Método transforma a biomassa – resíduo da indústria de celulose – em arma contra ervas daninhas

Tecnologia do INCT NanoAgro utiliza lignina Kraft – resíduo da indústria de celulose – para criar nanomateriais capazes de transportar herbicidas com mais precisão, reduzindo impactos ambientais e fortalecendo a economia circular

Pesquisadores brasileiros acabam de apresentar um avanço científico que promete transformar o manejo de plantas daninhas e abrir caminho para um modelo mais sustentável dentro do agronegócio. A inovação desenvolvida pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro) propõe o uso da lignina Kraft, um subproduto abundante da indústria de celulose, como base para a criação de nanomateriais capazes de otimizar a aplicação de herbicidas no campo.

A lignina é conhecida desde o século XIX, resultado do cozimento químico da madeira. Apesar de possuir características valiosas — como estabilidade química, resistência térmica, propriedades antioxidantes, ação antibacteriana e antifúngica, além de ser biodegradável — o composto nunca alcançou grande aproveitamento industrial.

De acordo com o Inmetro, menos de 2% da lignina produzida globalmente é utilizada, sendo o restante queimado ou descartado, mesmo com seu enorme potencial estratégico para diversas cadeias produtivas.

Uma virada tecnológica no uso da biomassa – resíduo da indústria de celulose – em herbicida

Foi diante desse cenário que os cientistas do INCT NanoAgro desenvolveram um método de fracionamento técnico da biomassa vegetal, capaz de gerar nanomateriais a partir das diferentes frações químicas da lignina Kraft. Esses nanomateriais funcionam como carreadores inteligentes de herbicidas, direcionando moléculas com mais eficiência para o interior das plantas daninhas, reduzindo perdas por deriva e minimizando a necessidade de aplicações elevadas.

A tecnologia já foi patenteada sob coordenação do professor Dr. Leonardo Fraceto, da Unesp Sorocaba, reforçando sua relevância como uma solução viável para o futuro da agricultura sustentável no Brasil e no mundo.

Economia circular: de resíduo a ferramenta agrícola

Um dos pontos mais inovadores da proposta é a capacidade de transformar um resíduo industrial abundante — e frequentemente desperdiçado — em um insumo de alto valor agregado. Como mais de 98% da lignina residual global é descartada, a tecnologia permite reinserir esse material em um ciclo produtivo sustentável, conectando setores como:

  • indústria papeleira
  • indústria química
  • agronegócio

Essa convergência fortalece a economia circular, reduz impactos ambientais e abre novas oportunidades de negócios associados ao aproveitamento de biomassa vegetal.

Menos petróleo, menos contaminação, mais eficiência contra ervas daninhas

O impacto ambiental também é expressivo. O uso de lignina como base para formulações nanoestruturadas reduz a dependência de insumos derivados de petróleo, alinhando a tecnologia às metas globais de descarbonização. Além disso, como o nanomaterial entrega o herbicida de forma mais direcionada, há diminuição do risco de:

  • contaminação de solo e água
  • dispersão acidental em áreas não alvo
  • acúmulo de resíduos químicos em sistemas produtivos

Em plena era da agricultura de alta intensidade, a solução contribui diretamente para a longevidade do solo e para práticas mais responsáveis de manejo de plantas daninhas, um dos maiores desafios do setor agrícola moderno.

Tecnologia escalável e estratégica para o Brasil

O Brasil, por ser potência global na produção de celulose, possui grande vantagem para escalar a tecnologia. A lignina Kraft é abundante no país, e a estrutura industrial já existente facilita a adaptação do processo, tornando o território brasileiro um candidato natural a referência mundial no desenvolvimento de insumos agrícolas sustentáveis com base em biomassa.

Segundo o professor Leonardo Fraceto, é fundamental comunicar à sociedade e às empresas como tais pesquisas podem gerar impacto real e se transformar em produtos que atendam às demandas do agronegócio moderno — um setor que exige competitividade, eficiência e soluções de baixo impacto ambiental.

A pesquisa do INCT NanoAgro demonstra, de forma prática, como ciência, inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas. Ao transformar um resíduo complexo em um recurso agrícola de alto desempenho, o projeto não apenas oferece uma alternativa eficiente ao combate de ervas daninhas, como também reposiciona o Brasil na vanguarda das biotecnologias aplicadas ao campo.

Trata-se de um marco que reforça o papel da pesquisa nacional em criar soluções para os desafios ambientais, produtivos e econômicos do agronegócio contemporâneo.

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