Especialistas projetam alta para novembro e dezembro, mas alertam para um futuro desafiador e preços de reposição em disparada a partir de 2026.
O cenário para a pecuária de corte brasileira em 2025 é de lucratividade robusta, mas com nuvens carregadas no horizonte. O preço da arroba do boi gordo, após um primeiro semestre volátil, estabilizou-se em patamares historicamente elevados, sustentado pela demanda interna resiliente e pelas exportações recordes.
No entanto, uma prática que se intensificou desde 2024 – o envio massivo de fêmeas para o abate – acende um alerta amarelo no setor, com potencial para provocar uma explosão nos preços da reposição entre 2026 e 2027.
O ano de 2025 começou com os preços da arroba em alta, impulsionados pela entressafra e pela forte demanda internacional, especialmente da China. No primeiro trimestre, os patamares frequentemente superaram a marca psicológica de R$ 320,00/@ em alguns estados do Centro-Oeste, considerado o celeiro do boi no país.
“Tivemos um primeiro trimestre extremamente aquecido. A combinação de um rebanho um pouco mais ajustado, custos de produção ainda pressionados, mas estáveis, e a voracidade do mercado externo criaram um ambiente perfeito para preços firmes”, analisa a zootecnista e consultora de mercado, Dra. Ana Lúcia Mendes.
A partir do segundo trimestre, contudo, os preços entraram em um período de correção. A entressafra chegou ao fim, aumentando a oferta de animais terminados, e alguns embargos temporários em importadores menores criaram momentos de volatilidade. “Foi um ajuste necessário e saudável para o mercado. Os preços saíram do pico, mas se mantiveram em um patamar muito lucrativo para o pecuarista, oscilando entre R$ 290,00 e R$ 310,00/@ na maior parte do ano”, complementa Mendes. 
O dado mais preocupante, porém, não está no preço atual do boi gordo, mas na composição do rebanho que está indo para o abate. Dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e da Associação dos Frigoríficos (ABRAFRIGO) mostram que, desde o segundo semestre de 2024, a participação de fêmeas no abate total supera consistentemente a marca de 40%, chegando a picos de 43% em alguns meses de 2025. Historicamente, um percentual acima de 41% indica que o produtor está descapitalizando seu rebanho, sacrificando o futuro em prol do lucro imediato.
“O produtor está sendo racional do ponto de vista financeiro. Com a arroba alta e os custos controlados, o abate de fêmeas, que têm um rendimento menor, se torna viável. O problema é que estamos comendo o ‘capital de giro’ da pecuária. Cada vaca abatida é um bezerro a menos no campo em 2026 e 2027″, alerta o economista e analista de commodities, Carlos Eduardo Brant.
Brant projeta um cenário crítico para os próximos anos. “Se este ritmo de abate de fêmeas se mantiver, vamos ver uma escassez significativa de bezerros e animais para recria a partir do segundo semestre de 2026. A lei da oferta e demanda é implacável: com menos animais para reposição, o preço deles vai explodir. É perfeitamente plausível projetarmos um aumento de 30% a 40% no preço da reposição, o que vai comprimir violentamente a margem do produtor que não tem ciclo completo e pode, ironicamente, derrubar o preço do boi gordo no médio prazo, por inviabilizar a terminação”, prevê.

Enquanto a tempestade perfeita se forma para 2026, o curto prazo segue as regras sazonais conhecidas. Novembro é, historicamente, um mês de forte valorização da arroba do boi gordo. Os motivos são climáticos e de mercado.
“Com a chegada das chuvas regulares, o confinamento a pasto se torna mais viável, e muitos produtores seguraram animais esperando por esse momento para engordá-los. Isso contrai a oferta imediata no curto prazo. Além disso, os frigoríficos começam a se abastecer com mais vigor para atender à demanda das festas de fim de ano”, explica o analista de preços da Scot Consultoria, João Silva.
Silva comenta as expectativas para este novembro de 2025: “Esperamos uma valorização consistente ao longo do mês. Nossas projeções indicam que a arroba pode fechar novembro com alta de 5% a 8% em relação a outubro, podendo retestar a barreira dos R$ 320,00/@. O mercado está aquecido e o fluxo de animais está mais lento, o que sustenta a alta”. 
Apesar do otimismo para o final do ano, um fantasma ronda o setor: o risco de embargo. O Brasil é extremamente dependente das exportações, e qualquer problema sanitário ou político-diplomático que leve um grande importador, como a China, a suspender compras, teria um efeito devastador sobre os preços.
“Nosso mercado interno é resiliente, mas não absorve sozinho todo o volume que exportamos. Um embargo, mesmo que temporário, de um player importante, criaria um excesso de oferta instantâneo no mercado doméstico. Nesse cenário, uma queda de 15% a 20% no preço da arroba em poucas semanas não é improvável. É um risco que o pecuarista precisa ter em mente”, adverte Carlos Eduardo Brant.
Dezembro: festas de fim de ano e o fim do ciclo
Se novembro é a preparação, dezembro é a celebração. O último mês do ano é tradicionalmente marcado pelo aumento do consumo doméstico de carne bovina, impulsionado pelos festejos de Natal e Ano-Novo. Churrascos familiares e ceias mantêm a demanda aquecida, sustentando os preços em patamares elevados.
“Dezembro tende a ser um mês de preços firmes e volume movimentado. O pico de consumo das festas, somado ao fato de que muitos pecuaristas reduzem as vendas para aproveitar o recesso, cria um ambiente de preços estáveis e favoráveis. É o fechamento do ciclo anual com chave de ouro para a maioria”, finaliza a consultora Ana Lúcia Mendes.
O ano de 2025 se encaminha para um fechamento positivo para o pecuarista, com a alta sazonal de novembro e a demanda firme de dezembro garantindo boa rentabilidade. No entanto, os holofotes devem se voltar para os sinais de alerta.
O abate elevado de fêmeas é uma estratégia de curto prazo com consequências potencialmente graves para o médio prazo. A bonança de hoje pode estar semeando uma tempestade de custos e escassez para 2026 e 2027, exigindo dos produtores planejamento e gestão estratégica para navegar na montanha-russa de preços que se avista no horizonte.
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