Nematoides, a praga invisível da soja

Mais de 100 espécies de nematoides já foram associadas à soja no mundo. O que essa praga tem de tão impactante para a produção mundial?

Apenas quatro são motivo de maior preocupação para os sojicultores brasileiros: os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne spp.), o de cisto (Heterodera glycines), o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis). Neste espaço, discutiremos apenas os nematoides de galhas, dos quais duas espécies (Meloidogyne incognita e M. javanica) se destacam, por serem amplamente distribuídas pelas regiões sojícolas do País e pelos danos que podem provocar à cultura.

O ataque de Meloidogyne nas lavouras de soja é facilmente percebido arrancando as plantas e observando as deformações (galhas) nas raízes. Os sintomas na parte aérea nem sempre estão presentes. Quando ocorrem, manifestam-se em “reboleiras”, com plantas pequenas e com folhas exibindo manchas cloróticas ou necrose entre as nervuras (folha “carijó”). Em situação de déficit hídrico, pode haver intenso abortamento de flores e vagens. M. javanica ocorre de maneira generalizada pelas lavouras de soja do Brasil, enquanto que M. incognita está mais presente em áreas onde se cultivou extensivamente o café e o algodão, culturas multiplicadoras deste nematoide.

Infelizmente, uma vez constatada a presença de “reboleiras”, típicas da presença de nematoides de galha na lavoura de soja, tudo o que o produtor pode fazer é prevenir-se para a próxima safra. O primeiro passo é a coleta de raízes de plantas atacadas, que devem ser enviadas para laboratório especializado para identificação da espécie. A partir dessa identificação, traça-se um programa de controle, que deve integrar várias estratégias: rotação e ou sucessão de culturas com espécies vegetais resistentes ou hospedeiras desfavoráveis, o uso de cultivares de soja resistentes, a adoção de boas práticas de manejo do solo e da cultura, dentre outras. O uso de nematicidas (biológicos ou químicos) para o controle de nematoides em lavouras de soja tem-se mostrado inviável, dado o custo elevado dos produtos e a inconsistência dos resultados quanto à redução das populações desses vermes no solo e o ganho em produtividade da cultura.

Uma vez estabelecidos na lavoura, os nematoides de galha serão presença permanente. O que pode mudar é a quantidade deles na área, que pode ser reduzida ou aumentada em função das práticas culturais adotadas pelo produtor. Cuidado especial deve-se ter com a alternância de cultivos, de vez que a maioria das culturas multiplicam os nematoides de galha.

Milho após a soja em área infestada com M. javanica pode ser conveniente, pois existem no mercado híbridos e variedades resistentes a M. javanica, o que não ocorre com relação a M. incognita. As braquiárias, em geral, não multiplicam ambas as espécies de Meloidogyne, por isso a semeadura das mesmas após a soja é uma ótima opção. O inconveniente da utilização das braquiárias é que, se cultivadas sucessivamente na mesma área, elas podem elevar a população do nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) no solo. Para contornar o problema, deve-se alternar o cultivo de braquiárias com o de crotalárias, que não multiplicam P. brachyurus e nem as duas espécies de nematoide de galhas.

Plantas daninhas também podem ser multiplicadoras dos nematoides formadores de galha, como, por exemplo, guanxuma, capim pé de galinha, beldroega, caruru, mamona, as quais precisam ser combatidas para não incrementar o problema.

Em áreas infestadas com Meloidogyne, o agricultor deve optar pelo uso de cultivares resistentes, sempre que disponíveis. Mais de 100 cultivares de soja resistentes ou moderadamente resistentes a Meloidogyne estão disponíveis no mercado brasileiro, embora ainda exista carência de cultivares resistentes adaptadas para todas as regiões de cultivo.

Fonte: Embrapa

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