticidas químicos em rotação de princípios ativos. O objetivo é evitar a pressão de seleção da praga.
O Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas já identificou casos de resistência de H. armigera a inseticidas à base de piretróide no Brasil. Já a Embrapa demonstrou que há mais de 600 relatos de resistência da H. armigera a vários grupos de inseticidas no mundo.
Por isso, compreender o histórico da área de cultivo quanto à incidência da praga e integrar as práticas de manejo são ações fundamentais. Elas irão assegurar a eficiência das soluções e a longevidade de seus princípios ativos.
A escolha de um inseticida deve considerar quatro fatores:
- seletividade a inimigos naturais;
- custo-benefício;
- eficiência em campo;
- combinação de ativos.
Para a maior eficiência do controle químico, você deve utilizar rotação de produtos com diferentes modos de ação dentro do MIP. A aplicação de inseticida deve começar quando a praga atinge o nível de controle no processo de amostragem.
6. Gestão agrícola por softwares
Você pode achar que gestão agrícola não tem nada a ver com manejo de pragas. Entretanto, relembre alguns pontos importantes para o controle da Helicoverpa:
- uso de inseticidas com rotação de mecanismos de ação;
- aplicação de inseticidas mais seletivos;
- uso de outras formas de manejo, como tecnologia Bt e produtos biológicos;
- realização do monitoramento e aplicações somente ao atingir o nível de controle.
Para cada uma dessas questões, a gestão agrícola tem um papel fundamental. Felizmente, muitos processos e informações que guiam as escolhas no campo já são amparadas por tecnologias digitais, a partir de softwares.
Esses softwares automatizam o levantamento de dados e facilitam sua visualização. Ainda, com essa tecnologia, você tem o histórico das safras anteriores.
Desse modo é possível registrar e consultar os produtos que usou na safra passada e conferir sua eficiência. Além disso, você pode fazer um plano de manejo com a rotação de mecanismos de ação de maneira estratégica.
Você também fará o planejamento agrícolade maneira fácil e poderá saber com antecedência quais os melhores produtos a serem utilizados. Isso permite mais tempo para a busca de melhores preços no mercado.
Assim, fica fácil decidir o que fazer em cada etapa da safra, obtendo o manejo eficiente não só da lagarta, mas da lavoura como um todo. As tecnologias digitais também oferecem um sistema georreferenciado para monitoramento de pragas, por meio de mapas de calor.
Outra vantagem de contar com um software para a gestão agrícola é o controle financeiro e o manejo de riscos à rentabilidade. A ferramenta permite entender em detalhes:
- quanto foi gasto em inseticidas durante a safra passada;
- qual o custo por talhão;
- rendimento de cada área;
- retorno sobre o investimento.
Essas informações têm a finalidade de entender se houve prejuízo ou ganhos nos talhões mais infestados. Com o Aegro, isso fica fácil e simples de ser visualizado. Veja uma prévia a seguir:
Conclusão
Entender sobre a H. armigera é indispensável para evitar danos diretos à lavoura e para um bom planejamento de quais culturas serão implantadas depois.
Ainda, esse conhecimento te ajuda a entender melhor sobre seus custos de produção e como otimizá-los.
Para o controle da lagarta helicoverpa é fundamental a adoção do Manejo Integrado de Pragas. Ele ajuda no alcance de um controle eficiente e na manutenção da vida útil dos inseticidas e das cultivares resistentes disponíveis no mercado.
Fonte: Blog Aegro
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