Octogenário desafia ciência e cita erro grave no balanço de carbono

“A pecuária pode ser a solução para os gases do efeito estufa; atividade tem uma neutralidade no balanço do carbono devido à captação para a própria formação das pastagens”, diz Sr. Arno Schneider

Enquanto de um lado existe o caloroso debate sobre consciência ambiental e apontamentos de quais setores econômicos mais emitem gases de efeito estufa, a pecuária além de dar exemplo de como mitigar essas emissões de gases, aponta que praticamente todo metano emitido pela atividade é consumido no próprio ciclo dela.

No auge dos seus 80 anos o engenheiro agrônomo e pecuarista, Arno Schneider, acredita que os 2.500 cientistas que participam do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU) estão calculando equivocadamente as emissões de metano da pecuária e ‘jogando toda culpa’ no setor.

Sr - Arno Schneider - pecuaria no mato grosso
Foto: Marcio Peruchi / CompreRural

Segundo ele, são feitas comparações com outras atividades que emitem gases de efeito estufa em toda a sua cadeia de produção, como é o caso do petróleo. É divulgado que a bovinocultura emite quase tanto metano quanto os combustíveis fósseis utilizados no mundo pelos veículos, porém, o carbono emitido pelos combustíveis fósseis passou pela extração, pela refinaria, pela indústria siderúrgica que montam os veículos, ou seja, uma série de etapas que somam as emissões de dióxido de carbono (CO² ), mais conhecido como gás carbônico.

“Aquele carbono que estava guardado no subsolo vai 100% para a atmosfera, assim como todos os gases produzidos durante as etapas. Outro fator importante é que o CO² permanece de 500 a mil anos na atmosfera, ou seja, o gás carbônico emitido por aquele primeiro automóvel construído pelo Ford continua na atmosfera, já o metano fica de 10 a 12 anos na atmosfera”, explicou Schneider.

O engenheiro agrônomo esclarece também outro ponto crucial na diferença entre os gases emitidos pela pecuária: a atividade consome praticamente tudo o que emite, já que a pastagem na sua formação capta gás carbônico da atmosfera.

“O que é feito é um comparativo por cima, já que o metano polui 25 vezes mais que o CO², sem analisar a fundo para entender. Na pecuária sempre existe a compensação. De onde vem o CO² que o boi emitiu? Da atmosfera, a pastagem pega o CO², o boi se alimenta, fermentou no rumem e virou metano e se tornou novamente CO², mais é o mesmo que a pastagem havia tirado. Então podemos dizer que pecuária de corte tem uma neutralidade no balanço do carbono, não nas emissões, mas no balanço do carbono”, enfatizou.

Segundo Schneider alguns indicadores de poluição são elaborados erroneamente, como exemplo ele cita o índice de pegada de carbono da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a métrica GWP100 orientada pelo painel do clima da ONU que considera que todos os gases emitidos na atmosfera ficaram por 100 anos, o que não é o caso.

“Se um setor econômico só emite dióxido de carbono está tudo certo, mas em cima da pecuária não é assim porque o grosso são metanos e vai ser capturado novamente. O que os órgãos de pesquisa fazem? O equivalente ao CO²… como se fosse um denominador comum para facilitar as contas, como se tudo fosse durar 100 anos na atmosfera… aí a conta sai errada…”, destacou.

Outro ponto que revela como a pecuária bovina pode ser ambientalmente correta é o fato de ser uma atividade que pode amortizar a emissão de CO² com o avanço de novas tecnológicas, como a redução do tempo do abate do animal: quanto menor a idade do animal menor será a quantidade de metano emitida.

Segundo o pecuarista uma série de novas tecnologias auxilia a atividade agrícola a ser cada vez mais lucrativa e ambientalmente correta. Pastagens desenvolvidas com melhor qualidade, sementes, o próprio modelo econômico da atividade que pode ser confinamento ou silvipastoril.

Projeto Agrossilvipastoril do Sr. Arno / Foto: Marcio Peruchi / CompreRural

“O agro geral brasileiro não precisa do desmatamento da Amazônia, eu acredito até que se beneficiaria com o estancamento deste desmatamento, e daria uma imagem muito melhor para o Brasil no exterior, existem muitas maneiras de você incrementar uma produção com sustentabilidade na Amazônia sem precisar desmatar”, realçou.

“Podemos evoluir economicamente tendo ganhos ambientais, mas para isso basta vontade. Com a minha idade saiu todos os dias com uma fita métrica medindo os caules das árvores, isso me da prazer”, destacou.

Quem é Arno Schneider?

Sr - Arno Schneider - pecuaria no mato grosso
Foto: Marcio Peruchi / CompreRural

Pioneirismo – Nas paredes da casa da fazenda, as fotografias mostram um passado de muito pioneirismo por parte da família de Arno Schneider, que se despediu do Sul em busca da realização de um sonho. Isso, no início da década de 1970. A propriedade rural localizada no município de Santo Antônio do Leverger, interior de Mato Grosso, conta com 1,2 mil hectares de pastagens (além das 2 mil cabeças de bovinos) e exuberante plantação de árvores Teca, de alto valor comercial no mercado madeireiro. O engenheiro agrônomo é considerado um dos pioneiros no plantio de teca integrada com pecuária.

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