Atrasos no plantio de soja, chuvas irregulares e margens competitivas levam produtores a buscar culturas mais lucrativas e menos dependentes de água; esse é considerado um dos verões mais irregulares da última década
A irregularidade das chuvas no Centro-Oeste começou a dominar o planejamento da 2ª safra. Entre novembro e janeiro, diversas regiões registraram precipitações 20% a 45% abaixo da média histórica, segundo dados do Inmet. O MATOPIBA e parte de Mato Grosso do Sul foram os mais afetados, alternando veranicos longos com chuvas técnicas em curtos períodos.
O atraso no plantio da soja, com áreas entrando no campo até 20 dias depois do ideal, encolheu a janela operacional do milho, empurrando o início do plantio para momentos de maior risco hídrico. Em Mato Grosso, por exemplo, dados do IMEA mostram que a semeadura da segunda safra de milho deve avançar para após 25 de fevereiro em grande parte das regiões, justamente quando a curva de risco climático sobe.
O conjunto desses fatores levou muitos produtores a reconsiderar a dependência exclusiva do milho. A safra 23/24 já havia mostrado o impacto dessa substituição: prejuízos expressivos no milho safrinha em áreas plantadas tardiamente, tanto por seca quanto por calor extremo, com perdas superiores a 30% em alguns polos.
Estabilidade vale mais do que teto produtivo
Além do clima, a economia também pesou na balança. Com o preço do milho recuando entre R$ 8 e R$ 12 por saca em várias praças durante o primeiro trimestre, a conta ficou ainda mais emocionante. Muitos produtores perceberam que, em um ambiente de margens comprimidas, vale mais apostar em culturas que entregam ‘menos oscilações’ do que ‘picos produtivos incertos’.
Esse movimento abriu espaço para alternativas como o milheto granífero, que se destaca por sua menor exigência hídrica e alto índice de regularidade em anos adversos.
Menor risco climático
Com necessidade hídrica em torno de 300 mm por ciclo, o milheto tem se mostrado uma das culturas mais resultados da 2ª safra em anos marcados pela variação de chuvas. Na prática, consegue manter a produtividade mesmo com falhas de chuva, cenários observados em boa parte de Goiás, Mato Grosso do Sul e oeste da Bahia nesta temporada.
Os híbridos graníferos mais difundidos no mercado, como ADRG 9060 e ADRG 9070, apresentam produtividades de até 50 sc/ha, com áreas tecnificadas que ultrapassam esse número em condições desenvolvidas. Mas o ponto central não é o teto produtivo e sim a regularidade.
Enquanto o milho pode perder de 20% a 50% em ciclos com déficit hídrico, o milheto se mantém produtivo em ambientes de forte variação climática. E, em um ano de janela curta, essa previsibilidade pesa.
Outro fator que explica sua ascensão é a liquidez do grão. A indústria de rações, especialmente confinamentos e granjas do Centro-Oeste, ampliou sua demanda por milheto, com preços historicamente firmes e boa acessibilidade como ingrediente na formulação.
Palhada forte, retenção de umidade e menos nematóides
Além da produção de grãos, o milheto tem sido utilizado como ferramenta estratégica de manejo. A produção elevada de palhada contribui para: melhor infiltração e retenção de água, estruturação física do solo, redução de Pratylenchus brachyurus e maior proteção contra veranicos na implantação da soja.
Em áreas monitoradas de Cerrado, a soja implantada após milheto tem registrado ganhos entre 10 e 12 sc/ha em relação a áreas sem cobertura equivalente. Esse efeito sistêmico vem influenciando a decisão de produtores que enxergam o milheto como parte de uma estratégia de longo prazo, não apenas como substituto pontual do milho.
Consórcio com braquiária ganha força
O avanço da ILP também impulsionou o consórcio entre milheto e Brachiaria ruziziensis. Em regiões de solo leve e alta demanda por cobertura, essa combinação tem mostrado: formação acelerada de massa verde, maior longevidade da palhada, pasto mais rápido e aumento do transporte de matéria orgânica.
O milheto proporciona o arranque rápido; a braquiária prolonga a cobertura e fortalece o sistema radicular. Para muitas fazendas, esse consórcio tem reduzido custos de reforma de pastagens e ampliado a eficiência do sistema.
Em ano de risco, racionalidade pesa mais que tradição
Com clima incerto, janela curta e preços apertados, a 2ª safra 24/25 deve marcar um ano em que a diversificação dentro da propriedade volta a ganhar força. A busca pela resiliência, mais do que por recordes, define a tônica desta temporada.
O milheto granífero, antes periférico, agora se posiciona como cultura de risco reduzido, boa liquidez e benefícios agronômicos comprovados, características que combinam perfeitamente com o cenário atual do campo.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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