Invasão de javalis deixa de ser ameaça apenas agrícola e acende alerta de segurança pública próximo a escola
O Brasil enfrenta um problema ecológico e econômico complexo com a proliferação descontrolada do javali (Sus scrofa). Por ser uma espécie exótica invasora, ela não possui predadores naturais em território nacional, o que permite um crescimento populacional exponencial e de difícil contenção.
Este cenário gera dois impactos principais:
- Prejuízos Econômicos: Os animais são uma ameaça direta à agricultura, atacando lavouras de milho, soja, feijão e hortas, além de representarem risco a rebanhos de aves e suínos.
- Risco Sanitário: Os javalis são vetores de doenças graves, como a peste suína (clássica e africana) e a febre aftosa, ameaçando a saúde pública e a pecuária nacional.
A dificuldade no manejo é agravada pelas características da espécie: um macho adulto pode ultrapassar 150 kg (com registros de espécimes acima de 250 kg), possui temperamento agressivo e alta capacidade reprodutiva, com fêmeas gerando até duas ninhadas de oito filhotes por ano.
Alerta Local: A Invasão Chega às Cidades
O que antes era uma preocupação restrita ao campo, agora se aproxima das áreas urbanas. Na segunda-feira (3), residentes de Coronel Domingos Soares (PR) expressaram grande preocupação ao Departamento de Jornalismo da Rádio Club de Palmas sobre avistamentos de bandos de javalis a poucos metros da zona urbana.
O ponto de maior tensão, segundo os relatos, foi a observação dos animais em uma propriedade próxima a uma instituição de ensino do município, elevando o debate da esfera agrícola para a de segurança pública.
O Debate sobre o Controle: Burocracia vs. Urgência
Atualmente, o abate de javalis é autorizado no Brasil desde 2013 por uma instrução normativa do Ibama. Contudo, o processo é considerado burocrático por muitos setores. Para atuar legalmente, o controlador precisa:
- Estar inscrito no Cadastro Técnico Federal (CTF);
- Possuir autorização de manejo específica;
- Registrar armas de fogo, se utilizadas, junto ao Exército.
Essa complexidade tem alimentado um intenso debate legislativo. Produtores rurais e parlamentares da Frente da Agricultura defendem a redução dos entraves e maior autonomia para os estados definirem suas próprias regras de manejo e fiscalização. Em contrapartida, pesquisadores e entidades de proteção animal pedem cautela, destacando os riscos sanitários e ambientais de um controle feito sem o devido rigor técnico.
Novas Perspectivas Legislativas
Em resposta às demandas, o Ibama informou, durante audiência pública em Brasília, que está desenvolvendo um novo sistema informatizado para agilizar a concessão de licenças e melhorar a rastreabilidade do processo.
Paralelamente, o debate avança no Congresso. O Projeto de Lei 4.253/2025, atualmente em análise na Comissão de Saúde da Câmara, propõe uma mudança significativa:
- Descentralização: Transfere a estados e municípios a competência para manejar espécies invasoras.
- Regulamentação: Autoriza a caça por controladores credenciados e permite a comercialização da carne e subprodutos, desde que submetidos à inspeção sanitária.
Esta proposta legislativa, somada a iniciativas estaduais (como um projeto que tramita no Paraná desde 2022), busca adaptar a legislação às necessidades locais, reduzindo a burocracia e agilizando a resposta a uma praga que já ultrapassou os limites das fazendas.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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