Laticínios preferem comprar de grandes produtores

Num ano em que a produção brasileira de leite se recuperou, a captação da matéria-prima pelas 14 maiores empresas de lácteos do país avançou 5,6%, de acordo com o ranking de 2017 da Leite Brasil – associação que reúne produtores.

O levantamento mostrou que essas companhias receberam um total de 8,605 bilhões de litros no ano passado – as mesmas empresas haviam captado 8,152 bilhões de litros em 2016.

Mais uma vez, a multinacional Nestlé foi a primeira no ranking de captação de leite, com a aquisição de 1,694 bilhão de litros no ano passado, levemente acima do resultado de 2016. No entanto, a francesa Lactalis, que havia sido a segunda no ranking de 2016 – com 1,622 bilhão de litros no ano -, não participou do último levantamento. Isso levou o Laticínios Bela Vista, dono da marca Piracanjuba, ao posto de segundo colocado na lista, com o recebimento de 1,322 bilhão de litros de leite, quase 21% acima da captação de 2016, quando ficara na quarta posição.

Sem a Lactalis, que teria reduzido sua captação, segundo fontes do mercado, o ranking passou a ter 14 empresas – haviam sido 15 no ano anterior.

Outra mudança relevante em relação a 2016 foi o desempenho da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR)/Itambé, cuja captação teve queda de 9,8%, para 996 milhões de litros, o que fez a empresa cair uma posição no ranking.

Embora sirva como termômetro sobre a captação de leite no país, o ranking da Leite Brasil não inclui empresas relevantes, como Italac e Tirol, que não fornecem seus números. Segundo fontes do mercado, a Italac captaria um volume de leite semelhante ao da Nestlé e a catarinense Tirol, uma quantia superior à da CCPR.

Grandes responsáveis por mudanças no ranking de captação em 2017, Lactalis e CCPR/Itambé travam uma disputa com a Vigor, hoje controlada pela mexicana Lala e décima na lista das maiores. Em dezembro do ano passado, a francesa comprou a Itambé da CCPR, negócio questionado pela Vigor na Justiça e na Câmara de Arbitragem Brasil-Canadá. A transação foi anunciada um dia depois de a CCPR exercer seu direito de preferência e recomprar da Vigor os 50% na Itambé. A possibilidade de recompra estava prevista no acordo de acionistas entre CCPR e Vigor, e foi deflagrada com a venda da Vigor para a Lala, em setembro de 2017.

A indefinição sobre o futuro da Itambé gerou incertezas na empresa e levou à perda de produtores para concorrentes, por isso houve queda na captação de leite em 2017, segundo fontes do setor. E o futuro da empresa segue indeterminado, pois em março a Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu suspender a venda da Itambé à Lactalis até decisão do tribunal arbitral sobre a validade do negócio.

A Lactalis, que chegará a uma captação estimada de cerca de 2,5 bilhões de litros de leite por ano se o negócio com a Itambé for confirmado, não respondeu ao pedido da reportagem para comentar sua saída do ranking. A CCPR também não comentou.

Para analistas, o ranking mostra o movimento de consolidação pelo qual passa o segmento de lácteos no país. Revela ainda que cada vez mais grandes empresas dão preferência a produtores de leite de maior porte, mais tecnificados e produtivos. Segundo o ranking, o número de fornecedores para as 14 empresas em 2017 caiu 5%. Por outro lado, o volume diário de litros por produtor cresceu 7,1%.

Primeira no ranking, a Nestlé disse, em nota, que “o aumento da capacidade de produção diária de leite está ligado a uma série de ações que realizamos com a cadeia fornecedora em busca de uma atuação com mais qualidade e eficiência”. Sobre a redução de 12,2% no número de fornecedores, disse que “com o aumento da capacidade de produção diária de nossos produtores, atingimos a captação de leite necessária para nossas operações com um número menor de fornecedores”. Por isso, transferiu um posto de recepção de leite no Rio Grande do Sul a outra empresa, que absorveu a capacidade dos produtores locais.

A Laticínios Bela Vista, por sua vez, viu seu número de fornecedores de leite subir 7,7 % no ano passado sobre 2016. Segundo a empresa, isso ocorreu porque houve crescimento de capacidade em sua unidade no Sul do país, onde grande parte dos fornecedores é de menor porte.

A companhia informou ainda que conseguiu ampliar os volumes de leite adquiridos em 2017 para industrialização porque havia oportunidade no mercado para ocupar espaço de concorrentes que enfrentaram dificuldades.

Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, observa que 2017 foi um ano de recuperação na industrialização de leite, quando os laticínios do país como um todo adquiriram 24,1 bilhões de litros, 4,1% mais que no ano anterior. Para ele, o aumento poderia ter sido maior não fosse a queda nos preços ao produtor de leite no segundo semestre do ano passado. Para 2018, a expectativa do dirigente é que “a produção industrializada deve crescer modestamente”.

Com informações do Valor.

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