Baixa liquidez, escalas confortáveis dos frigoríficos e consumo mais cauteloso no início do ano explicam a acomodação dos preços, enquanto o mercado do boi gordo aguarda definições internas e externas
O mercado do boi gordo chega aos últimos dias do ano em ritmo lento e com negociações pontuais, refletindo um cenário típico do período entre o Natal e o Réveillon. A combinação de menor presença de compradores, escalas de abate relativamente confortáveis e produtores mais resistentes a fechar negócios tem resultado em acomodação das cotações, sem grandes oscilações de preços nas principais regiões produtoras do país.
Segundo análise divulgada, o fluxo de negócios segue inexpressivo, algo considerado natural para esta época do ano. De acordo com o analista Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado, o ambiente indica manutenção desse cenário ao menos até a virada do calendário, quando as negociações tendem a voltar de forma mais regular. “O mercado sugere acomodação até a próxima semana, quando os negócios devem acontecer de maneira mais rotineira”.
Arroba do boi gordo permanece estável nas principais regiões
Mesmo com a lentidão nas negociações, os preços médios do boi gordo se mantiveram firmes, sem recuos expressivos. Nas principais praças monitoradas, as referências registradas foram:
- São Paulo: R$ 319,42/@
- Goiás: R$ 310,75/@
- Minas Gerais: R$ 312,94/@
- Mato Grosso do Sul: R$ 311,01/@
- Mato Grosso: R$ 299,80/@
Esses valores reforçam a leitura de um mercado equilibrado, no qual a oferta disponível encontra demanda suficiente para evitar quedas mais acentuadas, mesmo em um período de baixa liquidez .
Escalas de abate confortáveis reforçam posição das indústrias
Outro fator que pesa sobre o comportamento do mercado é a posição relativamente confortável das indústrias frigoríficas. Conforme destacado pelas consultorias, as escalas de abate giram em torno de 13 dias em São Paulo, o que reduz a urgência das compras no mercado spot.
Levantamento da Scot Consultoria aponta que, em algumas situações, indústrias chegaram a testar ofertas abaixo das referências, especialmente após completar escalas para a terceira semana de janeiro, mas sem sucesso na concretização de negócios. O resultado foi a manutenção dos preços em todas as categorias do boi gordo no estado paulista .
Em Minas Gerais, o cenário é semelhante. No Triângulo Mineiro, as escalas também alcançam cerca de 13 dias, enquanto na região de Belo Horizonte ficam em torno de sete dias, indicando um mercado regionalizado, mas igualmente marcado pela cautela .
Atacado tem consumo aquecido, mas preços seguem pressionados
No mercado atacadista de carne bovina, o fim de ano trouxe bom ritmo de vendas, impulsionado por confraternizações e pelo aquecimento do varejo. Esse movimento estimulou a reposição de estoques, especialmente nos últimos dias de dezembro.
Ainda assim, a Scot Consultoria observa que, pela segunda semana consecutiva, houve espaço para recuos nas cotações das carcaças casadas. A carcaça do boi inteiro apresentou queda de 2,8%, enquanto vaca e novilha também registraram ajustes negativos. Em contrapartida, proteínas concorrentes, como frango e suíno, apresentaram leve valorização, reforçando a preferência do consumidor por opções mais acessíveis no início do ano .
Consumo mais cauteloso e cenário externo no radar
O padrão de consumo para o primeiro trimestre também influencia o mercado. Segundo Iglesias, há uma tendência de maior procura por proteínas mais baratas, como frango, ovos e embutidos, devido às despesas típicas do início do ano, como impostos, material escolar e contas acumuladas.
Além disso, o mercado acompanha com atenção os rumores sobre a investigação de salvaguarda conduzida pela China, que pode impactar diretamente as exportações brasileiras de carne bovina. A expectativa é de que haja alguma definição antes do fim de 2025, fator que adiciona cautela às decisões tanto de frigoríficos quanto de pecuaristas .
Câmbio também entra na equação do mercado do boi gordo
No campo macroeconômico, o dólar encerrou a sessão em alta de 0,48%, cotado a R$ 5,57, o que segue favorecendo as exportações no médio prazo. No entanto, esse efeito positivo ainda não foi suficiente para alterar a dinâmica de curto prazo do mercado físico, dominado pelo ritmo lento típico do fim de ano .
Perspectiva para a virada do ano
Com a chegada de janeiro, a expectativa do mercado é de retomada gradual das negociações, à medida que frigoríficos voltam às compras regulares e produtores reavaliam suas estratégias de venda. Até lá, o cenário segue marcado por preços estáveis, liquidez reduzida e cautela generalizada, desenhando um encerramento de ano previsível, porém estratégico, para a pecuária brasileira.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.