O Dr. House dos bichos entra em cena em série da Netflix; confira o trailer

Série da Netflix acompanha veterinário falido que, ao arrumar emprego em um pet shop de luxo, deixa de tratar animais de fazenda para servir petiscos premium a bichos mimados

A série “Animal” (Old Dog, New Tricks, no título internacional) é a nova comédia espanhola da Netflix que estreou em 3 de outubro de 2025. Protagonizada por Luis Zahera, a produção apresenta Antón, um veterinário rústico e de poucas palavras, que vive em uma pequena vila rural na Galícia.

Quando enfrenta dificuldades financeiras, ele se vê obrigado a abandonar sua rotina entre bois, ovelhas e porcos para trabalhar em um universo completamente diferente: uma loja de animais moderna e sofisticada, administrada por sua sobrinha, Uxía.

Ao longo de nove episódios, a série acompanha o choque entre dois mundos — o da veterinária tradicional, voltada para animais de produção e o sustento no campo, e o universo dos “pets humanizados”, cercado de mimos, terapias comportamentais e donos dispostos a gastar fortunas com seus bichinhos. O resultado é uma narrativa divertida, provocativa e por vezes crítica, que expõe o embate entre a simplicidade rural e o consumismo urbano.

No centro da trama está o conflito entre uma forma antiga de ver os animais — como parte de um ciclo de trabalho e sobrevivência — e a nova visão dos “pais de pet”, que tratam seus cães e gatos como verdadeiros filhos.

Antón, acostumado a ser pago com ovos ou queijos por seus serviços no campo, passa a lidar com clientes que pedem consultas por ansiedade canina, dietas especiais sem glúten para gatos e massagens terapêuticas para cachorros. Enquanto ele encara tudo isso com um olhar incrédulo e sarcasmo mordaz, sua sobrinha tenta mostrar que o mundo mudou — e que a veterinária moderna precisa lidar não apenas com os animais, mas com o emocional dos donos.

A comédia ganha força justamente nesse contraste. A cada episódio, Antón é confrontado por situações absurdas, exigências exageradas e dilemas éticos: até que ponto vale se adaptar ao mercado e aos caprichos dos clientes? É possível preservar a essência da profissão em meio à indústria dos afetos?

Essa tensão reflete um debate muito atual dentro da medicina veterinária. Cada vez mais, o veterinário contemporâneo precisa equilibrar conhecimento técnico, empatia e, muitas vezes, psicologia — não apenas para cuidar dos animais, mas também para lidar com os sentimentos e expectativas dos “pais de pet”.

Um Dr. House dos animais

Comparar Antón a Dr. House, o lendário médico rabugento da série americana, não é exagero. Ambos compartilham a mesma combinação explosiva: genialidade prática, franqueza brutal, desprezo por formalidades e um código ético inabalável — ainda que envolto em sarcasmo e mau humor.

Assim como House desafiava a burocracia hospitalar e os clichês da medicina moderna, Antón se rebela contra a superficialidade e o marketing da veterinária de pet shop. Ele não mede palavras para dizer que “animal é animal”, e não uma extensão do ego dos donos. Mas, aos poucos, sua convivência com o novo ambiente o obriga a rever certezas, encarar suas próprias contradições e até descobrir, a contragosto, um lado mais humano — ou seria mais “animal”?

A analogia também funciona porque ambos os personagens enfrentam dilemas morais complexos. Dr. House lutava entre salvar vidas e violar protocolos. Antón, por sua vez, luta para manter seus princípios diante das pressões comerciais, das aparências e das demandas emocionais do público moderno.

Se Dr. House era o médico que tratava os pacientes enquanto desprezava as emoções humanas, Antón é o veterinário que tenta curar animais enquanto desconfia das emoções humanas projetadas sobre eles.

Crítica social com sotaque espanhol

Mais do que uma comédia sobre um veterinário deslocado, Animal é também um retrato social da Espanha contemporânea — e, por extensão, de um mundo em transformação. A série expõe o abismo entre o campo e a cidade, entre o que é genuíno e o que é vendido como “bem-estar”, entre o cuidado real e o consumo simbólico.

A atuação de Luis Zahera é o ponto alto: ele equilibra com maestria a rudeza do homem do interior com uma sensibilidade escondida sob camadas de cinismo. A crítica internacional elogiou justamente essa nuance: o personagem é áspero, mas impossível de odiar. Segundo o site Decider, Zahera entrega “um rabugento adorável”, um protagonista que representa a resistência de uma geração que vê o mundo mudar depressa demais.

Já algumas análises apontam que, apesar de divertida, a série às vezes exagera nos estereótipos e tem ritmo irregular. Mas no conjunto, Animal é uma produção carismática, com humor afiado e uma mensagem relevante: ela fala sobre como a sociedade moderna trata os animais — e, sobretudo, o que isso diz sobre nós mesmos.


O novo sentido de “cuidar”

Em última instância, Animal é uma reflexão sobre o próprio ato de cuidar. Cuidar de um animal, hoje, é um gesto que mistura afeto, status, vaidade e identidade. E nesse novo contexto, o veterinário deixa de ser apenas um técnico e se torna também um mediador emocional — um terapeuta involuntário entre espécies.

Antón talvez nunca se sinta à vontade nesse papel, mas é justamente esse desconforto que o torna fascinante. Ele é o espelho do velho mundo tentando sobreviver ao novo — um “Dr. House dos bichos” que, com sarcasmo e humanidade, mostra que até os mais teimosos podem aprender novos truques.

Animal (Old Dog, New Tricks) já está disponível na Netflix em todo o mundo, e promete arrancar risadas, reflexões e, claro, algumas mordidas críticas sobre a forma como a sociedade moderna humaniza — e mercantiliza — o amor pelos animais.

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