Ação conjunta da PF, MPF, Mapa, Seapi e Cidasc busca desarticular esquema milionário de contrabando de gado em território brasileiro, colocando em risco a sanidade animal e o setor produtivo.
A segurança sanitária do rebanho brasileiro voltou ao centro do debate nesta terça-feira (02/12), quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Manada, investigação que mira um esquema sofisticado de contrabando de gado trazido ilegalmente do Uruguai para o Brasil. A ação teve apoio direto do Ministério Público Federal, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e da Cidasc, reforçando uma mobilização interinstitucional para proteger o agronegócio gaúcho e catarinense.
Segundo a PF, o objetivo central da operação é desarticular um grupo criminoso altamente organizado, especializado na entrada irregular de animais no país — prática que não apenas viola normas fiscais e sanitárias, mas também coloca em risco toda a cadeia pecuária nacional, sobretudo em regiões que dependem da manutenção do status sanitário para exportação.
A Operação Manada mobilizou equipes simultaneamente em três cidades estratégicas para a investigação: Veranópolis e Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e Água Doce, em Santa Catarina. Ao longo do dia, foram cumpridos sete mandados de prisão preventiva e 11 mandados de busca e apreensão, conforme autorizado pela Justiça.
Essas localidades, especialmente Santana do Livramento — fronteira direta com o Uruguai —, são consideradas pontos sensíveis para o trânsito irregular de animais. A logística da quadrilha, segundo os investigadores, se aproveitava da alta rotatividade de cargas e das rotas rurais para mascarar a origem dos bovinos.
O ponto de partida para o inquérito policial surgiu de uma fiscalização realizada pela Inspetoria de Defesa Agropecuária de Veranópolis/RS, vinculada à Seapi. Durante a vistoria em uma propriedade rural, fiscais estaduais identificaram inconsistências que levantaram suspeitas quanto à origem dos animais, indicando possível fraude documental e movimentação irregular.
A partir desse achado, a Polícia Federal aprofundou as investigações, revelando conexões com uma organização criminosa que, segundo a PF, atuava de maneira estruturada para regularizar bovinos contrabandeados, inserindo-os no mercado formal como se fossem de origem nacional.
A nota oficial divulgada pela Assessoria de Comunicação Social da Polícia Federal em Caxias do Sul aponta que os investigados poderão responder por uma longa lista de crimes, refletindo a complexidade do esquema desarticulado. Entre eles estão:
- Contrabando
- Crimes contra o meio ambiente
- Infração de medida sanitária preventiva
- Falsidade ideológica
- Uso de documento falso
- Crimes contra o sistema financeiro nacional
- Lavagem de dinheiro
- Associação criminosa
- Organização criminosa
A diversidade dos enquadramentos penais demonstra que o esquema não se limitava à mera entrada irregular de bovinos, mas envolvia uma cadeia de falsificação, ocultação de patrimônio e possível impacto direto na saúde animal e pública.
O contrabando de animais é considerado uma das práticas mais arriscadas para a defesa agropecuária brasileira, já que pode introduzir doenças exóticas, comprometer programas sanitários e gerar impactos bilionários ao setor. Estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que ostentam status sanitários rigorosos — inclusive reconhecimento internacional de áreas livres de febre aftosa sem vacinação —, dependem da rastreabilidade e do controle rigoroso do trânsito animal para manter mercados internos e externos abertos.
A participação da Seapi e da Cidasc reforça o papel vital das secretarias estaduais na prevenção de irregularidades que ameaçam produtores, exportadores e a economia regional.
A operação de hoje sinaliza uma postura mais firme das autoridades federais e estaduais no combate ao crime organizado que atua no campo. O foco não é apenas punir, mas proteger a integridade da cadeia pecuária, garantir competitividade ao produtor que cumpre a lei e manter a credibilidade do Brasil nos mercados internacionais.
Para o agronegócio, a mensagem é clara: não há espaço para práticas que coloquem em risco a sanidade animal e a segurança alimentar do país. A Operação Manada ainda deve trazer novos desdobramentos à medida que a análise de documentos, dispositivos apreendidos e movimentações financeiras avance.
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