
Abate de javali na Unidade de Conservação localizada na Serra da Canastra reacende o debate sobre o controle de espécies invasoras e a preservação da biodiversidade em parques nacionais
Um javali gigante de aproximadamente 200 quilos foi abatido dentro da Serra da Canastra (MG), uma das mais importantes Unidades de Conservação do país. A imagem do animal abatido, ao lado de um caçador armado – com as devidas autorizações exigidas por lei – e com vestimentas de camuflagem, viralizou nas redes sociais nesta semana. O episódio reacende a discussão sobre o impacto ambiental causado por espécies invasoras em áreas protegidas e a necessidade de seu controle.
O responsável pelo abate é o caçador Eduardo Pio Carvalho, que publicou imagens e uma declaração em sua conta no Facebook, destacando a gravidade da presença de javalis no parque. “Um monstro! Javali de quase 200 kg é abatido na Serra da Canastra. Isto mostra a importância do controle de espécies invasoras em Unidades de Conservação”, escreveu Carvalho.
Impactos graves para o ecossistema nativo
De acordo com especialistas em manejo de fauna, javalis (Sus scrofa) são uma das espécies exóticas invasoras mais prejudiciais à fauna e flora brasileiras. Introduzidos inicialmente para fins comerciais, esses animais escaparam de criadouros e passaram a se reproduzir rapidamente, sem predadores naturais, invadindo áreas de mata, fazendas e até reservas ambientais.
Eduardo Carvalho destacou esse problema em sua publicação:
“Qual impacto um animal desse tem feito para o parque? Qual a quantidade de recurso alimentar que este animal consumiu como frutos, sementes, brotos de planta e até animais este animal consumiu no interior da reserva?”
Esses recursos — frutos, sementes e vegetação nativa — seriam, em condições naturais, destinados à fauna silvestre endêmica, como veados-campeiros, lobos-guará e antas. A competição imposta pelos javalis desequilibra cadeias alimentares e pode, inclusive, levar à extinção local de espécies menores. Em situações extremas, há registros de javalis predando ninhos, répteis e filhotes de animais silvestres.
Abate controlado de javalis como ferramenta de conservação
O controle populacional dos javalis é autorizado no Brasil desde 2013, por meio da Instrução Normativa n.º 3/2013 do IBAMA, que reconhece a necessidade de conter essa praga biológica. No entanto, o manejo deve ser feito dentro de regras específicas, com cadastro prévio, treinamento de manejo e uso de armamento regulamentado.

Segundo o caçador, o abate foi realizado com planejamento, usando estrutura de camuflagem e armamento apropriado, como mostram as imagens publicadas por ele. “Será que este animal tem predado outros animais dentro da reserva? O controle do javali é uma necessidade ambiental”, questiona Carvalho, reforçando o argumento de que o controle, além de legal, é essencial para a proteção de ecossistemas frágeis como o da Serra da Canastra.
Preservação sob ameaça
A Serra da Canastra é conhecida por abrigar nascentes importantes, como a do rio São Francisco, e por sua rica biodiversidade do Cerrado. A presença descontrolada de javalis representa uma ameaça à integridade ecológica do parque e à sobrevivência de espécies já pressionadas por fatores como mudanças climáticas, incêndios e desmatamento no entorno da reserva.

Organizações ambientais, embora reconheçam os impactos negativos causados por javalis, também alertam para os riscos do mau uso da justificativa do controle populacional como pretexto para caça esportiva. Por isso, defendem que o manejo deve sempre ser cientificamente orientado, transparente e acompanhado de fiscalização rigorosa.
O caso do javali abatido na Serra da Canastra expõe um problema ambiental real e crescente. O avanço de espécies exóticas, como os javalis, demanda ações coordenadas de manejo, mas também levanta preocupações sobre os limites éticos e legais dessas medidas. O episódio também convida a sociedade e os órgãos ambientais a repensarem políticas públicas de prevenção, monitoramento e controle de espécies invasoras, protegendo, de fato, os ecossistemas que ainda restam.

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