“O saldo é negativo”, diz Ministro da Agricultura ao criticar Bolsonaro

“Por incrível que pareça, talvez o [setor] não enxergue, mas o saldo é negativo. Perda de credibilidade, imagem muito ruim no mercado internacional”, afirmou ele em entrevista.

O atual ministro da Agricultura e Pecuária, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) afirma que o saldo dos últimos quatro anos para o setor do agronegócio foi negativo, apesar de ruralistas terem apoiado majoritariamente a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

“Por incrível que pareça, talvez o [setor] não enxergue, mas o saldo é negativo. Perda de credibilidade, imagem muito ruim no mercado internacional. Ficou a sensação para o mundo do passa a boiada. Pode desmatar, pode queimar, pode destruir. Ficou aberta uma ferida no meio ambiente, que é o nosso maior ativo”, disse ele em entrevista à Folha.

Fávaro se aliou ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no início da campanha e foi um dos principais interlocutores do petista junto ao setor. Apesar de ter sido apresentado como cota do PSD, de Gilberto Kassab, para a sigla aderir à base do futuro governo, Lula já tinha decidido pela escolha do senador há mais de duas semanas.

O senador Carlos Fávaro foi nomeado neste domingo (1º) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro de estado da Agricultura e Pecuária. A cerimônia de posse aconteceu no Palácio do Planalto.

A transmissão de cargo ao ministro Carlos Fávaro será realizada nesta segunda-feira (2), às 15h. O evento será realizado no auditório da sede da Embrapa, com transmissão pelo canal do Mapa no Youtube.

Segundo o ministro, Lula irá abrir o mercado para o agronegócio no exterior e será o principal embaixador do Brasil.A China é prioridade, o mundo é prioridade. O maior embaixador do Brasil é o presidente Lula. Nós vamos revender o Brasil. Um Brasil equilibrado, sustentável, produtivo. Tenho certeza que isso vai gerar muitas oportunidades para os brasileiros.”

Carlos Henrique Baqueta Fávaro nasceu em Bela Vista do Paraíso (PR). É agropecuarista e Senador da República. Ingressou na vida política após anos de trabalho no agronegócio, onde tornou-se vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), em 2010, e presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Também presidiu a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Lucas do Rio Verde (Cooperbio Verde).

Entre 2015 e 2018, ocupou o cargo de vice-governador do estado de Mato Grosso. Em abril de 2016, foi nomeado secretário de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, cargo que ocupou até dezembro de 2017.

Em 2020 tomou posse do mandato como sSenador da República substituto até o resultado de eleição suplementar convocada pelo TRE-MT. Venceu a disputa e conquistou o cargo de Senador até 31 de janeiro de 2027.

“Trocou o presidente, a China sabe que pode confiar. É um presidente equilibrado e que vai tratar de boas relações. Quem vai colher os frutos disso é o povo brasileiro”

Carlos Fávaro, em entrevista.

Confira abaixo as respostas sobre alguns principais pontos sobre a próxima gestão

Quais serão as prioridades para a pasta a partir de 2023?

O Ministério da Agricultura, em termos de gestão, vem numa sucessiva escolha de ministros que fizeram com que o Brasil saísse no primeiro governo Lula com 70 a 80 milhões de toneladas e hoje chegar a 300 milhões de toneladas. Teve desmonte [no governo de Jair Bolsonaro], mas não da forma de pensar, estruturante. Teve por falta de recurso, por não ter recurso para atender a pesquisa desprestigiando a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]. Então, o foco principal é fazer essa reconstrução. Podemos investir na pesquisa e no treinamento do homem do campo, buscar a produção sustentável, a produção com carbono neutro.

Como foi a conversa entre o senhor e Lula na qual ele o convidou para ser ministro?

Foi uma conversa amigável. Estamos trabalhando desde a pré-campanha, fomos convidados para fazer a transição. Foi uma convivência muito amistosa, e chegou a naturalidade do apoio do nosso partido, já na aprovação da PEC da Transição, a nossa dedicação de um conjunto de pessoas externas em comum também do agronegócio, que tem acesso ao presidente Lula. Sei que tinham outros bons players que apoiaram Lula e que têm capacidade de tocar. Por isso eu fiquei ainda mais honrado de ser escolhido.

Qual foi o papel do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, nessa aproximação?

Foi uma conversa amigável. Estamos trabalhando desde a pré-campanha, fomos convidados para fazer a transição. Foi uma convivência muito amistosa, e chegou a naturalidade do apoio do nosso partido, já na aprovação da PEC da Transição, a nossa dedicação de um conjunto de pessoas externas em comum também do agronegócio, que tem acesso ao presidente Lula. Sei que tinham outros bons players que apoiaram Lula e que têm capacidade de tocar. Por isso eu fiquei ainda mais honrado de ser escolhido.

Qual foi o papel do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, nessa aproximação?

Ele foi muito importante. Desde a campanha quando estivemos com o presidente Lula, ele já escalou Alckmin para o plano de governo para o agronegócio e as agendas com agronegócio. Daí a gente vai afinando o convívio e participa junto discutindo projeto e vai chegando afinado. Tenho certeza que contei com o apoio dele.

Como dever ser a relação do senhor com Marina Silva, indicada ao Ministério do Meio Ambiente?

De reciprocidade. De que estamos do mesmo lado, não quero de jeito nenhum que o Brasil fique passando pelo vexame internacional de ser considerado um pária na diplomacia, na questão do meio ambiente. É uma vergonha. Eu sempre digo que o Brasil é um grande produtor de alimentos porque tem ativos importantes, gente vocacionada para lidar com a terra, máquinas de última geração, sementes de última geração, terras propicias para agricultura, mas nenhum desses ativos é mais importante que chuva, clima. Portanto, preservar meio ambiente, cumprir as regras ambientais. Além de abrir mercados internacionais, estamos garantindo a galinha dos ovos de ouro.

Como tentar reduzir a resistência dos ruralistas ao Lula?

Goste ou não goste do presidente Lula, seremos um governo de diálogo. Estamos com as portas abertas para conversar. A eleição acabou, a democracia é isso. Nós respeitamos ter outro candidato, outra escolha de um produtor, colocar a euforia para fora, suas paixões, criticar, ir para rua, financiar a campanha do adversário faz parte da democracia. Agora a eleição acabou, temos que vir para a racionalidade, Lula é o novo presidente e vamos trabalhar com ele para que as entidades estão dando sinais que já querem participar e pensam no avanço de políticas públicas e serão muito bem-vindas.

Quais são os planos do Ministério da Agricultura em relação à China?

A abertura de credenciamento de plantas frigoríficas e a ampliação das relações comerciais, tanto na compra de insumos para assegurar nossa produção como na venda da nossa produção. Temos mercados muito importantes para serem estabelecidos ainda com a China e temos que retomar a boa relação com a União Europeia, com a América Latina e com os Estados Unidos.

O Brasil sempre foi conhecido por uma diplomacia muito elogiada e hoje virou pária internacional. Mas o presidente Lula, só de ganhar as eleições, as coisas começam a mudar. Faz três ou quatro anos que não habilita nenhuma planta frigorífica para a China.

Claro, fruto da relação hostil com governo chinês. Mas aconteceu um novo presidente e, na semana passada, a China já comunicou a Agricultura pedindo uma lista de oito novas plantas para habilitação. Qual a diferença? Trocou o presidente, sabe que pode confiar, é um presidente equilibrado e que vai tratar boas relações e quem vai colher os frutos disso é o povo brasileiro.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM