Milho: risco de aperto nos estoques dos EUA cresce e pode puxar preços em 2026

A revisão divulgada elevou a projeção de exportações em 125 milhões de bushels (3,2 milhões de toneladas) e reduziu os estoques finais para 2 bilhões de bushels.

São Paulo, 12 – O relatório mensal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado na terça-feira (9), trouxe um recado importante para o mercado de milho: os estoques americanos podem ficar mais apertados nos próximos meses. A revisão divulgada elevou a projeção de exportações em 125 milhões de bushels (3,2 milhões de toneladas) e reduziu os estoques finais para 2 bilhões de bushels (50,8 milhões de toneladas), levando a relação estoque-uso para 12,5%. Para o analista Craig Turner, da StoneX, esse movimento deixa o mercado sensível a qualquer ajuste na produtividade no relatório de janeiro. “Se o rendimento cair para 184 bushels por acre (11,6 toneladas por hectare) em janeiro, os estoques descem para algo perto de 1,6 bilhão de bushels (40,6 milhões de toneladas)”, afirmou em podcast da consultoria.

Segundo Turner, esse cenário seria suficiente para manter o milho americano negociado entre US$ 4,25 e US$ 4,75 por bushel, e abrir espaço para movimentos mais fortes caso a nova safra enfrente problemas climáticos. Ele ressaltou que essa faixa está de acordo com uma relação estoque-uso perto de 10%, nível historicamente associado a mercados mais firmes. “A partir daí, qualquer questão com clima pode trazer alta”, disse. Ele explicou que, para buscar preços próximos de US$ 5 por bushel, seria necessário rendimento abaixo de 184 bushels por acre ou sinais de aperto adicional na oferta ao longo do verão norte-americano.

Responsabilidade ambiental: pagando pelo erro dos outros

O fator área também pesa sobre a formação de preços em 2026. Turner destacou que o USDA projeta redução do plantio de milho dos atuais 98,7 milhões de acres (40 milhões de hectares) para cerca de 95 milhões de acres (38,4 milhões de hectares) na próxima safra. A diminuição de quatro milhões de acres, considerando produtividade tendencial de 182 bushels por acre (11,5 t/ha), representaria perda de mais de 700 milhões de bushels (17,8 milhões de toneladas) na produção potencial. Ele afirmou que, apenas com esse ajuste, os estoques poderiam recuar para algo entre 1,4 bilhão e 1,5 bilhão de bushels (35,6 a 38,1 milhões de toneladas). “É uma mudança grande no balanço”, disse.

Turner avaliou ainda que o milho terá de disputar espaço com a soja no próximo ciclo, especialmente se o acordo comercial entre Estados Unidos e China avançar e aumentar o interesse chinês pela oleaginosa. Mesmo assim, ele ponderou que o milho enfrenta concorrência do trigo nas rações e do farelo de soja, cuja oferta continua elevada devido ao ritmo forte de esmagamento. “Mesmo que o milho fique altista, é difícil romper patamares mais altos sem o trigo e a soja acompanharem”, afirmou. Ele disse, porém, que vê espaço para estratégias compradas no curto prazo. “Gosto de pensar em posições compradas entrando no relatório de janeiro e nos meses de primavera e verão, só no caso de haver problemas climáticos aqui nos Estados Unidos”, afirmou. Segundo ele, produtores que precisaram vender antecipadamente por falta de espaço de armazenagem devem ter oportunidade de realizar novas vendas a preços melhores adiante. “Você vai ter chance de vender mais alto”, disse.

No caso da soja, Turner observou que o USDA não alterou nenhum número no relatório de dezembro e deve concentrar eventuais revisões no documento de janeiro, quando o governo americano terá maior clareza sobre as compras efetivas da China. “É difícil para o USDA fazer uma avaliação agora do que está acontecendo entre os Estados Unidos e a China e seus acordos comerciais”, afirmou. Ele destacou que o mercado acompanha se os chineses vão atingir a meta anunciada de 12 milhões de toneladas em 2025 (equivalente a 420 a 430 milhões de bushels) e de 25 milhões de toneladas nos anos seguintes (aproximadamente 900 milhões de bushels). Até lá, Turner espera que a soja oscile. “Acho que vamos oscilar aqui por um tempo”, disse, citando operações de straddles como alternativas para períodos de baixa volatilidade.

No trigo, Turner classificou o relatório como neutro, embora a produção maior no Canadá, na Argentina e na Europa tenha elevado os estoques globais mais do que o esperado pelo mercado. Ele ressaltou que a situação segue confortável no curto prazo, mas chamou atenção para as projeções de plantio dos próximos anos. Se a área americana recuar para cerca de 44 milhões de acres, como indica o cenário de longo prazo do USDA, o país pode voltar a reduzir estoques de forma consistente, criando condições para um mercado mais equilibrado adiante.

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