Fim de disputa judicial abre caminho para uma das maiores expansões industriais do setor; nova fábrica da J&F elevará capacidade para 4,4 milhões de toneladas/ano e impulsiona o “Vale da Celulose”
Após quase oito anos de disputa judicial bilionária com a sócia indonésia Paper Excellence, o grupo J&F, dos irmãos Batista, retoma em grande estilo os planos de expansão da Eldorado Brasil Celulose. A empresa confirmou a ampliação da planta industrial em Três Lagoas (MS), com investimento total estimado em R$ 25 bilhões, colocando o município de vez no radar das maiores potências da indústria global de celulose.
A retomada do projeto representa a consolidação de Três Lagoas como epicentro do chamado “Vale da Celulose”, região leste do Mato Grosso do Sul que se firma como polo estratégico para o setor. Atualmente, a fábrica da Eldorado já possui capacidade instalada de 1,8 milhão de toneladas por ano. Com a nova linha de produção de 2,6 milhões de toneladas/ano, a empresa passará a operar com 4,4 milhões de toneladas anuais em um único endereço – superando inclusive rivais como Arauco (3,5 milhões/ano) e Suzano.
Disputa encerrada e ampliação autorizada pela J&F
A confirmação do investimento vem na esteira do desfecho do litígio com a Paper Excellence. Em maio de 2025, a J&F concluiu a recompra de 49,41% das ações por R$ 15 bilhões, retomando o controle integral da Eldorado. O entrave judicial, considerado a maior disputa empresarial do país, travava há anos a expansão da fábrica, mesmo com o projeto já esboçado desde 2015, quando foi lançada a pedra fundamental da segunda linha.
Com o fim do impasse, a empresa obteve autorização do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para ampliar a produção da nova linha de 2,3 para 2,6 milhões de toneladas, com repasse de R$ 13,3 milhões em compensações ambientais – valor correspondente a 0,7% sobre um investimento incremental de R$ 1,9 bilhão.
Empregos, ferrovia e impacto regional
Segundo o próprio grupo J&F, o projeto total de R$ 25 bilhões contempla não apenas a fábrica da Paper Excellence, mas também investimentos em florestas, infraestrutura logística e transporte ferroviário, além de expansão da base florestal que já ultrapassa 250 mil hectares.
Um dos destaques logísticos é a construção de um ramal ferroviário de 90 km ligando Três Lagoas a Aparecida do Taboado, onde passa a Ferronorte. Por essa via, a celulose seguirá até o Porto de Santos. A obra da ferrovia exigirá, sozinha, cerca de R$ 1,5 bilhão.
A expectativa é de criação de até 10 mil empregos diretos durante o pico das obras e 1,5 mil vagas permanentes após a conclusão da nova unidade. O projeto é parte de um plano ainda mais ambicioso da J&F, que prevê R$ 50 bilhões em investimentos nas suas empresas nos próximos anos e geração de 50 mil novos empregos em todo o país.
Três Lagoas no topo do setor e avanço do Vale da Celulose
A ampliação da Eldorado Brasil coloca Mato Grosso do Sul entre os maiores produtores mundiais de celulose. Somando a produção da própria Eldorado às fábricas da Suzano (5,8 milhões/ano), Arauco (3,5 milhões/ano) e a futura planta da Bracell em Bataguassu (2,8 milhões/ano), o Estado pode atingir impressionantes 16,5 milhões de toneladas anuais, ultrapassando inclusive a produção de soja em 2023, que ficou em 15 milhões de toneladas.
A celulose já lidera a balança comercial do MS, impulsionando fortemente a economia da região leste do Estado, que também vê o avanço acelerado do cultivo de eucalipto para atender a crescente demanda industrial.
A volta do projeto da Eldorado Brasil, agora em ritmo acelerado, reforça o papel do Brasil como líder global no setor de celulose. Além disso, mostra como a resolução de litígios societários pode destravar bilhões em investimentos, com efeitos positivos diretos no emprego, na arrecadação e no desenvolvimento regional. O “Vale da Celulose” agora se consolida não apenas como realidade, mas como símbolo de um novo ciclo de industrialização no agronegócio brasileiro.
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