Maior drone agrícola do mundo não decolou, mesmo após captar R$ 19 milhões em 2025

Após captar R$ 19 milhões e prometer revolucionar a pulverização agrícola, startup descontinua projeto do Harpia P-71, demite 130 funcionários e aposta agora em inteligência artificial para sobreviver.

A promessa era ambiciosa e chamou a atenção de todo o agronegócio brasileiro: desenvolver o maior drone agrícola do mundo, capaz de transformar a pulverização no campo, reduzir custos operacionais e ampliar a eficiência das lavouras. No entanto, em 2025, o projeto Harpia P-71, da startup brasileira Psyche Aerospace, tornou-se um dos casos mais emblemáticos de frustração no ecossistema agrotech nacional — e um alerta claro sobre os riscos de inovação sem sustentação financeira sólida.

Fundada por Gabriel Leal, então com apenas 24 anos, a Psyche Aerospace ganhou projeção nacional ao anunciar o Harpia P-71, um drone híbrido, movido a etanol e eletricidade, com capacidade de transportar até 400 quilos de defensivos agrícolas. O plano era ousado: atender cerca de 500 mil hectares em operações de pulverização no Brasil, substituindo parte das aplicações feitas por aviões agrícolas tradicionais.

O projeto foi apresentado em grandes feiras do agro, como a Agrishow, e chegou a gerar cartas de intenção com empresas agrícolas de grande porte, que viam no Harpia uma possível revolução logística e operacional. O entusiasmo ajudou a startup a captar R$ 19 milhões em investimentos, consolidando a Psyche como uma das apostas mais comentadas do setor.

Apesar do interesse inicial, o drone nunca chegou a realizar voos comerciais nem testes operacionais em campo, condição essencial para transformar as cartas de intenção em contratos efetivos. Segundo a empresa, muitos desses acordos estavam condicionados justamente à comprovação prática da tecnologia — algo que não aconteceu.

Os desafios se acumularam rapidamente. O desenvolvimento do Harpia consumia milhões de reais por mês, exigindo uma nova rodada de investimentos para seguir adiante. No início de 2024, a Psyche tentou levantar R$ 50 milhões adicionais, mas não conseguiu atrair novos aportes. Sem caixa e sem contratos, o projeto tornou-se inviável.

Em 16 de maio de 2025, a startup tomou a decisão mais dura de sua história: encerrar a divisão de drones e promover a demissão de cerca de 130 funcionários na sede de São José dos Campos (SP). A empresa reduziu drasticamente sua operação e transferiu o foco para Campinas (SP), passando a operar com uma equipe enxuta, entre 25 e 30 colaboradores.

O caso ganhou repercussão nacional não apenas pelo número de demissões, mas pelo contraste entre a promessa de transformação do agro e a interrupção abrupta do projeto.

Com o Harpia fora do radar no curto prazo, a Psyche Aerospace decidiu redirecionar sua estratégia. A empresa passou a concentrar esforços na plataforma Turing, uma solução baseada em inteligência artificial e imagens de satélite para monitoramento agrícola.

Apresentada como um “ChatGPT do Agro”, a ferramenta permite avaliar a saúde das lavouras, identificar doenças por imagens e analisar produtividade. Lançada em janeiro, a plataforma deve ganhar uma nova versão nos próximos 30 dias, inicialmente com acesso gratuito. A expectativa da empresa é adotar futuramente um modelo de assinatura mensal, estimado em US$ 19, buscando rentabilidade no curto prazo.

Apesar do revés, Gabriel Leal afirma que o projeto do Harpia P-71 não foi definitivamente abandonado. Segundo ele, a Psyche ainda busca investidores dispostos a aportar entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões para retomar o desenvolvimento do drone. A estratégia, caso o capital seja viabilizado, seria apresentar voos experimentais para demonstrar a viabilidade técnica do equipamento.

maior drone agrícola do mundo
Imagem: Divulgação/Psyche Aerospace

A trajetória da Psyche Aerospace escancara os desafios de empreender com tecnologias disruptivas no agronegócio, um setor que exige confiabilidade, robustez operacional e resultados comprovados em campo. Mais do que ideias inovadoras, projetos desse porte demandam maturidade financeira, cronogramas realistas e forte capacidade de execução.

Enquanto imagens e vídeos do Harpia P-71 seguem circulando nas redes sociais e lembrando o potencial que encantou o setor, a realidade é clara: o maior drone agrícola do mundo, por enquanto, continua no solo — como símbolo de um sonho ambicioso que esbarrou nos limites do capital, do tempo e da execução.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM