Juros altos prejudica o agronegócio, afirmam especialistas

O Brasil conseguiria aumentar muito mais a produção do agro se tivesse mais acesso ao crédito; Plano Safra é insuficiente para sustentar o desenvolvimento do agro

O elevado patamar da taxa de juros — em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado — prejudica a capacidade produtiva do agronegócio, afirmaram especialistas à CNN. Isso porque, de acordo com eles, o encarecimento do mercado de crédito atravanca o acesso a insumos, tecnologias e áreas agricultáveis, afetando a produtividade do setor. “Vemos diversos desafios na parte operacional, sendo o principal deles o acesso ao crédito, em especial a pequenos e médios produtores”, diz Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da XP.

“Um cobertor mais curto dificulta a compra de insumos e tecnologias para conseguir sustentar a produção de alimentos. Sem dúvidas, o Brasil conseguiria aumentar muito mais a produção do agro se tivesse mais acesso ao crédito. O Plano Safra é interessante nesse ponto por empregar taxas de juros mais baixas, mas não é o suficiente para sustentar o desenvolvimento da agricultura.”

O Plano Safra, vale o parêntesis, é um programa de financiamento do governo federal para a atividade agrícola, destinado a pequenos, médios e grandes produtores. Cada um desses três grupos recebe volumes diferentes de recursos, e a taxa de juros aplicada também varia considerando o tamanho da produção.

Atualmente, os valores disponibilizados para a safra 2022/2023 giram em torno de R$ 53 bilhões para o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), destinado aos pequenos produtores, com taxas em torno de 5% ao ano. Para os produtores que se encaixam no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), são R$ 44 bilhões, com juros de 8%.

Porém, como dizem os especialistas, só o Plano Safra não é o suficiente. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor demanda mais de R$ 1 trilhão ao ano em recursos — e 1/3 desse valor advém do programa do governo federal. O restante é viabilizado por empresas privadas, mais suscetíveis às taxas de juros de referência do país.

“Se os produtores precisam buscar os outros 2/3 no mercado privado, que é pautado pela Selic, os investimentos são menores. Não fomentar investimentos reduz a tecnologia empregada, que, por sua vez, reduz a produtividade. Nós já temos diversos anos de atraso nesse sentido, fora os gargalos no setor produtivo que vieram com a pandemia”, afirma Guilherme Rios, assessor técnico da CNA.

Rios diz que esse cenário chega a afetar os grandes produtores e as empresas com capital aberto na Bolsa de Valores. “Como a economia é toda interligada, os custos também são. O impacto da taxa é para todo mundo, e as grandes empresas podem sofrer com uma redução de áreas produtivas.”

Leonardo Alencar, da XP, menciona ainda outro impacto aos grandes produtores: a viabilização de projetos de médio e longo prazo e o valor de mercado de empresas de capital aberto.

“Uma empresa com lista de projetos, seja investimentos em usina, seja em melhora tecnológica, está sempre pensando no retorno, e isso é muito sensível a custo de capital. Na prática, empresas que tinham muitos projetos provavelmente tiveram que engavetá-los por causa dos juros, já que o retorno, nesse cenário, é prejudicado”, explica.

“Na outra ponta, empresas listadas na Bolsa têm seu valor de mercado avaliado sempre com base nas perspectivas de caixa futuras, descontados os custos de capital. Quando essa taxa de desconto aumenta, o valor da empresa diminui, e isso impacta na Bolsa.”

Do ponto de vista do consumo doméstico, Leandro Gilio, professor e pesquisador sênior do centro de Agronegócio Global do Insper, chama atenção para a redução da demanda do consumidor.

O especialista explica que o consumo é afetado não só pela redução da produtividade — que, pela lei da oferta e demanda, tende a encarecer os produtos –, mas também pelo desaquecimento da economia como um todo.

“A Selic alta impacta em uma menor dinamização da atividade, que afeta renda e emprego. Isso diminui a demanda por produtos, notadamente aqueles de grande volume e mais caros, como as proteínas animais”, explica.

“Se o consumidor tem uma renda mais afetada, ele costuma optar por produtos mais baratos, o que pode diminuir o consumo doméstico de determinados ramos do setor.”

Adaptado de CNN Brasil

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