Indígenas investem milhões em máquinas agrícolas e safra cresce

Do trabalho manual ao uso de tecnologia avançada: os Paresi, um povo indígena, aplicam investimentos significativos em maquinário no Mato Grosso. Nas suas lavouras, a automação dos equipamentos alcança 100% das operações

A tribo dos índios Paresis, no Mato Grosso, não vive só de tradições. Inovando e buscando mudanças, após grandes questionamentos e polêmicas, no final de 2019, eles assinaram um termo de ajustamento de conduta (TAC), que libera as áreas de soja para o plantio. Com isso, os índios podem financiar e comercializar a safra. Mas se comprometem a não arrendar as terras, nem usar sementes transgênicas. Mas não parou por ai, horas dedicadas ao manuseio de enxadas, foices e machados marcaram o início da jornada agrícola do povo Paresi no estado, conforme relata Arnaldo Zunizakae, líder da Coopihanama (Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki).

Com o avançar do tempo, essa realidade foi transformada pela aquisição de equipamentos agrícolas de alto valor, que hoje facilitam a produção de culturas como soja, milho e feijão. A iniciativa da agricultura mecanizada pelo povo Paresi começou há 21 anos, abrangendo uma vasta área de 19.600 hectares em cinco Terras Indígenas do Mato Grosso: Paresi, Rio Formoso e Utiariti da etnia Paresi; Irantxe, da etnia Manoki; e Tirecatinga, da etnia Nambikwara.

Arnaldo conta que a prática agrícola é uma tradição dos Paresi, iniciada com ferramentas manuais e evoluindo para maquinários, especialmente adaptados às condições do Cerrado. Os equipamentos iniciais, embora mais simples, marcaram o começo da era da mecanização agrícola para o povo Paresi. Por se tratar de uma agricultura feita no Cerrado, quando a agricultura mecanizada chegou na nova região, nós praticamente já começamos a trabalhar com a lavoura mecanizada. Claro que naquela época, os maquinários eram mais ‘primitivos’, digamos assim”, contou em entrevista ao site Primeira Página.  

Nos anos 70, a comunidade buscou capacitação no Rio Grande do Sul, visando o domínio da operação e manutenção de maquinário agrícola moderno, preparando-se para uma transição tecnológica significativa em suas terras.

Atualmente, a maquinaria agrícola utilizada nas terras Paresi é totalmente automatizada, com operação via GPS e sistemas de piloto automático.

Andressa Selestina Dalla Côrt, bióloga com especialização em engenharia agrícola e doutorado em agronomia, enfatiza a importância do investimento em tecnologia para manter a competitividade no campo, destacando o papel da tecnologia na otimização do tempo, produtividade e eficiência.

Ela alerta que sem o recurso à tecnologia, os agricultores enfrentam desvantagens significativas, enfrentando perdas financeiras e de eficiência. Os custos de investimento em maquinário são elevados, com preços que variam significativamente, representando um desafio financeiro para os produtores, inclusive os Paresi. “Os prejuízos são tanto financeiros, quanto relacionados às perdas de produtividade e eficiência nas operações”, contou em entrevista ao site Primeira Página.  

Começo da plantação em território indígena Paresi. (Foto: arquivo pessoal/PrimeiraPágina)

O líder indígena Paresi destaca o alto custo dos equipamentos, mas ressalta que foram encontradas soluções criativas para sua aquisição, como o pagamento por meio da produção agrícola, apesar das dificuldades que isso implica. Segundo a doutora em agronomia, as máquinas podem variar de R$ 250 mil até R$ 5 milhões.

As mais caras, normalmente são as colhedoras. “A gente falando em colhedora de grãos é algo em torno de R$ 500 mil a R$ 4 milhões”, comentou.

A agricultura Paresi não apenas contribuiu para a geração de emprego e renda entre a comunidade, mas também permitiu investimentos significativos em programas sociais, com impactos positivos no bem-estar dos indígenas envolvidos. Por ano, eles já movimentam R$ 130 milhões com o cultivo de grãos, valor esse que era de cerca de R$ 50 milhões em 2019. Atualmente, a produção emprega aproximadamente 250 trabalhadores diretos, dos quais 95% são indígenas. 

Unidade 2 de produção na Aldeia Bacaval do povo Paresi. (Foto: Gilmar Koloizomae)

Do dinheiro arrecadado, os Paresi também separam uma porcentagem para assistência social do próprio povo. Em 2023, a cooperativa destinou R$ 8 milhões para o programa, que é comparado ao Bolsa Família do Governo Federal.  

O crescimento da safra na terra indígena, não só reflete uma realidade da tribo como do agronegócio brasileiro. Em 2023, o crescimento do PIB brasileiro destacou o papel vital da agropecuária, evidenciando o impacto econômico significativo do setor. Com uma alta de 15,1%, o setor impulsionou outros setores, como as exportações e a indústria de alimentos.

O ministro da Agricultura e Pecuária e o presidente da Aprosoja ressaltam a importância da autonomia e da vontade dos povos indígenas em suas decisões produtivas, apoiando as práticas sustentáveis e a modernização agrícola dentro das comunidades indígenas. “Quanto ao direito de produzir grãos nós temos que estar baseados na lei. A organização mundial do trabalho [OIT] na resolução 69 prevê que o que deve prevalecer é a vontade voluntária dos indígenas, se querem produzir ou não“, disse o ministro ao Primeira Página.

A reportagem do site Primeira Página, informou ainda que buscou comentários da Funai e do MPI sobre a agricultura em terras indígenas em Mato Grosso, mas não obteve resposta até a publicação.

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Os bioinsumos, também referidos como insumos biológicos, constituem uma categoria de produtos derivados de microrganismos, materiais vegetais, orgânicos ou naturais, esses insumos são empregados nas práticas agrícolas para incrementar a produtividade das lavouras, controlar pragas e doenças, enriquecer o solo com nutrientes e aprimorar sua fertilidade.

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