
Plano de reestruturação da Lavoro, gigante dos insumos agrícolas, inclui extensão de prazos com fornecedores como BASF, FMC e UPL; empresa enfrenta queda de receita, prejuízos bilionários e fechou 70 lojas no Brasil
Após meses de rumores e pressões crescentes do mercado, a Lavoro — uma das maiores distribuidoras de insumos agrícolas da América Latina — oficializou um acordo de recuperação extrajudicial no valor de R$ 2,5 bilhões com seus principais fornecedores. A medida visa dar fôlego à companhia diante de uma grave crise operacional que envolveu queda acentuada nas receitas, prejuízos consecutivos e o fechamento de cerca de 30% de suas lojas no Brasil.
A deterioração das finanças da empresa foi intensificada por uma combinação de fatores estruturais e conjunturais. Desde 2024, produtores rurais enfrentam queda na rentabilidade e dificuldades de crédito, o que afetou diretamente as revendas de insumos.
A Lavoro, controlada pelo Pátria Investimentos, foi impactada pela queda no preço de commodities, escassez de estoques e dificuldades logísticas, resultando em cancelamentos de pedidos e forte retração no faturamento.
No segundo trimestre fiscal de 2025, a companhia reportou queda de 27% na receita consolidada, somando R$ 2,25 bilhões. O lucro bruto caiu 28%, atingindo R$ 366,9 milhões. As operações de varejo no Brasil foram as mais afetadas, com queda de 30% na receita e margem bruta de apenas 11,5%.
Detalhes do plano de recuperação extrajudicial da Lavoro
O acordo, que ainda depende de homologação judicial, envolve fornecedores estratégicos como BASF, FMC Agrícola e UPL Brasil — responsáveis por cerca de 40% das dívidas reestruturadas. Segundo o CEO Ruy Cunha, o plano já possui o apoio de aproximadamente 36% a 40% dos credores, e a meta é alcançar 50% do total em até 90 dias para garantir a validação judicial.
Diferente da recuperação judicial, a recuperação extrajudicial (RE) permite à empresa negociar diretamente com os credores e só exige a homologação da Justiça, sem a necessidade de assembleia.
O plano divide os credores em cinco categorias e apresenta diferentes prazos e condições:
- Credores Especiais (como grandes fabricantes de insumos): receberão 100% dos créditos, com correção pelo IPCA, em oito parcelas semestrais entre setembro de 2025 e abril de 2029. Até 20% dos valores poderão ser pagos em produtos de estoque;
- Credores Gerais: condições semelhantes, com pagamento em 10 parcelas semestrais até 2030;
- Credores Sementeiros: receberão integralmente, também corrigidos, entre outubro de 2025 e setembro de 2027;
- Credores Pequenos: valores de até R$ 50 mil serão pagos à vista, com a dívida remanescente extinta;
- Credores não aderentes ao plano: terão deságio de 50%, com pagamento único apenas em 2032.
“Enxugamos 30% das lojas do Brasil, foi um esforço grande na parte de despesas. Eu não descarto ter que fazer algum outro ajuste operacional. Pontualmente, ainda podemos fazer alguns ajustes para garantir que tamanho e eficiência estejam de acordo com o nosso plano,” disse Cunha.
Cortes operacionais e impacto na estrutura da empresa
Como parte da estratégia de contenção, a Lavoro anunciou, ainda em fevereiro, o fechamento de 70 das 187 lojas no país, o que representa cerca de 10% de sua receita total. A medida visava redução de custos fixos, sobreposições regionais e melhora na eficiência do capital de giro.
Além disso, a empresa está reestruturando suas operações com apoio da consultoria Alvarez & Marsal e do escritório Pinheiro Neto Advogados, além de manter negociações bilaterais à parte com bancos como Itaú, Banco do Brasil e Citi, para renegociar R$ 1,2 bilhão em dívidas financeiras, inclusive R$ 420 milhões em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).
O cenário negativo se reflete também nos balanços passados. A empresa fechou o ano-safra 2023/2024 com prejuízo acumulado de R$ 1,46 bilhão, somando os quatro trimestres, com destaque para os R$ 796 milhões negativos no último período. No início do atual exercício, o prejuízo já atingia R$ 267,1 milhões.
Na bolsa de valores americana Nasdaq, onde a Lavoro é listada, as ações da empresa acumulam queda de 48% em 2025, sinalizando a perda de confiança de investidores no desempenho da companhia.
Perspectivas e próximos passos
Segundo Cunha, o foco agora é estabilizar a operação no Brasil e garantir continuidade de fornecimento aos agricultores, que dependem da revenda para viabilizar suas produções. O plano de RE, além de renegociar passivos, também cria contratos plurianuais de fornecimento para reforçar a previsibilidade e blindar a cadeia de suprimentos contra novos choques de crédito.
O CEO destaca que, embora o cenário siga desafiador, não há previsão imediata de novos aportes do Pátria Investimentos, controlador da Lavoro. A expectativa é que a reestruturação proporcione o fôlego necessário para a companhia retomar gradualmente o crescimento e superar a fase mais crítica de sua história recente.
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