O que o agronegócio brasileiro pode esperar de uma disputa comercial entre EUA e CHINA

Um grande turbulência começou no mercado internacional neste ano, quando o governo norte-americano declarou a intenção de elevar as tarifas comerciais de vários produtos importados da China.

Há uma lista com aproximadamente 1.300 produtos que podem ter sobretaxa nas tarifas de importação dos produtos originários do país asiático. O objetivo dos Estados Unidos é amenizar um déficit comercial com o parceiro chinês, que foi de mais de US$ 300 bilhões em 2017.

Em resposta, o governo chinês anunciou medidas tarifárias compensatórias aos produtos de origem norte-americana, caso os Estados Unidos levem adiante a imposição das restrições anunciadas ao comércio com o país.

Os produtos do agronegócio não são o foco principal da lista dos norte-americanos. Já no caso da lista chinesa, há relevante importância dos produtos agrícolas, principalmente no caso dos grãos. Alguns produtos, como etanol, carnes (principalmente a suína) e frutas, podem ser impactados negativamente pelas medidas anunciadas pelos dois países.

Restrições ao comércio tendem a gerar excedente do produto que sofreu a taxação no país exportador, o que pode, por sua vez, impactar negativamente os preços locais, e até mesmo afetar o nível de equilíbrio dos preços no mercado internacional. Além disso, criam a necessidade de o país escoar esse excesso de oferta para um novo destino.

Com isso, o Brasil, que é um dos maiores produtores e exportadores dos produtos do agronegócio, poderá também ter que encontrar novos destinos para seus produtos. Nesse entrevero entre os Estados Unidos e China, alguns produtos brasileiros podem ser beneficiados, como esperam, por exemplo, os agentes do complexo da soja. Não é claro, entretanto, qual o resultado final dos ajustes de curto prazo entre exportadores e importadores às restrições impostas ao livre funcionamento do mercado. Por exemplo, sob certas hipóteses, enquanto o Brasil poderia ganhar parte do mercado chinês antes servido pelos Estados Unidos, este país, agora com preço interno menor, poderia ganhar fatias do mercado europeu antes atendidas pelo Brasil, e até mesmo aumentar suas exportações ao País. Se as restrições se revelarem duradouras, ajustes de oferta e procura de mais longo prazo poderão ocorrer, elevando, ao final, os valores desses produtos.

Há alguns anos, o País passou por situação similar numa disputa comercial entre Rússia e os países da União Europeia. Em agosto de 2014, a Rússia decretou proibição às importações de produtos alimentícios (frutas, vegetais, laticínios e carnes) procedentes dos países da União Europeia. O embargo foi adotado como parte da resposta às sanções impostas contra a Rússia pela União Europeia e pelos EUA. Essa proibição à importação dos produtos europeus impactou diretamente as exportações do bloco econômico, que teve que destinar os excedentes de produção do mercado europeu para outros países, como se deu no caso da cebola para o Brasil.

A entrada do produto no mercado brasileiro deprimiu os preços da cebola no mercado doméstico a níveis inferiores aos custos de produção em alguns casos. Assim, os agentes do setor pressionaram o governo brasileiro a adotar medidas restritivas à entrada do produto no mercado brasileiro. O governo brasileiro, então, incluiu a cebola na Lista de Exceção à Tarifa Externa Comum (Letec), aumentando a alíquota de importação sobre os países que não compõem o Mercosul.

O caso da cebola mostra como essas medidas de restrição ao comércio internacional podem afetar diversos países, mesmo aqueles não envolvidos diretamente na disputa comercial. Pois o efeito de uma disputa entres países europeus mudou os preços de equilíbrio de mercado, afetou o setor produtivo de vários países produtores e alterou as relações de parcerias comerciais entre países não envolvidos diretamente no imbróglio, haja vista que a Argentina, nesse caso, também perdeu participação na importação da cebola para o Brasil. Ainda, o caso é uma pequena mostra dos impactos que podem vir à frente para outros setores como o de etanol, frutas e carnes.

Andréia Adami
Pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea
cepea@usp.br
Data de publicação: 07/05/2018

Fonte: CEPEA

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