Morte de gado por frio extremo traz alerta para perigo de hipotermia em rebanhos bovinos

Mais de 3.000 bovinos já morreram por frio em Mato Grosso do Sul em 2024; risco volta a crescer com chegada de nova frente fria e a morte de gado por frio extremo traz alerta

“O frio que congela ossos pode custar vidas — e na pecuária, ele cobra em cabeças de gado.” Com a chegada da primeira frente fria intensa de 2025 a Mato Grosso do Sul, produtores e autoridades acendem novamente o alerta para um dos efeitos mais letais do clima sobre o rebanho: a hipotermia bovina. A previsão aponta que os termômetros podem despencar até 0°C em regiões do estado, reacendendo o temor de perdas expressivas como as registradas nos últimos dois anos. Morte de gado por frio extremo traz alerta para perigo de hipotermia em rebanhos bovinos.

A partir de ontem, 27 de maio, o Brasil começou a sentir os efeitos da primeira grande onda de frio de 2025. Uma massa de ar polar de origem continental avançou sobre o país, provocando quedas acentuadas de temperatura em diversas regiões. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas para 12 estados, abrangendo o Sul, Sudeste, Centro-Oeste e partes do Norte, como Rondônia, Acre e sul do Amazonas. As temperaturas devem continuar caindo ao longo da semana, com previsão de geadas e até possibilidade de neve nas áreas serranas do Sul

O frio e a fisiologia bovina: quando o organismo não dá conta

Bovinos são animais homeotérmicos, ou seja, precisam manter a temperatura corporal constante — em torno de 38,5°C. Quando expostos a frio excessivo, o organismo ativa mecanismos naturais para conservar calor, como tremores musculares, vasoconstrição periférica e aumento do metabolismo basal. No entanto, sem alimentação energética suficiente, abrigo e manejo adequado, esses mecanismos falham, levando à hipotermia e, em muitos casos, à morte.

A situação se agrava em animais jovens, debilitados, idosos ou mal nutridos, que possuem menor capacidade de termorregulação. O frio também exige que o gado consuma mais energia apenas para se manter vivo, o que torna a suplementação alimentar estratégica vital durante o período.

Estatísticas que preocupam sobre a morte de gado por frio extremo

Segundo dados da Iagro, em 2024, mais de 3 mil bovinos morreram de frio em Mato Grosso do Sul, número superior às 2.725 mortes registradas em 2023. As ocorrências se concentraram em 38 casos notificados em 14 municípios, com destaque para cidades como Tacuru, Glória de Dourados e Iguatemi.

Além do impacto no bem-estar animal, as perdas refletem diretamente na economia das propriedades, com prejuízos que podem ultrapassar R$ 1 milhão em casos de lotes de corte ou genética de alto valor.

O que dizem os especialistas

A Iagro e o Cemtec/MS alertam que, além das baixas temperaturas, o risco está associado a falhas de manejo. Em nota técnica recente, a agência destacou que “a falta de abrigos, a ausência de nutrição energética e a não adaptação do rebanho ao clima frio são os principais gatilhos das mortes por hipotermia”.

A recomendação é que os produtores reforcem medidas como:

  • Instalação de abrigos ou quebra-ventos, como galpões, cercas de lona ou cortinas;
  • Aumento da suplementação energética, especialmente com fontes como milho, farelo de soja e rações proteicas;
  • Monitoramento veterinário constante para detectar sinais precoces de hipotermia (apatia, tremores, rigidez muscular);
  • Notificação obrigatória de mortes atípicas à Iagro.

Comparativo com outros países

O problema da hipotermia em bovinos não é exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, episódios de nevascas severas mataram mais de 10 mil cabeças de gado em 2017, no estado de Dakota do Sul. No Uruguai e na Argentina, países vizinhos com clima mais frio, o uso de infraestruturas adaptadas — como coberturas móveis e calefação em galpões — tem reduzido significativamente as perdas por baixas temperaturas. A adoção dessas tecnologias ainda é rara no Brasil, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Norte.

Um prejuízo que pode ser evitado

Além da perda animal, o impacto sanitário é grave: a decomposição de carcaças ao ar livre representa risco de contaminação de solos e cursos d’água, podendo comprometer a saúde de outros animais e até mesmo a reputação internacional da carne brasileira. Em um momento em que o país busca consolidar mercados exigentes como China, Emirados Árabes e Europa, cada vida animal perdida por falta de prevenção é também um ponto negativo para o setor exportador.

Com o clima se tornando cada vez mais imprevisível e extremo, o produtor rural precisa estar atento a riscos que vão além da seca e das enchentes. O frio mata — e o manejo adequado salva. A adoção de práticas simples, porém eficazes, pode ser a diferença entre um inverno seguro e um desastre na fazenda. O alerta está dado. Cabe ao setor agir com responsabilidade e agilidade.

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