Jumento, o “herói do sertão”, está dando a volta por cima

Ele foi abandonado, caluniado e desprezado décadas atrás e hoje é visto como uma oportunidade de investimento; queda de 94% do rebanho de jumentos no Brasil não existiu

Por Alex Bastos – Com uma valorização de mais de 1.200% nos últimos três anos, o jumento Nordestino começa a ter seu potencial reconhecido na pecuária nacional. Com o avanço das pesquisas, demanda internacional aquecida e sua grande versatilidade produtiva, a asininocultura passa a ser vista pelos criadores da Caatinga como uma atividade capaz de gerar impacto econômico, social e ambiental.

Essa nova realidade transforma o “herói desprezado” em personagem importante dentro da pecuária da região, permitindo uma nova realidade para a criação dos jumentos. Muitos ainda são encontrados soltos em estradas, rodovias, beira de rios e praias, elevando o risco de acidentes nessas localidades. A espécie já provou ter exitosa adaptação e incrível capacidade reprodutiva no Nordeste, região com clima parecido com a da sua origem, a Etiópia.

O Brasil precisa garantir condições para desenvolvimento da espécie. Quando se valoriza, cuida, investe na produção, recria e engorda, o ciclo da cadeia se retroalimenta, pois existe sustentabilidade e viabilidade financeira para tal. Se não houver valorização e função social, corre-se o risco de abandono e de, no futuro, se tornar apenas um animal de zoológico.

Este trabalho passa ainda por maior clareza dos dados da atividade, garantindo que a sociedade em geral tenha acesso a informações reais e oficiais. Infelizmente, certos grupos vêm divulgando uma extinção que nunca existiu, baseada em achismos e, não em dados oficiais. Na “Lista de Vigilância Mundial” da FAO/ONU para a diversidade de animais domésticos, fica claro no capítulo de “Critérios para determinar raças em risco” a seguinte afirmação de análise de critérios: Se o número total de fêmeas e machos reprodutores for maior que 1000 e 20, respectivamente essa raça está “fora de risco de extinção”.

Esta é a definição para mensurar uma raça “Fora de risco de extinção“. Portanto, não existe nenhuma possibilidade cabível para classificar a extinção dos jumentos do Brasil. Inventam números e ainda arriscam dizer que são oficiais para defenderem interesses próprios.

O último dado oficial de levantamento dos números de asininos no Brasil ocorreu pelo Censo Pecuário do IBGE em 2017. Não existe nenhum outro levantamento ou dado oficial desde então. A espécie, inclusive, foi retirada dos levantamentos após 2017, decisão que pode ter sido tomada com base no subcadastramento de jumentos que permanece ao longo de décadas no país. A tentativa de afirmação propagada nos últimos meses de que 94% dos jumentos sumiram do Brasil é falsa e caluniosa. Não se sustenta e não tem nenhum embasamento técnico ou oficial.

Dentro desse cenário, os profissionais da Zootecnista e Medicina Veterinária são peças importantes. Eles têm em seus juramentos a missão de realizar uma visão humanitária da pecuária que busque o potencial de crescimento humano e a produção animal, bem como o dever do desenvolvimento técnico e científico para a busca da qualidade dos produtos de origem animal. Devem ser os incentivadores e fomentadores da consolidação de cadeias produtivas animais.

Jumentos pastando em fazenda na Bahia
Foto: Divulgação

Asininocultura tem grande potencial produtivo

Nosso país é vocacionado a produzir proteínas, basta ver o exemplo da bovinocultura, que agora lidera a produção e exportação de carne bovina no mundo, sendo o segundo maior rebanho mundial. Os pecuaristas brasileiros ofertam 40 milhões de animais por ano e crescem 1,5 a 2% sobre um rebanho de mais de 230 milhões. Sabem qual é o segredo desse sucesso? É a valorização do animal.

O Brasil é o único país no mundo com maior capacidade de produção para proteína, colágeno e leite de asininos, além de ter um custo produtivo muito competitivo. E o Semiárido Nordestino reúne condições ideais para liderar essa atividade. Tem terras de valor mais acessível, potencial de águas subterrâneas e vegetação de caatinga, ou seja, um conjunto de fatores que, com manejo adequado e controle zootécnico de produção, torna a região imbatível na asininocultura. Se espécies mais exigentes do ponto de vista nutricional não teriam bom desempenho no Semiárido por conta dos baixos e até escassos índices pluviométricos, o asinino já provou ser altamente produtivo nessas condições.

Com investimentos na atividade, o Brasil tem a chance de ampliar ainda mais sua atuação no mercado mundial. Será o retorno da vida digna aos jumentos, nosso “herói nordestino”.

Alex Bastos é Zootecnista

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