Milho a R$ 40 por saca reflete cenário internacional: o que vem pela frente?

Em algumas regiões do Centro-Oeste, os negócios têm sido fechados com valores bem abaixo da média de referência, enquanto granjas do Sul e Sudeste vêm pagando preços mais elevados. Nesse cenário, a safra norte-americana tende a intensificar ainda mais a pressão sobre o mercado

Nos Estados Unidos, principal produtor mundial de milho, a semeadura da safra avança para a reta final. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), 93% da área estimada já foi plantada, com 69% das lavouras avaliadas como boas ou excelentes em termos de qualidade.

Na última semana, o mercado internacional demonstrou um breve fôlego. Após um período de recuos consecutivos, os contratos futuros do milho registraram leve recuperação na Bolsa de Chicago, impulsionados por relatos de estiagem em regiões produtoras da China, o que gerou preocupação com a oferta global.

No Brasil, o movimento de recuperação também apareceu na B3, mas de forma limitada. O mercado físico, no entanto, segue travado. A cautela de produtores e empresas exportadoras predomina, enquanto a colheita da segunda safra ainda anda a passos lentos: apenas 0,8% da área foi colhida até agora, bem abaixo dos 3,7% registrados no mesmo período de 2024.

No mercado futuro, o contrato de julho de 2025 em Chicago encerrou a semana cotado a US$ 4,42 por bushel, leve queda de 0,23%. Já na B3, houve alta de 2,52% no mesmo contrato, que fechou em R$ 64,57 por saca.

Panorama da segunda safra e movimentações no mercado interno

Apesar de boas estimativas de produção para o milho safrinha — que variam entre 105 e 108 milhões de toneladas —, a demanda interna permanece fragilizada. A indústria de proteína animal, principal consumidora do grão, ainda lida com os impactos de embargos sanitários decorrentes de um caso isolado de gripe aviária registrado em Montenegro (RS). Embora haja expectativa de que o bloqueio ao estado gaúcho seja suspenso em breve, o Brasil segue com restrições comerciais impostas por cerca de 40 países.

As usinas de etanol também têm adotado uma postura mais contida. Com estoques altos e margens apertadas, essas unidades vêm adquirindo milho apenas conforme a necessidade imediata. O recente recuo nos preços dos combustíveis — influenciado pela paridade de importação adotada pela Petrobras e pela queda do petróleo — reduziu a competitividade do etanol frente à gasolina, limitando a disposição das usinas em pagar mais pelo grão.

Colheita avança e pressiona preços

No Centro-Oeste, a colheita do milho ganha ritmo, embora chuvas pontuais ainda causem atrasos localizados. A expectativa é de que os trabalhos se intensifiquem nas próximas semanas. Com o aumento da oferta, já se observam sinais de queda nos preços em algumas regiões. No norte de Mato Grosso, por exemplo — em cidades como Sorriso, Sinop e Itanhangá —, há registros de negócios fechados por menos de R$ 40 a saca, refletindo a pressão de mercado diante da oferta crescente e da dificuldade de alinhar os preços internos com a paridade de exportação (PPI).

Por outro lado, granjas localizadas no Sul e Sudeste do país têm pagado acima da referência de exportação. Isso demonstra que a demanda por milho por parte da indústria de proteína animal continua firme nessas regiões. Contudo, acordos comerciais recentes firmados entre os Estados Unidos e países asiáticos — importantes compradores do milho brasileiro — aumentam a competição no mercado externo, pressionando ainda mais os preços de exportação do produto nacional.

Perspectiva para os próximos dias

A entrada acelerada do milho no mercado, combinada com o comportamento conservador das usinas de etanol e a intensificação da concorrência internacional, cria um cenário desfavorável para os preços no curto prazo. Os produtores devem enfrentar uma semana marcada por cotações em baixa e com pouca margem para recuperação imediata.

Escrito por Compre Rural

VEJA MAIS:

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM