Julio Busato: O Visionário que redefiniu o agro no Oeste da Bahia

Sem rodovias, energia, escolas ou hospitais por perto, os Busato chegaram ao Oeste da Bahia com apenas uma certeza: aquela terra desafiadora escondia um futuro promissor

Era 1987 quando uma família de agricultores do sul do país, acostumada a lidar com a terra em pequenas proporções, decidiu encarar o desconhecido. Sem rodovias, energia, escolas ou hospitais por perto, os Busato chegaram ao Oeste da Bahia com apenas uma certeza: aquela terra desafiadora escondia um futuro promissor.

Entre eles estava Júlio Cézar Busato, então com pouco mais de 20 anos e prestes a se formar em engenharia agronômica. Filho de pequenos produtores do município de Casca (RS), ele cresceu em cima de um trator, desenvolvendo cedo uma afinidade quase intuitiva com o campo e com as máquinas. Quando viu pela primeira vez as planícies baianas, sentiu que ali havia espaço não apenas para plantar, mas para sonhar grande.

De terra pobre a celeiro de produtividade

O cenário era desanimador: solos arenosos, escassez de matéria orgânica e um entorno inóspito. Ouvia-se que era impossível fazer agricultura em solo tão pobre. Busato discordou. Viu vantagem no relevo plano, perfeito para operar máquinas pesadas e ampliar áreas de cultivo. Era o início de uma jornada que exigiria teimosia, técnica e visão de futuro.

Em poucos anos, a fazenda de 880 hectares arrendada pela família começou a dar sinais de crescimento. A soja e o milho deram os primeiros frutos. Mas foi por acaso — ou sorte — que o algodão entrou na história. Um surto de mosca branca ameaçou uma lavoura de feijão e forçou Júlio a mudar os planos. Ao invés de recuar, ele arriscou tudo em uma cultura nova para ele: o algodão.

Não demorou para que os resultados surpreendessem. Hoje, com nove fazendas em operação, o Grupo Busato cultiva 28 mil hectares de algodão e outros 32 mil de soja e milho. Sete mil desses hectares de algodão são irrigados com tecnologia de ponta — um modelo que ele mesmo introduziu na região e que virou referência nacional.

Foto: Abapa

Liderança que vai além do campo

Busato não é apenas produtor. Ao longo dos anos, tornou-se uma das principais vozes do agronegócio baiano. Já presidiu associações como a Aiba (Agricultores e Irrigantes da Bahia) e a Abapa (Produtores de Algodão), e foi peça-chave na criação de projetos de peso, como o Cotton Brazil e o movimento Sou de Algodão, que conectam o campo brasileiro aos mercados internacionais, apostando em rastreabilidade e sustentabilidade.

Sua influência não vem de discursos prontos, mas da prática. Foi ele quem alfabetizou os primeiros funcionários da fazenda, lendo manuais de operação de tratores para homens que nunca tinham frequentado uma sala de aula. Hoje, todos leem, escrevem e operam máquinas com eficiência — resultado de um processo de inclusão social silencioso, porém profundo.

Do volante de trator ao controle de gigantes

Mesmo com os olhos no futuro da lavoura, Busato nunca deixou de lado sua primeira paixão: máquinas. Durante uma visita à Bahia Farm Show, a maior feira agrícola do Nordeste, ele se emocionou ao ver de perto colheitadeiras de quase 850 cavalos. “Comecei num trator sem cabine, puxando uma plantadeira de 9 linhas. Agora temos máquinas com 60 linhas. É outra dimensão”, disse.

A família, inclusive, tornou-se concessionária da Fendt, marca premium do grupo AGCO. Em suas terras, as novidades do setor são testadas na prática antes de chegarem ao mercado. A tecnologia, para ele, não é um luxo: é ferramenta de transformação.

Foto: Divulgação

Um novo horizonte: biocombustíveis

Com o Brasil assumindo a liderança nas exportações globais de algodão na safra 2023/2024, Busato acredita que o setor está diante de uma nova fronteira: os biocombustíveis. A Bahia, diz ele, pode ser peça-chave nessa transição. O caroço do algodão, por exemplo, já é transformado em óleo — e a tendência é que novas formas de aproveitamento surjam.

“O agro brasileiro chegou a um patamar em que ninguém mais duvida da nossa capacidade. O que vem agora é o desafio de produzir com ainda mais inteligência, respeitando a terra e usando melhor nossos recursos. E eu quero fazer parte disso”, afirma.

Um legado fincado no cerrado

Mais do que plantar, colher ou presidir entidades, Busato ajudou a construir uma nova realidade no Oeste baiano. Em uma terra que antes era vista como inviável, ele enxergou oportunidade. Em um setor dominado por gigantes, construiu seu espaço com trabalho e persistência. E em cada pivô de irrigação ou colheitadeira em movimento, há um pouco da história de um menino que começou dirigindo trator aos 13 anos — e nunca mais parou.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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