Após adiamento da assinatura do acordo Mercosul–União Europeia, presidente brasileiro afirma que há maioria suficiente no bloco europeu para aprovar o tratado e aposta em formalização já no início de 2026, durante a presidência do Paraguai no Mercosul.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (20) que a França, isoladamente, não tem força política para impedir a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul-União Europeia. A declaração foi feita após o adiamento da assinatura do tratado, que era esperada para ocorrer durante a cúpula do Mercosul realizada em Foz do Iguaçu (PR).
Segundo Lula, o impasse momentâneo não altera o cenário geral de apoio ao acordo dentro do bloco europeu. O presidente relatou ter conversado diretamente com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que teria manifestado disposição para assinar o tratado já no início de janeiro. De acordo com Lula, tanto von der Leyen quanto o presidente do Conselho Europeu, António Costa, avaliaram que a resistência francesa, sozinha, não seria suficiente para barrar o pacto.
“Se ela estiver pronta para assinar e faltar apenas a França, não haverá possibilidade de o país impedir o acordo”, afirmou o presidente brasileiro. Lula acrescentou que espera a formalização do tratado ainda no primeiro mês da presidência paraguaia do Mercosul, sob comando do presidente Santiago Peña.
Por que a assinatura foi adiada
A Comissão Europeia planejava selar o acordo neste sábado, o que criaria a maior zona de livre comércio do mundo, conectando economias da América do Sul e da Europa. No entanto, o cronograma mudou após a Itália se alinhar à França para pedir mais tempo de negociação e a inclusão de salvaguardas adicionais ao setor agrícola europeu.
Lula explicou que o entrave mais recente surgiu após manifestações da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que alegou dificuldades internas relacionadas à distribuição de subsídios agrícolas na União Europeia. Segundo o presidente brasileiro, Meloni enfrenta pressão de produtores rurais italianos e, por isso, pediu adiamento para avaliar garantias adicionais ao setor .
Apesar disso, fontes ouvidas pela agência AFP indicam que a conclusão do acordo pode ocorrer no dia 12, no Paraguai, e a própria Ursula von der Leyen classificou o adiamento como breve, demonstrando confiança de que há maioria suficiente para a assinatura.
Resistência francesa e temor do agronegócio europeu ao acordo entre Mercosul–União Europeia
A França segue como principal foco de resistência dentro da União Europeia. O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que o país não apoiará o acordo sem novas salvaguardas para proteger os agricultores franceses. Para Paris, o tratado representa risco de concorrência desleal, diante da entrada de produtos agropecuários do Mercosul considerados mais baratos e produzidos sob regras ambientais diferentes das europeias.
Macron afirmou que “as contas não fecham” para o setor agrícola francês e reforçou que a França se oporá a qualquer tentativa de acelerar a aprovação sem ajustes no texto. Ainda assim, o próprio presidente francês admitiu que o adiamento de um mês pode ser suficiente para discutir as condições exigidas.
Apoio de Alemanha, Espanha e países nórdicos
Enquanto França e Itália demonstram cautela, Alemanha, Espanha e países nórdicos defendem o avanço do acordo Mercosul–União Europeia firmado politicamente em 2024 com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que a União Europeia precisa tomar decisões rápidas para manter credibilidade na política comercial global.
Esses países avaliam que o tratado pode compensar os efeitos de tarifas impostas pelos Estados Unidos, reduzir a dependência europeia da China e ampliar o acesso a novos mercados e minerais estratégicos — fatores que reforçam o apoio ao pacto dentro do bloco europeu .
O que prevê o acordo Mercosul–UE
Negociado há cerca de 25 anos, o acordo Mercosul–União Europeia prevê a redução ou eliminação gradual de tarifas de importação e exportação, além da harmonização de regras para comércio de bens industriais e agrícolas, investimentos, serviços, propriedade intelectual e padrões regulatórios. Embora o debate público esteja concentrado no agronegócio, o tratado vai muito além da agricultura e envolve diversos setores estratégicos das duas regiões.
Como funciona a aprovação e onde está o maior risco
A ratificação do acordo Mercosul–União Europeia depende do aval do Conselho Europeu, que exige maioria qualificada: apoio de pelo menos 15 dos 27 países da União Europeia, representando 65% da população do bloco. É justamente nessa etapa que se concentra o principal risco político de o acordo não avançar, apesar do apoio declarado de grandes economias europeias.
Caso o acordo seja aprovado no Conselho, a expectativa inicial era de que Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil ainda neste ano para a ratificação formal — algo que, com o adiamento, deve ficar para o início de 2026. Ainda assim, o governo brasileiro mantém otimismo. Para Lula, o isolamento francês não será suficiente para impedir um acordo considerado estratégico tanto para o Mercosul quanto para a União Europeia .
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.