Instituto faz 130 anos e já produziu mais de 1 mil cultivares

1.067 cultivares de 96 espécies diferentes foram geradas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) em 130 anos

Gerar e transferir ciência, tecnologia e produtos para otimização dos sistemas de produção vegetal. A primeira frase da missão institucional do IAC abrange todo o trabalho feito no instituto, desde aspectos mais fundamentais do conhecimento científico até contribuições bem práticas e palpáveis, como a produção de novas cultivares e sua transferência para os agricultores. Cultivar é o nome que se dá a variedades de plantas selecionadas para perpetuar e exacerbar características desejáveis.

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Fonte: Fapesp

Quando se trata de produzir alimentos, destacam-se a busca por melhorar a produtividade, reforçar nutrientes específicos e promover resistência a doenças ou adaptação a condições climáticas. São necessidades tão prementes que as versões originais, selvagens, das plantas usadas como alimento são praticamente inexistentes nas mesas mundo afora. O IAC tem participação representativa nesse trabalho e chega aos 130 anos com 1.067 cultivares desenvolvidas de 96 espécies agrícolas destinadas não apenas aos campos paulistas, mas a todo o país e até ao exterior.

O IAC obtém essas variedades por meio de melhoramento genético convencional, que envolve cruzamentos controlados de indivíduos (os parentais) portadores da característica de interesse. É um processo quase artesanal que envolve a troca de pólen entre as flores de plantas adultas e a análise dos resultados muitas vezes ao longo de anos.

Das 1.067 cultivares já desenvolvidas, 748 constam do Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que em 1997 passou a registrar as variedades aptas para serem cultivadas no Brasil. O que existe hoje, porém, não é necessariamente uma lista completa. “Cultivares antigas não foram registradas porque haviam sido lançadas muito tempo antes, entraram no domínio público e se descaracterizaram”, explica o agrônomo Sérgio Augusto Morais Carbonell, diretor-geral do IAC.

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Fonte: Fapesp

Nesse tipo de registro, empresas e agricultores compram o material reprodutivo – como mudas ou sementes – e podem revender, plantar e reutilizar o material sem custos adicionais. O Mapa também fornece o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), comparável ao regimento das patentes porque o desenvolvedor tem direito à propriedade intelectual da cultivar e pode cobrar por seu uso. “No SNPC, o comprador do material reprodutivo da cultivar assina um contrato de licenciamento de produção e comercialização, tem de repassar royalties (de 3% a 5%) e não pode vender a semente para terceiros sem autorização”, conta Carbonell.

O IAC tem 28 cultivares no SPNC, a grande maioria de cana, cafeeiro e feijoeiro. “Fazemos esse registro para cultivares que podem apresentar maior lucratividade, como culturas de grande porte e com participação de empresas na produção de sementes.” Em todos os casos, as cultivares podem ser usadas sem pagamento de royalties na pesquisa de novas variedades.

O maior número de cultivares desenvolvidas pelo IAC se concentra nos citros. São 147 tipos de laranjas, limões, tangerinas, pomelos, entre outros, coerente com o fato de o estado de São Paulo ser a região que mais colhe frutas cítricas no mundo. “O IAC tem o maior banco de germoplasma de citros do planeta”, informa Carbonell. Ele se refere à coleção que representa o patrimônio genético das plantas estudadas na instituição, muitas vezes armazenado na forma de pomar com exemplares de uma diversidade de espécies e cultivares, embora possa também ser composto por sementes ou material vegetal armazenado de outra forma.

O banco de germoplasma de café começou a ser feito no final do século XIX e representa, atualmente, cerca de 90% das variedades plantadas no país. “Ao longo do tempo, o instituto desenvolveu 70 cultivares de cafeeiros que têm grande valor econômico e social”, destaca o diretor-geral.

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Fonte: Fapesp

A primeira cultivar do IAC, no entanto, não apelava à nutrição e ao paladar. Foi uma variedade de algodoeiro lançada em 1932, a IA-7387, época em que o plantio de café estava em declínio e o algodão se tornou uma boa opção de cultivo. Outras 34 cultivares dessa planta se seguiram e nas últimas décadas, mesmo com a migração da cultura para Mato Grosso e Goiás e a entrada de empresas multinacionais na venda de sementes, as pesquisas continuaram. Em 2007, o IAC lançou uma cultivar resistente a múltiplas doenças: o IAC 25 RMD, resultado de 22 anos de estudos.

As duas principais culturas agrícolas brasileiras em volume de produção, a soja e o milho, também foram enriquecidas por cultivares do IAC. Os primeiros experimentos com soja datam do início das atividades do instituto; já o milho começou a ser pesquisado na década de 1930. Para que pudesse ser plantada comercialmente na região Sudeste, a seringueira, árvore de origem amazônica, começou a ser aclimatada no IAC em 1942 e posteriormente o melhoramento genético colocou 37 cultivares à disposição dos agricultores.

Arroz, feijão e pêssego

Embora os cítricos sejam mais reconhecidos, com sucos de laranja e limão constantemente presentes no cotidiano, é para outra fruta que o IAC registra o número mais expressivo de cultivares: o pêssego, estudado desde a década de 1940 e com a primeira cultivar obtida 20 anos depois. Hoje são 64 variedades que permitem cultivar essa espécie de clima temperado no estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais, lugares onde faz menos frio do que seria exigido pela árvore. Com isso, a safra paulista, que perde em volume apenas para a gaúcha, é a primeira disponível no país a cada ano, a partir de agosto.

Na América do Sul o Brasil é um dos principais produtores, atrás do Chile e da Argentina, com 1% dos pêssegos colhidos no mundo. “Algumas cultivares também oferecem a opção de polpa branca ou amarela”, conta a bióloga Graciela da Rocha Sobierajski, pesquisadora do Centro de Fruticultura de Jundiaí. Além das cultivares de pessegueiro de mesa, há outras destinadas a conservas e sucos, uma diversidade de usos que gerou a demanda de mercado para o considerável investimento na pesquisa. A partir de 1970 o IAC também dedicou atenção à nectarina, que parece um pêssego de casca lisa.

Um trio de alimentos básicos – arroz, feijão e trigo – teve igualmente suas culturas incrementadas por cultivares do IAC, muitas delas hoje espalhadas pelo país. “O melhoramento do feijoeiro começou em 1932, mas o grande impulso dado a essa cultura aconteceu no final dos anos 1960, quando o IAC lançou a variedade de feijão-carioca”, conta Carbonell, especializado justamente nesse grão central da dieta brasileira. A pesquisa com arroz, cujo melhoramento genético teve início na década de 1930, recentemente tem ampliado seu alcance explorando nichos específicos como o arroz preto, lançado em 2006, o vermelho e um tipo especial para risoto. Arroz com feijão não precisa mais ser sinônimo de básico absoluto.

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Fonte: Fapesp

Via Fapesp

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