
Novo método propõe cálculo mais preciso da calagem – para correção da acidez do solo – para aumentar produtividade e promete ganhos expressivos também na soja
Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) desenvolveram um método inovador e mais preciso para estimar a necessidade de calagem, prática essencial no manejo de solos tropicais. O estudo, publicado na renomada revista internacional Soil & Tillage Research, traz uma solução para um dos maiores entraves da agricultura brasileira: a acidez elevada e a baixa fertilidade natural dos solos.
Fruto de dez anos de investigações e da experiência acumulada ao longo de quase três décadas pelo professor Silvino Guimarães Moreira, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/UFLA), o método busca corrigir falhas dos cálculos atuais de calagem, que frequentemente subestimam as doses necessárias.
Essa subestimação resulta em reaplicações sucessivas de calcário, perda de tempo e custos adicionais — problema agravado em áreas arrendadas, onde o retorno do investimento precisa acompanhar o ciclo produtivo.
Diferente dos métodos convencionais, a nova metodologia leva em conta a relação entre cálcio, magnésio e pH do solo, permitindo recomendações específicas para duas profundidades: de 0 a 20 cm e de 0 a 40 cm. A inclusão da camada mais profunda favorece a correção da fertilidade do subsolo, ampliando o volume explorado pelas raízes e melhorando a resiliência das plantas.
Experimentos e resultados em campo
O estudo se apoiou em sete experimentos de campo realizados em municípios de Minas Gerais — Ijaci, Nazareno, Ingaí, Uberlândia, Araguari, São João del Rei e Formiga — ao longo de quatro anos e 14 safras distintas. Essa diversidade de solos e climas garantiu a robustez dos resultados.
Os dados demonstraram que, com a nova abordagem, é possível:
- Aumentar a produtividade do milho em até 50%, especialmente na segunda safra em condições de veranico;
- Elevar os rendimentos da soja em até 30%;
- Garantir maior desenvolvimento radicular em profundidade, permitindo às plantas acessar água e nutrientes em períodos críticos de déficit hídrico.
Um dos pontos mais relevantes foi a definição de novos níveis críticos de cálcio e magnésio no solo. Para atingir 95% da produtividade potencial, os pesquisadores concluíram que é necessário garantir 60% de cálcio na camada de 0–20 cm e 39% na de 20–40 cm.

A visão do campo
O produtor Evandro Ferreira, da Fazenda Campo Grande, em Nazareno, reforça que a pesquisa mudou a forma de entender a calagem:
“As chamadas altas doses de calcário não representam excesso, mas sim uma aplicação criteriosa, ajustada às reais necessidades do solo.”
Em seus experimentos, lavouras de milho adubadas com 12 t/ha de calcário mostraram desenvolvimento visivelmente superior às áreas corrigidas com apenas 3 t/ha.
Aplicação prática e impactos
O método deu origem a uma fórmula prática de recomendação, que já está sendo utilizada em lavouras sob sistema de plantio direto e em áreas em reabertura agrícola. Além disso, os testes começam a ser expandidos para culturas perenes, como o café.
Os benefícios esperados incluem:
- Maior eficiência no uso de insumos;
- Redução de custos no longo prazo, ao evitar reaplicações;
- Aumento da resiliência das lavouras frente às mudanças climáticas;
- Contribuição direta para a segurança alimentar e para a sustentabilidade agrícola nacional.
Contribuição científica e legado da UFLA
A pesquisa com novo método de cálculo da calagem reafirma a tradição da UFLA em ciência do solo, área em que a instituição é referência nacional e internacional. O trabalho foi conduzido pelo Grupo de Pesquisa em Sistemas de Produção (GMAP), envolvendo cerca de 30 estudantes de graduação, mestrado e doutorado, e contou com a participação de pesquisadores como Josias Reis Flausino Gaudencio, Flávio Araújo de Moraes, Everton Geraldo de Morais, Devison Souza Peixoto, Hugo Carneiro de Resende, Júnior Cézar Resende Silva e Otávio Lopes Vieira Campos.
O projeto teve origem na tese de doutorado de Flávio Moraes (2017) e se expandiu em 2018 com dissertações realizadas no Triângulo Mineiro. Agora, com a publicação internacional, o método ganha projeção global e potencial para transformar a agricultura em solos tropicais.
“Trata-se de uma contribuição relevante não apenas para Minas Gerais, mas para toda a agricultura tropical, onde solos ácidos e intemperizados ainda são barreiras para altas produtividades”, conclui o professor Silvino.
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