O segredo do desenvolvimento: Por que a água é crucial para bezerras recém-nascidas?

O fim do mito da ‘dieta líquida suficiente’: estudos comprovam que a oferta estratégica de água para bezerras nas primeiras 24 horas é o verdadeiro gatilho para destravar o crescimento acelerado e a rentabilidade futura da propriedade

No complexo sistema de criação de gado leiteiro, o manejo nutricional nos primeiros dias de vida dita o futuro produtivo do animal. No entanto, um elemento vital é frequentemente subestimado pelos produtores: o fornecimento de água para bezerras. Existe um mito comum de que o leite ou o sucedido lácteo seriam suficientes para suprir a demanda hídrica, mas a ciência zootécnica prova o contrário.

A negligência nesse aspecto pode comprometer silenciosamente o crescimento, a saúde e a longevidade do rebanho. Siga a leitura e acompanhe o Compre Rural, qui você encontra informação de qualidade para fortalecer o campo!

A fisiologia e a demanda de água para bezerras

Ao nascer, a bezerra possui uma taxa metabólica elevadíssima. Aproximadamente 80% do seu peso corporal é composto por água. Embora esse percentual diminua conforme o animal deposita tecido adiposo (responsável por até 75% do ganho de peso nessa fase), a proporção de água no organismo permanece acima de 70% até os 40 dias de vida.

A necessidade de água para bezerras está diretamente atrelada ao consumo de matéria seca (MS). Um estudo histórico de Atkeson et al. (1934) estabeleceu que, antes do desmame, esses animais ingerem cerca de 7 litros de água para cada quilo de matéria seca consumida.

Além da nutrição, o fator ambiental é decisivo. Em situações de estresse térmico, o National Research Council (NRC, 2001) estima que as exigências energéticas de manutenção aumentam entre 20% e 30%. Sem acesso livre à água para termorregulação, o bem-estar e o desempenho zootécnico entram em colapso.

Quando iniciar o fornecimento de água?

A recomendação técnica é clara: a oferta de água potável deve começar nas primeiras 24 horas de vida.

Muitos produtores questionam essa necessidade, visto que o leite possui cerca de 87% de água. O problema reside na fisiologia digestiva. Devido ao reflexo da goteira esofágica, o leite ingerido vai direto para o abomaso, não entrando em contato com o rúmen.

Para que a bezerra transicione de um animal funcionalmente monogástrico para um ruminante eficiente, o rúmen precisa se desenvolver. A água para bezerras, quando ingerida livremente, vai direto para o rúmen, onde cria o ambiente aquoso necessário para:

  1. O crescimento da microbiota ruminal;
  2. A fermentação dos alimentos sólidos;
  3. O desenvolvimento das papilas ruminais.

Sem água no rúmen, não há digestão eficiente de concentrados e forragens, atrasando o desenvolvimento do animal.

Impacto no consumo de sólidos e ganho de peso

A correlação entre hidratação e ganho de peso é suportada por décadas de pesquisa. Estudos conduzidos por Kertz et al. (1984, 2022) demonstraram que a restrição de água para bezerras nas primeiras quatro semanas resultou em uma queda de 31% no consumo de concentrado e uma redução de 38% no ganho de peso corporal.

Por outro lado, animais com acesso ad libitum (à vontade) apresentaram:

  • Maior consumo de leite (+300g/dia);
  • Melhor estatura e comprimento corporal;
  • Maior eficiência alimentar até os 5 meses de idade.

Além disso, a ingestão hídrica melhora a digestibilidade das fibras (FDN e FDA), permitindo que o animal aproveite melhor os nutrientes da ração inicial e das silagens pós-desmame.

Saúde, bem-estar e qualidade da água

O fornecimento adequado não é apenas nutricional, é preventivo. A água para bezerras atua como um recurso vital em quadros de diarreia neonatal, onde a desidratação é a principal causa de mortalidade. Animais hidratados recuperam-se mais rápido e mantêm um comportamento ingestivo mais ativo, embora a terapia com soro oral continue sendo indispensável nesses casos.

Contudo, a disponibilidade não basta; a qualidade é imperativa. A água deve estar livre de contaminantes físicos, químicos e microbiológicos que possam afetar a palatabilidade ou a saúde intestinal. Monitorar parâmetros de qualidade semestralmente é uma prática recomendada para garantir o “Padrão Ouro” na criação.

Boas práticas no manejo de água para bezerras

Para maximizar os resultados, o manejo deve seguir critérios rigorosos de higiene e ambiência:

  • Higiene Diária: Bebedouros devem ser limpos todos os dias para evitar biofilme e restos de ração.
  • Posicionamento Estratégico: Os bebedouros devem estar fisicamente separados dos cochos de ração. Isso evita que a bezerra molhe o concentrado, o que causaria fermentação indesejada e rejeição do alimento sólido.
  • Acessibilidade: A altura e o modelo dos bebedouros devem ser compatíveis com o tamanho dos animais jovens.

A água é o nutriente mais barato e, paradoxalmente, o mais crítico na fase inicial da vida. O fornecimento de água para bezerras não é uma opção de manejo, mas um pré-requisito zootécnico.

Como evidenciado pela “100-Year Review” do Journal of Dairy Science, sem água de qualidade, não há desenvolvimento ruminal pleno nem eficiência econômica. Garantir acesso irrestrito desde o primeiro dia é investir diretamente na precocidade e na produtividade futura do rebanho leiteiro.

Escrito por Compre Rural

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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