Dados do IBGE revelam que problemas climáticos e quebras de safra foram os grandes responsáveis pela pressão inflacionária na cesta básica este ano; pimentão e café lideram o ranking
A pressão no orçamento doméstico das famílias brasileiras tem um culpado claro este ano: a volatilidade no campo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), balanço oficial da inflação divulgado pelo IBGE na última quarta-feira (10/12), confirmou quais foram os alimentos que mais subiram de preço em 2025. No acumulado de janeiro a novembro, o grupo de alimentação e bebidas avançou 2,67%, mas itens específicos, especialmente hortaliças e commodities, registraram disparadas superiores a 40%.
Para o produtor rural e para o consumidor final, entender esses números exige olhar para o céu: o clima extremo ditou as regras do mercado. Abaixo, analisamos os dez vilões da inflação alimentar neste ano.
Ranking dos 10 alimentos com maior alta no ano
1. Pimentão: O campeão de alta (+40,13%)
Quem foi à feira ou ao hortifrúti sentiu o impacto imediato. O pimentão, independentemente da cor ou variedade, liderou a lista dos alimentos que mais subiram de preço em 2025, acumulando uma valorização de 40,13%.
A explicação é agronômica. Segundo Thiago de Oliveira, chefe da Seção de Economia da Ceagesp, a cultura do pimentão não resistiu à “gangorra” climática. O ano foi marcado por ondas de calor severas intercaladas com chuvas intensas e períodos de seca. Esse cenário favoreceu pragas e derrubou a produtividade nas principais regiões produtoras, reduzindo drasticamente a oferta disponível nas centrais de abastecimento.
2. Café moído: Crise na xícara (+36%)
O hábito nacional de tomar café ficou significativamente mais oneroso. Após já ter subido quase 40% no ano anterior, o café moído encareceu mais 36% em 2025.
A análise de Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro, aponta para um problema na origem. A safra brasileira de 2024 sofreu com um terceiro trimestre atípico, onde a seca e as altas temperaturas prejudicaram a florada dos cafezais. O resultado foi a colheita de grãos menores e com mais defeitos, encarecendo a saca do café verde e gerando um efeito cascata até a gôndola do supermercado.
3. Manga: Clima e mercado externo (+28,85%)
A manga ocupa o terceiro lugar com uma alta de 28,85%. Além dos desafios climáticos usuais (excesso de chuva e calor), o mercado da fruta viveu um drama geopolítico.
Houve uma corrida para antecipar as exportações em setembro, motivada pelo receio de uma sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos. Essa movimentação desabasteceu o mercado interno momentaneamente. Somado a isso, o clima adverso gerou perdas de qualidade, fazendo com que o preço da fruta de boa qualidade disparasse para o consumidor brasileiro.
4. Pepino: Sensibilidade térmica (+25,99%)
Assim como o pimentão, o pepino é uma cultura extremamente sensível a variações bruscas de temperatura. O mix de chuvas torrenciais e calor excessivo comprometeu as lavouras, restringindo a oferta e empurrando o preço para cima em 25,99%.
5. Café solúvel: Reflexo da commodity (+22,66%)
Ainda que utilize menos matéria-prima bruta em sua composição industrial, o café solúvel não escapou da tendência de alta da commodity, registrando um aumento de 22,66%. O produto entrou na lista dos alimentos que mais subiram de preço em 2025 como reflexo direto da valorização do grão arábica e robusta no mercado físico.
6. Melão: Inversão de tendência (+18,09%)
O cenário do melão sofreu uma reviravolta. Se em 2024 o preço havia recuado, em 2025 a fruta ficou 18,09% mais cara. Os gargalos logísticos e a perda de qualidade nas lavouras devido ao clima impediram que o produto chegasse barato à mesa do consumidor.
7. Batata-doce: Fim do preço baixo (+17,71%)
O tubérculo, que começou o ano como uma opção econômica, mudou de patamar a partir de setembro. Com a redução da oferta no campo causada por intempéries, a batata-doce encerrou o período acumulando alta de 17,71%.
8. Cafezinho fora de casa (+16,70%)
Tomar um espresso na padaria ficou 16,70% mais caro. Aqui, a inflação é composta: além do custo elevado do grão (matéria-prima), o setor de serviços repassou os aumentos de energia, aluguel e mão de obra para o preço final da xícara.
9. Abobrinha: Ciclo prejudicado (+12,86%)
Recuperando-se de um 2024 de preços baixos, a abobrinha subiu 12,86% este ano. A instabilidade climática no primeiro semestre, com secas seguidas de chuvas fora de hora, quebrou o ciclo produtivo e diminuiu o volume colhido.
10. Tomate: O vilão recorrente (+8,67%)
Famoso por sua volatilidade, o tomate fecha o top 10 com alta acumulada de 8,67%. O fruto teve picos de preço impressionantes no início do ano (chegando a subir mais de 20% em março), demonstrando a dificuldade contínua dos produtores em regularizar a oferta frente a um clima cada vez mais imprevisível.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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